quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

THE WICKED + THE DIVINE, de Kieron Gillen e Jamie McKelvie, ou "Em nome da Minaj, do Bieber e do cínico Kanye, Amém!"







Por EDUARDO CRUZ



"A cada noventa anos, aproximadamente, doze deuses reencarnam no corpo de jovens adultos. Eles são carismáticos, perspicazes e atraem grandes multidões. São capazes de levar qualquer um ao êxtase. Há rumores de que podem realizar milagres. Eles salvam vidas, seja metafórica ou concretamente. Eles são amados. Eles são odiados. Eles são incríveis. E em menos de dois anos estarão todos mortos. Isso já aconteceu uma vez. E vai acontecer de novo..."


Então vamos lá... UM, DOIS, TRÊS, QUATRO!



Um estalo de dedos e estou de volta, digitando e pesquisando em livros grandes e empoeirados sobre divindades obscuras, mesmo com esse gesso de 5kg no braço. Um chamado divino (só não sei qual deus ao certo rs) me fez sair do repouso e escrever sobre essa série fantástica, que de 2014 pra cá já ganhou um British Comics Award e foi indicada para três Eisners! O selo Geektopia, da editora Novo Século, acaba de lançar o primeiro encadernado por aqui, com o arco inicial da série, contendo as 5 primeiras edições de The WicDiv, que lá fora é publicada pela Image, que seria uma espécie de Vertigo renascida e mais forte, feroz e inteligente. A encarnação anterior da Vertigo continua na DC Comics e respirando com a ajuda de aparelhos, sem demonstrar melhoria em seu quadro até o fechamento desse post.

Da esquerda para a direita: A deusa Amaterasu, a protagonista Laura e Lúcifer, o demônio judaico cristão, a estrela da manhã, o adversário, o caluniador, a serpente, o pai da mentira...

Andy Warhol profetizou que no futuro, todos teríamos nossos quinze minutos de fama, uma notoriedade fugaz, notoriedade essa que vemos muitas pessoas desfrutando sem realmente aparentar talento para nada além do próprio talento de estar sempre presente nos meios de comunicação em massa, nas redes sociais e nos trend topics do Twitter. Era de se esperar que após duas gerações vivendo sob essa condição estabelecida nos últimos anos do século XX, isso evoluiria para um estado de fetichização tão grande que hoje em dia a molecada quer ser famosa. Pelo quê exatamente, não importa. Ponto. Porque essa colocação? achei importante contextualizar esse estado de coisas antes de começar a falar da HQ. Sigamos.



De autoria da mesma equipe criativa de "Phonogram", o roteirista Kieron Gillen e o artista Jamie McKelvie, em The WicDiv seguimos os passos de Laura, uma jovem do sul de Londres. Laura é fã de um desses deuses reencarnados, Amaterasu. Em uma apresentação de Amaterasu, Laura entra em êxtase, e ao despertar, conhece Lúcifer (esse mesmo! mas em um corpo feminino) e é convidada a ir aos bastidores do show da deusa. Ali, acontecimentos dramáticos ligam sua vida ao Panteão, o grupo de jovens que subitamente se tornaram avatares vivos de deuses e vivem uma vida badalada de fama e poder (no sentido literal e metafísico mesmo!), alçando status de ídolos pop, com multidões de fãs, amados, idolatrados e também odiados, tudo isso com data para acabar: em dois anos todos eles estarão mortos, para em noventa anos reiniciarem este ciclo, no que é conhecido como "A Recorrência". Através do olhos de Laura, passamos a conhecer algumas dessas divindades do panteão à medida que a história avança para sua conclusão (sim, o autor vai cobrir esse período de dois anos da Recorrência atual e a série está caminhando para a edição 30; Gillen já afirmou que a série vai fechar até no máximo a edição 60, ou sejE, lá fora The WicDiv já está praticamente na metade). Porém, como ainda só li este primeiro encadernado, só vou falar inicialmente das divindades do panteão que dão as caras nesses arco inicial. Não são deuses óbvios como Thor, Zeus ou Shiva. Gillen usa deuses mais obscuros em sua narrativa, o que provoca no leitor um pequeno comichão para fazer uma pesquisa mais profunda. Pra mim, que sempre curti mitologia, foi uma diversão extra além da HQ. São eles(as):



  • Ananke - Não exatamente uma deusa, mas uma entidade poderosa e antiga, responsável pela manutenção das recorrências do Panteão através dos séculos. Demonstra afeto e uma ligação íntima com todos eles.























