Por EDUARDO CRUZ
Os
amiguinhos das antigas vão se lembrar do filme a que me refiro, um sucesso dos
fins de noite no domingo maior, quando ainda éramos moleques e já tinha passado
da hora de dormir, mas nossa teimosia em permanecer acordado nos brindou com essa pérola. A
influência desse filme ainda é percebida até hoje pelos mais novos em algumas
produções e The Warriors, conhecido aqui como "Selvagens da noite" acabou virando um filme cult, mesmo que as pessoas insistam em só lembrar de
“Laranja Mecânica” como maior expoente do gênero....
O
filme, objeto de culto, é sobre um grande encontro de gangues que dá errado, com
a culpa recaindo sobre um pequeno grupo, a gangue dos Guerreiros, oriundo de
Coney Island, e todo o perrengue que esse grupo de coitados tem que passar para
atravessar a cidade e voltar para casa inteiros, com todas as gangues de NY
atrás deles. Um filme de Walter Hill, baseado no livro do escritor Sol Yurick,
que por sua vez se inspirou no texto “Anábase”, do historiador grego Xenofonte.
Mas
não vou usar esse espaço para escrever um texto a respeito do filme ou do livro
dos Warriors. Nosso outro zelador da Zona Negativa, Ricardo C., já fez isso neste texto, ameaçando com garrafadas e correntes qualquer infeliz que ousasse fazer isso antes dele aqui na redação da Zona. Não quero esgotar
o assunto, e sim apontar uma direção, que apesar de subjetiva e
meramente especulativa de minha parte, foi bem divertido de imaginar e rendeu
boas discussões entre nós aqui da Zona.
Após
tantos anos assistindo “The Warriors” sucessivamente (esse é um daqueles filmes
que não consigo ficar sem assistir pelo menos duas vezes por ano, tão divertido
e bem executado que ele é), seria de se esperar que um filme de 1979, revisto
tantas vezes não guardasse mais nenhuma surpresa, nem desse margem a mais
nenhuma interpretação que já não tenha sido feita antes nos últimos 37 anos.
Contudo, porém, todavia e entretanto, às vezes a mente trabalha sozinha, involuntária aos nossos atos
conscientes, sem nunca parar, concatenando fatos, trívias, pequenos fragmentos
de informações, cozinhando um caldo que às vezes transborda e nos obriga a
derramá-lo sobre os outros heheheh.....
Minha
extrapolação, a teoria que tem pulado feito uma pulga dentro da minha cachola após
assistir ao filme pela 16.539ª vez é a seguinte: Luther, o membro da gangue dos Rogues que
atirou no Cyrus pelo motivo mais gratuito possível, e responsável direto pela tempestade
de merda que os Warriors tiveram que enfrentar durante toda uma noite, trabalharia
para o governo do EUA! da CIA ou NSA, ou qualquer outra agência governamental maligna que vocês queiram ou possam imaginar heheh...
Observemos o contexto histórico de “The Warriors”: os movimentos pelos direitos civis, a ascensão do movimento de contracultura, a ressaca pós Vietnã e o
escândalo do caso Watergate. É notório que na vida real o governo norte americano
infiltrou agentes em várias movimentos e grupos da sociedade estadunindense,
como no partido dos panteras negras, por exemplo, a fim de detectar e se necessário, abafar
possíveis insurreições e revoltas sociais dentro de seu próprio território. Enfim,
a boa e velha paranóia do complexo industrial militar, utilizando o dinheiro
dos impostos dos cidadãos como melhor lhes convém para a manutenção do status
quo....
Logo,
através de um trabalho de inteligência, a agência que estaria cuidando disso,
fosse qual fosse, ficaria ciente de uma mega reunião de gangues no Bronx, arquitetada
pelo líder de uma delas, um líder extremamente carismático, e portanto perigoso
para o sistema, visto que até ali ele havia sido bem sucedido em convocar e
reunir em um mesmo local diversas gangues, algumas com sérias rivalidades
geradas e nutridas ao longo dos anos entre si, com uma proposta de unificação
absoluta. A polícia não teria chance, o crime organizado não teria chance, e em
última instância o governo não teria chance, caso a idéia de Cyrus se
propagasse pela América afora.