  • Amaterasu - Anteriormente a inglesa Hazel Greenaway, foi revelada por Ananke como sendo a deusa xintoísta do universo e da luz. Seu símbolo no panteão é o desenho de um sol, a personagem é baseada na cantora Florence Welch, vocalista da banda Florence + The Machine, e Stevie Nicks, do Fleetwood Mac.








    • Baal - Baseado no deus semítico das tempestades, Baal-Hadad. Baal é bissexual e já teve um caso com Inanna, até ele o trair com Lúcifer,. Seu estilo é baeado em astros do R&B, como P. Diddy e Kanye West. Seu símblo no panteão é um bode.











    • Baphomet - Bafomet já conhecia a deusa Morrígan antes da revelação de sua divindade, tendo com ela uma relação conturbada de amor. A inspiração para o personagem vem de MorriseyAndrew Eldritch (do Sisters of Mercy) e Nick Cave. Seu símbolo é o bode com duas espadas. 











    • Inanna - Apesar de Inanna ser a deusa suméria do amor, do erotismo, da paixão, é representada, na série por um rapaz bissexual que tem a estrela de oito pontas como símbolo. Baseado no artista andrógino Prince, Inanna é extravagante em suas roupas, mas tem uma das melhores personalidades do Panteão.


















    • Minerva -  A membro mais nova do Panteão, tem 12 anos e representa a deusa romana da inteligência e astúcia. Tem uma coruja robô que sempre a segue e esse animal é seu símbolo (só consigo lembrar da coruja de "Fúria de Titãs" heheh) . Sua jaqueta nos remete aos Beatles, My Chemical Romance, e no Queen. Sim, me recuso a falar do Coldplay rs.












    • Morrígan - Uma divindade tríplice, aparece em 3 formas: Macha, Badb e Annie. Tem como símbolo uma caveira com máscara de corvo, ela pode curar pessoas e controlar corvos, é um espírito celta que representa a batalha, luta e soberania. É apaixonada por Bafomet e é insirada em Patti SmithSiouxsie SiouxSinéad O'ConnorKate Bush.












    • Sakhmet - A deusa leoa egípcia era uma furiosa guerreira do exército do deus sol Rá. Baseada em Rihanna, ela se comporta como um gato a maior parte do tempo. Seu símbolo é uma leoa.










    • Wōden - Representando o rei da mitologia Nórdica, Odin, Woden sempre está acompanhado de seu séquito de Valquírias. Ele consegue dar poderes a elas e seu estilo é baseado na dupla do Daft Punk.













    • Tara - Não se sabe de qual mitologia Tara vem, mas a budista é a principal opção. Tara é odiada pela maior parte dos fãs do Panteão e os próprios membros não confiam muito nela. Ela é representada elas máscara do teatro e foi baseada em Nicki Minaj e Lady Gaga.












    Se estiver a fim de uma imersão mais profunda, é só conferir a playlist do Spotify, onde Gillen disponibiliza as músicas que o inspiram na criação do título.


    Não, não tem só diálogos. A porrada come solta!!

    Além da inspiração óbvia em cima da música pop atual e seus ídolos, Gillen se inspirou no câncer terminal de seu pai para criar The WicDiv, segundo ele próprio "uma história sobre vida e morte". Mas além disso fica bem claro o comentário a respeito da própria sociedade e este sistema que a indústria do entretenimento construiu para si, que carece sempre de uma nova estrela, um grande messias pop que vai salvar as massas com sua arte. Em nossa sociedade, que tem como base o consumo e o materialismo, é óbvio que a maioria das pessoas, principalmente a juventude, está desligada de qualquer espiritualidade, mas um instinto atávico move as pessoas a procurar um substituto para saciar esta necessidade, tão inerente quanto o próprio impulso gregário do ser humano: construir ídolos para si. Dependendo de seu ponto de vista e sistema de crença pessoal, The WicDiv pode mostrar que estes ídolos pop são o novo bezerro de ouro, em alusão ao episódio bíblico, ou são o nível seguinte desta necessidade do homem de construir para si ídolos que validem seu estilo de vida, a fim de justificar sua própria existência. Neste último caso, os deuses acompanharam os passos da humanidade, sempre em evolução (esperamos que sim!), ao invés de morrerem soterrados nas areias do tempo ou se tornarem mobília empoeirada num canto do inconsciente coletivo, e se transformaram, com o intuito de continuar a serem idolatrados e devotados.





    Além disso, identifiquei um elemento em comum com outra HQ que dispensa quaisquer apresentações: "Sandman", de Neil Gaiman. Essa jogada narrativa, de se pegar um elemento completamente deslocado de nossa realidade, algo místico, divino ou mitológico e inseri-lo na vida quotidiana, como Gillen faz com seus deuses da antiguidade andando e interagindo com as pessoas nos dias atuais, nos moldes atuais, já foi explorado em diversos momentos na HQ Sandman. É algo que quem já teve contato com a HQ de Gaiman identifica logo nas primeiras páginas de The WicDiv, porém, não é o mesmo tom, veja bem. Roteiristas diferentes, épocas diferentes, mas repito: isso foi algo bem bacana durante a leitura. Tive a mesma sensação de quando li Sandman a primeira vez, de que tinha em mãos uma história rica, vibrante e cheia de camadas. E isso, amiguinhos, para um leitor de HQ velhaco, cansado e quase sem fé nas HQs atuais como eu, é um sopro de ar nos pulmões. Mais do que restaurar a fé em deuses esquecidos, esse título restaurou minha fé na safra atual de HQs autorais.


    Aquele ali deitado era eu, esperando alguma coisa tipo The Wicked + The divine para me ressuscitar do meu coma de releitura de velhos gibis. A última vez que isso aconteceu foi com "Injection", e já faz um tempo...


    Quanto à edição nacional do encadernado, não tem do que se reclamar: papel couché envernizado, uma bela capa dura, formato um pouco maior que o americano. Achei uns dois erros de digitação aqui e ali, por falta de uma revisão mais atenta, mas isso não incomoda nem compromete de jeito nenhum. A Geektopia começou com muito mais acertos do que erros e a iniciativa de lançar este título é louvável! Agora é rezar para um deus qualquer (qualquer um mesmo, pode escolher! vale até o diabo!) para a periodicidade de The WicDiv seja amigável com seus leitores aqui, e que não fiquemos até dois anos aguardando o lançamento de um volume (cof cof DEVIR cof cof coff), como acontece com outras duas ou três séries em publicação atualmente no Brasil.





    P.S.: Ah, e pra quem se interessar por uma leitura complementar nesses aspectos que abordei aqui de leve, esbarrei nesse texto enquanto pesquisava um pouco sobre a cara atual de um astro pop. Bem interessante, recomendo a leitura!


    P.S. 2: Meus mais sinceros agradecimentos ao amiguinho Fabrício Rocha por ter me indicado essa HQ, e acima de tudo, por ter insistido que eu lesse rsrsrsrs

    terça-feira, 13 de dezembro de 2016

    O PROBLEMA DOS TRÊS CORPOS, de Cixin Liu, ou "Ficção Científica de Gente Grande, Made in China".