Esta
mesma agência governamental teria acionado seu contato local, Luther, que tem
sua "Gangue" (na verdade, um bando de perdidos apatetados que foram
cooptados para acreditar que são integrantes de uma gangue verdadeira?), os
Rogues. Atentos a este possível levante
contra o sistema, por parte do tal Cyrus, enviam seu agente para “tratar a
ocorrência”, no melhor estilo Kennedy. Temerosos com esse incipiente golpe de estado, concluíram que um assassinato
resolveria tudo. Afinal, depois que você faz isso até com um presidente, o
resto é fácil. Em seguida, bastava incluir um bode expiatório (os desafortunados
Guerreiros) na equação, e justificar pra sua gangue de doidões que estariam
fazendo isso pra ver o circo pegar fogo, porque, como ele mesmo diz: "I
like doin’ stuff like that! (Eu gosto de fazer coisas assim!)". Semelhante a um assassinato político para desestabilizar uma republiqueta de
bananas, mas em nível doméstico e urbano. O modus operandi da CIA, disfarçado
como “mais uma ocorrência policial em NY”.
“Warriors, come out and play with uncle Sam!” |
Para
reforçar a tese, revendo a cena em que Luther liga pra alguém e fala um tanto
irônico sobre o "acidente" no Bronx com Cyrus, podemos enxergar esta cena como uma conversa encriptada: na realidade ali Luther estaria
se reportando a seus superiores em Langley (CIA) ou em até mesmo em Washington
(NSA), no melhor estilo de filmes de espião, através de frases-código e
palavras chave, informando que cumpriu sua missão a contento.
Arô! É da puliça? |
Infiltrar
agentes dos poderes em exercício entre revoltosos é uma estratégia comum para
minar manifestações populares, como pudemos ver nas manifestações populares de 2013 (aquelas em que o gigante acordou, levantou, foi dar uma mijada e dormiu
de novo), onde (alegadamente) infiltrados descoordenaram qualquer ação de
protesto e inclusive as invalidaram, utilizando de violência, minando o levante
popular. Esse método truculento também é visto no especial “Democracia”, da Juiz Dredd Megazine, lançado em 2014. O bom e velho “Dividir e conquistar”.
Nunca falha.
Para
mim, faz todo sentido e leva a história em uma direção diferente sem perder
nada do que foi mostrado no enredo, nem entrar em conflito. Foi o que eu, (e
outros para quem expus esse delírio) achei mais interessante.
Ô LOCO!! É ESSA FERA AÍ, BICHO!!! |
Talvez
minha imaginação tenha se excedido dessa forma justamente por ter certas partes
da trama tão em aberto, que acabei preenchendo-as assim "na minha cronologia pessoal" rs ;>). Sempre
me incomodou um pouco o fato de Luther executar Cyrus apenas porque sim. O que
os rogues ganhariam com isso? Ah, então ele é psicopata? Acho isso meio batido.
Fico mais contente com essa tese que brotou para enriquecer uma trama que por
si só já é excelente. Me deixem com meus delírios hehehe.
Eu sei, eu sei, é uma
teoria meio Fox Mulder, em que os verdadeiros vilões são sempre eles: O sistemão, the Man, us hômi! Mas se for parar pra analisar
que desde sua criação, agências governamentais como CIA e a NSA (e outras mundo afora, mas aqui estamos em NY!) foram
responsáveis por planos até mais esdrúxulos do que minha teoria, vide as
tentativas de assassinato de Fidel Castro que beiram o cômico. Assim fica
fácil usar a suspensão de descrença, e o mais bacana: com base em eventos que
ocorreram de fato no mundo real, para apreciar mais uma camada oculta em um
filme que já é excelente por si só.
Queria dividir essa teoria
aqui na Zona.
Reflitam. Comentem,
expandam, me mostrem os furos no raciocínio, me xinguem, me paguem um chope pra
gente conversar mais um pouco a respeito. Como eu disse, é apenas uma teoria
minha. Não existe nada oficial nesse sentido sequer implícito na história
original, é apenas um delírio alimentado pelo plot básico do filme,
confrontado com o contexto da época.
“Vocês... SACARAM???” |
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