    Por RICARDO CAVALCANTI

    Quando se fala em ficção científica, logo nos vêm à mente nomes como Isaac Asimov, Philip K. Dick, Arthur C. Clarke, etc. Esses autores fizeram suas histórias, criando seus universos e desenvolvendo uma identidade própria de linguagem que os distingue imediatamente. Possuem obras de qualidade incontestáveis e, por isso mesmo, merecem ser sempre lembrados, lidos e relidos. Mas eles não são os únicos. Ler os autores clássicos é sempre muito bom, mas a ficção científica continua em produção e apresentando novos autores, novas histórias sobre outros pontos de vista. Esse é o caso de Cixin Liu; esse escritor chinês que já ganhou vários prêmios por suas obras no seu país, começa a ganhar o mundo, sendo considerado por muitos, o novo Arthur C. Clarke. Confesso que ao ouvir alguém ser rotulado como um “novo-alguma-coisa”, me gera mais distanciamento que empatia. Para mim, soa mais como se esse “novo-alguma-coisa” não seja nada além de “um-velho-alguma-coisa-requentada”. Isso, com certeza, não é o caso de Cixin Liu. 
    Engenheiro de formação, teve seu primeiro romance lançado em 2002 (The Devil's Brics). Antes disso, escreveu vários contos que fizeram parte de coletâneas de ficção científica em seu país. Seu quarto livro, O Problema dos Três Corpos, lançado na China em 2007, foi o primeiro a ser traduzido (em 2014) para o inglês e acabou se tornando o grande vencedor do Hugo Awards de 2015 na categoria Melhor Romance. Dessa forma, o autor chacoalha o mundo da ficção científica ocidental, chutando portas e mostrando a que veio. Pela primeira vez, nos 62 anos da premiação, o vencedor da principal categoria não teve sua obra escrita originalmente em língua inglesa.

    O Prêmio Hugo é um dos mais importantes do gênero ficção científica e fantasia, tendo na sua lista de ganhadores, nomes como (além dos mencionados acima) Willian Gibson, Úrsula K. Le Guin, Neil Gaiman, além do indicado por quatro vezes, George R. R. Martin (o “Senhor Game of Thrones”). Caso queira ficar por dentro das obras indicadas (além de poder votar e sugerir algumas), você pode se tornar membro e ter acesso a todo material que concorre aos prêmios em todas as categorias. Para isso, precisa gastar seu inglês nórdico e 50 dólares por ano.
    Ostentação

    No ano em que Cixin Liu venceu a premiação, o Hugo Awards estava envolvido em uma grande polêmica. Um grupo de escritores ultraconservadores, os auto-proclamados “Sad Rabbid Puppies” (sério, o nome é esse), estavam se sentindo incomodados com a ascensão de autores fora do padrão “homem caucasiano heterossexual” (Cixin Liu, por ser Chinês, já estaria entre os excluídos). Para esses autores, qualquer um que não se enquadrasse nesse perfil, não deveria fazer parte da premiação. Ou seja: seus membros acreditam que restringir o acesso, seria uma forma de preservar esse tipo de literatura e que a premiação deveria privilegiar somente os que sempre foram privilegiados (!?). Mulheres, negros, latinos, asiáticos, etc, estariam acabando com a literatura de ficção científica. Vox Day (Theodore Beale), um dos lideres do Sad Rabbid Puppies, já fez textos dizendo que mulheres não deveriam ter o direito ao voto e que negros são selvagens. É um pensamento tão absurdamente sem sentido, que nem parece ter saído de um grupo de escritores desse gênero literário (e eu achando que a ascensão do pensamento retrógrado só estava acontecendo no Brasil).
    Mas vamos botar de lado os entretanto e partir logo para os finalmente, como dizia Odorico Paraguaçu.

    "O Problema dos Três Corpos", lançado esse ano pela editora Suma de Letras, é o primeiro de uma trilogia de grande sucesso na China, que vem ganhando o mundo e atraindo o foco para esse autor, que está conseguindo o respeito e a admiração do resto do planeta. Os outros dois exemplares da trilogia, The Dark Forest e Death’s End, ainda não possuem data de lançamento no Brasil.

      Já está em andamento a produção cinematográfica da adaptação do livro, programada para estrear em 2017. 
    Filmagens da adaptação do livro
    A trama se inicia no ano de 1967, durante a Revolução Cultural comandada por Mao Tsé Tung na China. Uma criança (Ye Wenjie) que assiste a morte de seu pai imposta pelos membros da revolução, acaba se tornando uma astrofísica de grande respeito, fazendo com que, no futuro, o regime necessitasse de alguém com o talento dela. Para isso, fazem uma oferta que ela não tem como recusar, no melhor estilo Don Corleone.
    Mais de quarenta anos depois, um projeto militar ultrassecreto acaba enviando sinais para o espaço, a fim de conseguir contato com alguma civilização inteligente no universo (o método que eles desenvolvem para potencializar a capacidade de transmissão do sinal é sensacional!). Após alguns anos, chega uma resposta na forma de uma mensagem de alerta, que não era para ser respondida e que eles estariam à caminho da Terra. Mas o que esperar desse contato? Será que deveríamos nos preocupar? Com a descoberta de vida inteligente em outro planeta, alguns grupos consideram que essa poderia ser a salvação para a nossa civilização, enquanto outros acreditam que esse seria o nosso fim. Interesses escondidos em meio a discursos defendendo um lado ou outro, deixam os personagens sem saber exatamente em quem acreditar.

    Arte conceitual do filme
    O contato é recebido por um planeta Trissolaris, localizado em Alfa Centauro, há cerca de quatro anos luz da Terra. Uma civilização com sua existência ameaçada, vê na Terra a possibilidade de sua sobrevivência. Por um breve momento, podemos ver, inclusive, que o planeta possui problemas muito parecidos com os nossos, que influenciam diretamente na atitude alguns de seus habitantes. Mas será que esses trissolarianos viriam para viver conosco em harmonia, ou para nos dominar?
    Enquanto isso, um especialista em nanomateriais (Wang Miao) conhece o jogo chamado O Problema dos Três Corpos, em que o jogador (trajando um Traje V que te dá pleno acesso) tem o objetivo de avançar pelas eras da nossa civilização, podendo esbarrar com reis de antigas dinastias na China, passando por Copérnico, até chegar a nomes como Albert Einstein, por exemplo. Todos sempre com um grande problema a resolver: precisam enfrentar situações em que o sol pode acabar com a vida no planeta em fração de segundos. Após ter contato com o jogo, Wang Miao começa a ver, em todos os lugares, uma inexplicável e misteriosa contagem regressiva. 

    Neste ano, foi descoberta a existência de um planeta rochoso com características semelhantes a da Terra na constelação de Alfa Centauro (a mesma constelação do Trissolaris). Caso queira saber um pouco mais sobre a constelação que é tratada no livro e ter uma experiência mais imersiva, deem uma olhada nessas matérias, pois dão uma boa noção do planeta em que a história é ambientada. Sem contar que a trama ganha muito mais consistência, ao perceber que o autor não escolheu uma constelação aleatória sem propósito.
    http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/08/descobriam-um-planeta-parecido-com-terra-ao-redor-da-estrela-mais-proxima-do-sol.html
    O livro possui descrições detalhadas de alguns conceitos que poderiam, facilmente, tornar a leitura chata e cansativa. Definitivamente, esse não é o caso de O Problema dos Três Corpos. O que acontece é exatamente o contrário. O autor consegue transmitir uma fluência na leitura, te instigando a querer descobrir mais sobre todo o universo desenvolvido. Enquanto você lê, a riqueza de detalhes te deixa ainda mais inserido na história, compreendendo de forma mais ampla, não só a trama, mas as motivações e atitudes de cada personagem.


    Não existe na obra, nenhum tipo de discurso ou crítica a modelos políticos e sociais. O autor não levanta bandeiras, nem faz denúncias ou alertas sobre a nossa realidade. Todos os elementos políticos servem apenas como pano de fundo para uma ficção científica pura e direta (e de excelente qualidade, diga-se de passagem).
    Agora suba até a torre de transmissão, vista seu Traje V, acesse o www.3corpos.net e tente sobreviver aos desafios apresentados pelo jogo (Não, você não vai entrar. Você não tem o Traje V).

    quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

    UM CAVALHEIRO EXTRAORDINÁRIO NA CCXP, ou “Meu sábado no maior evento de cultura pop da América Latina!”





    Por EDUARDO CRUZ



    Nesse sábado estive na CCXP, como prometido no post anterior, e prometemos também comentar sobre o que vimos de novo e de interessante no evento. Porém, contudo, todavia e entretanto, como não somos celebridades da “nerdosfera”, fomos com nossa humilde credencial “pé no chão”, como todos os outros pagantes. O que isso significa? Sem acessos especiais, nem VIPs, nem área nobre, nem camarote, nem champagne caro, drogas ou prostitutas tailandesas pra nós aqui na Zona. Curtimos o evento do mesmo jeito que você amiguinho(a), que também pagou e foi na cara e na coragem. Entramos pela mesma porta que vocês, quase não conseguimos pegar nenhum autógrafo, exatamente como vocês, e também desistimos de algumas atrações e estandes por causa da fila intimidadora, exatamente como vocês! “Ué, então porque diabos eu deveria continuar lendo esse post, se você não deu uma fungada no pescoço do Frank Miller fazendo cosplay de Freddy Krueger?”, vocês me perguntam. Ora, e se eu te dissesse que ainda assim valeu a pena?












    O Omelete, organizador do evento, divulgou que a CCXP deste ano seria ainda maior que as edições anteriores. Eu não saberia dizer, já que essa foi nossa primeira vez em uma CCXP, então não temos parâmetros para comparar. Não sei se foi realmente “maior”, mas posso afirmar que foi “GRANDE”! Dentro de todo o imenso leque de tudo que abarca a cultura pop, faltou pouca coisa a ser lembrada ou reverenciada de alguma maneira no evento. Dos medalhões DC/Warner e Marvel/Disney, a coisas diversas entre si como Doctor Who, Super Mario Bros, Maurício de Souza Produções, boas novidades como a série “Westworld”, da HBO e os lançamentos quentes de cinema do ano que vem. Ah, e não nos esqueçamos também o incrível “bairro anime”, o espaço do pavilhão dedicado somente a mangá e anime! Esse apanhado mostrou que o ecletismo foi muito bem executado no evento! Tinha de tudo pra todos os gostos! 














    E se sua onda é gastar seu dinheirinho suado numa convenção, havia estandes de lojas diversas, onde se poderia comprar desde camisetas, estatuetas, memorabílias, canecas, jogos de tabuleiro ou até mesmo completar sua coleção de “Cavaleiro da Lua” dos anos 70, por exemplo, em algumas lojas que traziam verdadeiros tesouros em encadernados nacionais e importados. Na verdade eu vi um estande que vendia cadernos, e outro vendendo chinelos (!!!). Pois é, a Marvel e a DC vendem de tudo menos gibis hoje em dia....

















    Sim, eu sei que tinha um painel da HBO com Game of Thrones, um painel da Fox com ações promocionais de Simpsons e Walking Dead, uma festa no estande da Netflix, e prévias do filme da Liga da Justiça no espaço da Warner Bros. Além disso, vi o espaço dedicado ao filme vindouro de Ghost in the Shell e Resident Evil 6. Mas não consegui entrar em nada disso. O motivo? Filas! Filas, filas, muitas filas! Para tudo: fila pra comer (não se iludam, a comida ou era ruim, ou cara, ou com sorte, as duas coisas juntas), fila pra usar o banheiro, filas para autógrafos e fotos com os convidados.... O espaço era imenso e cheio de atrações, mas ainda assim o público era tão grande que a demanda superava a oferta. Essencialmente, a CCXP é um evento comercial (como qualquer Comic Con do mundo), por isso haviam mais consumidores do que entusiastas. Isso explica o volume. Só encarei certas filas porque eram indispensáveis. Mas esse é um critério pessoal de cada um na CCXP, eu aprendi. A fila de uma hora e pouco que encarei para falar com o Gustavo Duarte pra mim foi interessante. Para você, talvez fosse mais interessante esperar duas horas e meia pelo Paul Pope. Aprendi que na CCXP filas são uma certeza e uma constante. A questão é a escolha: quais filas você encararia e quais dispensaria?












    Uma atração interessante foi a de promoção do filme Assassin’s Creed, da Fox. Foi montado uma espécie de espaço para Le parkour, que culminava em uma queda livre de aproximadamente 6m sobre um colchão de ar! Bem empolgante, mas não fui, adivinhem por quê? FILAS!!! Mesmo assim, bem legal de ver os outros doidos se jogando e brincando nesse playground radical.

    Outra atração incrível foi a exposição das doze armaduras dos cavaleiros de ouro em tamanho natural, um dos pontos altos do evento, que inclusive chamou a atenção até dos não iniciados nessas nerdices todas, os chamados “civis” rs. Muito bonito, e pra quem passou a infância/adolescência curtindo “Cavaleiros do Zodíaco”, foi fantástico! Por conta dessa atração belíssima, vimos alguns marmanjos barbados lá dentro com os olhos úmidos rs

















    Chegou a dar orgulho em ver os cosplayers. A galera anda se esmerando muito na confecção de seus trajes, o que só mostra que o evento, que já alcançou um nível de convenção internacional, tem seus cosplayers em nível igualmente alto. Isso, por mais simples que possa parecer, para mim foi o mais legal da convenção: andar pelos corredores e esbarrar com fãs caracterizados como seus personagens favoritos. Gostei bastante disso, e como as próprias atrações do evento, as escolhas variavam muito: você via super heróis, lutadores de Mortal Kombat, princesas Disney, inúmeros personagens de mangás e até mesmo o escoteiro gordinho de “Up – Altas Aventuras”! Além de centenas de milhares de Deadpools, Doutores Estranho e Arlequinas vagando pelo pavilhão....

    Melhor cosplay de todos! 
    Eu não encontrei nenhum Coringa Cesar Romero lá... percebam minha consternação...




    E o Artist’s Alley??? Ah, o Artist’s Alley... a coisa mais foda que já testemunhei relacionado ao gênero dos quadrinhos: DEZENAS E DEZENAS de criadores independentes, nacionais e alguns estrangeiros, expondo seus trabalhos, e o melhor de tudo, acessíveis para conversar, pedir prints, comissions, sketchbooks, fotos e quaisquer outros trabalhos que esses artistas estivessem exibindo em suas mesas. Pra quem quer fugir do eixo Marvel/DC e está disposto a conhecer novas histórias, histórias autorais, histórias originais, o Artist’s Alley era o lugar mais maravilindo da CCXP, amiguinhos!!!

    Um pedacinho do Artist's Alley

    Gustavo Duarte autografando meu "Não acredite em gnomos"

    Como só fomos no sábado mesmo, era preciso cobrir todo aquele pavilhão, e entrar em todas as filas significa perder um tempo precioso... afinal, eu só tinha até as 10 da noite pra curtir a CCXP hehehe. Por isso, escolhas difíceis foram feitas. Tive que escolher não entrar na filona do Roger Cruz, na filona dos gêmeos Moon & Bá, na fila do Simon Bisley ou do Bill Sienkiewicz. Frank Quitely? nem vi sombra desse! Mas não deixaria de falar e pegar um autógrafo do Gustavo Duarte (até porque fui intimado por um amigo a pegar um exemplar de “Não acredite em gnomos” para ele, sob pena de morte caso voltasse de mãos vazias!). Valeu o tempo de espera. Que é um quadrinista talentoso, Gustavo Duarte já provou isso várias vezes desde que despontou, mas eu não estava preparado para conhecer o excelente ser humano por trás do artista, que apesar do cansaço de terceiro dia de CCXP, esbanjava bom humor, conversando com os fãs enquanto autografava seus livros. Meu conceito por ele, que já era alto, arrebentou o teto e disparou até a estratosfera!



    Bem, por fim, é isso, pessoas! Se eu, que não tive qualquer espécie de acesso privilegiado a nenhuma área do evento, achei até que foi OK e saí de lá com a sensação de que o entretenimento oferecido (quase) valeu o preço que paguei pelo ingresso, acredito que num balanço geral, olhando pra pilha de HQs, independentes ou não, que achei no evento, os encontros cara a cara com alguns amigos de comunidades de quadrinhos do Facebook, mais a oportunidade de ver excelente cosplays, o nível das atrações e o peso dos convidados, posso dizer que SIM, fui em uma convenção de HQs de verdade, apesar de ainda ter muita coisa a ser feita pra melhorar o evento. Mas ano que vem não volto não. Eu quero mesmo é conhecer o FIQ em 2018...

    Agradecimentos ao meu amigo Felipe Oliveira (watcheman@gmail.com), que esbarrou comigo lá do nada, e tinha fotos muuuuito melhores do que as que eu consegui tirar hehehe. Todas as estatuetas e armaduras mostradas nesse post são de autoria dele, gentilmente cedidas ao blog. Valeu!


    P.S.: Chefe, consegui as fotos do Aranha, como e senhor pediu! Eu vivo para o trabalho! (na verdade me esqueci completamente, mas pra isso serve o Google. Acho que ele vai engolir...)