quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

MULTIVERSO, de Grant Morrison + vários artistas, ou "Um passeio clandestino a bordo da Ultima Tul!"



Por EDUARDO CRUZ




Quem me conhece um pouquinho sabe que dos quadrinhos mainstream, o que eu mais curto são as histórias de realidades alternativas. Seja Marvel ou DC, desde moleque sempre fui fissurado nas histórias que recontavam continuidades e reimaginavam o status quo de personagens familiares a nossa vida inteira, mas de formas radicalmente diferentes. Fosse o "O que aconteceria se...", da Marvel, o "Túnel do tempo" na DC, ou até mesmo a horrorosa iniciativa conjunta "Amálgama", eu não perdia um, independente da qualidade das histórias, que sempre flutuou bastante. Sei lá, essa coisa de mesmo personagem, background diferente sempre foi uma das coisas que eu considerei - e ainda considero, se bem executado - um dos melhores exercícios de
Batman + Wolverine + Anos 90 = Garra Sombria
imaginação nos quadrinhos. Por isso, quando Grant Morrison anunciou The Multiversity há uns anos atrás, por volta de 2010, e não se tocou mais no assunto por um bom tempo, os leitores se conformaram em tratar a HQ como uma lenda. Ou melhor, como se fosse um dos muitos projetos do Guillermo Del Toro que nunca chegam a sair do papel. Mas por fim The Mutiversity acabou saindo em 2014 e concluído em 2015.

















"'The Multiversity'  tem sido um trabalho de amor por quase oito anos de produção, e traz consigo um irrefreável supergrupo de artistas – Reis, Sprouse, Oliver, Quitely, Stewart e outros – com um elenco de personagens inesquecíveis das 52 terras alternativas do Multiverso conhecido da DC!
Prepare-se para conhecer a Liga Da Justiça Vampira da Terra-43, os Cavaleiros da Justiça da Terra-18, Superdemônio, Doc Destino, os super-filhos de Superman e Batman, os furiosos Retaliadores da Terra-8, os Cavaleiros Atômicos da Justiça, Dino-Cop, Irmã Milagre, Lady Quark, a legião de Silvanas, os Novos Nazistas Reichsmen da Terra-10 e o mais recente, o maior super-herói da Terra Primordial – VOCÊ!
Composta por sete aventuras completas – cada uma em um universo paralelo diferente – uma história em duas partes, e um guia compreensível para os muitos mundos do Multiverso, ‘The Multiversity’ é mais do que apenas uma série em quadrinhos em várias partes, é a expansão de um cosmos, uma experiência de abalar a alma que coloca você na linha de frente da batalha por toda a Criação, contra os destruidores demoníacos conhecidos como A Aristocracia!
Mas cuidado! Poder tem um preço, e no coração deste conto épico aguarda o amaldiçoado e maligno gibi chamado ‘Ultra Comics’…
Quão segura é a SUA cabeça?
Junte-se a nós, se for ousado, por ‘The Multiversity’ 

Grant Morrison
 
Tenho que confessar pra vocês que apesar de ter lido as scans cópias digitais desse ótimo trabalho do escocês pirado na época em que as edições saíram, eu queria mesmo era manusear uma edição que coletasse toda a mini série Multiverso. Pegar nas mãos, ler na sequência, de trás pra frente, pular duas edições para trás ou pra frente para conferir os detalhes e 'coincidências', decifrar símbolos ocultos e pistas escondidas à plena vista... enfim, ler esse gibi do jeito que ele foi concebido pra ser lido! Então, SIM, posso dizer, na minha opinião, que foi a HQ mas esperada para se ter um exemplar físico em mãos nos últimos dois anos. E pelo menos a mim não decepcionou! Não me sinto tão ansioso e animado assim para ter uma HQ em mãos desde O Dossiê Negro da Liga Extraordinária, uma bela HQ escrita pelo melhor amigo de Morrison, um tal de Alan Moore...



Mas por se tratar de uma HQ do Morrison, certamente tem um monte de leitores loucos para ler isso, mas ao mesmo tempo morrendo de medo de entender bulhufas. O que é natural, visto a fama de Grant Morrison como contador de histórias. Sim, não vou mentir, ele é um tanto quanto... complicado. Ele utiliza recursos narrativos que a maioria dos roteiristas não costuma utilizar e eleva seus roteiros a um grau de complexidade e detalhismo maníacos, e em Multiverso ele se superou! Sim, a HQ exige que se conheça alguma coisa da cronologia da DC, exige que se leiam alguns trabalhos anteriores de Morrison e principalmente, exige muita atenção aos detalhes espalhados ao longo das nove edições que compõem a mini série. O que pretendo fazer aqui nesse post é só pegar você, leitor, pela mão e guiar pelo Multiverso, mostrar que apesar de complexa, é uma excelente história, e até mesmo os haters do Morrison precisam admitir, foi feita com muito esmero e dedicação, do jeito que só um verdadeiro fã da DC poderia montar! Em linhas gerais, e sem spoilers, claro, vou mostrar o quão fortemente esta história amarra a atual cronologia multiversal da DC Comics. 

 


 


Para aqueles que são famintos por cada referência em cada balão, recordatório e quadrinho, recomendo muito o trabalho que o site Terra Zero desenvolveu em cima da mini série, um estudo profundo página a página, esmiuçando o máximo de observações e referências da mini série. Além desse e desse artigos, a equipe do site gravou vários podcasts enfocando as edições de Multiverso, totalizando várias horas de informações utilíssimas e pontuais que fazem sua releitura ser ainda mais gratificante. Mas se vocês não tiverem paciência pra desbravar tão a fundo assim o multiverso por agora, continuem comigo aqui. Se você só quer mesmo um empurrãozinho pra tirar as dúvidas sobre quanto ter ou não esse encadernado, cola aqui comigo, e em linhas gerais vamos ver do que se trata?






Leitura prévia recomendada:


O RUN DE MORRISON EM HOMEM ANIMAL

A Panini publicou na íntegra um dos primeiros trabalhos de Morrison na DC, e na proposta do título Morrison já começa a desgastar a grande muralha do pós-crise, sinalizando ainda existir dimensões fora do continuum regular da DC, como o limbo, onde personagens esquecidos ou apagados da cronologia ainda existiam. Basicamente, é o aquecimento, a obra que determinou o tom de Grant Morrison em todos os seus anos na DC. Tão seminal quanto o Monstro do Pântano de Alan Moore.


CRISE FINAL

Particularmente, acho uma história mediana, e isso se deve em grande parte aos desencontros editoriais dentro da própria DC, que fez com que o destino de Batman no fim da mini série fosse confuso, e até mesmo divergisse de outras publicações que saíram na época. Quase como erros de continuidade, mas em uma HQ rs. Mas o importante a ser observado aqui é o monitor Nix Uotan, que desempenha um papel fundamental em Multiverso, e a primeira aparição do Capitão Átomo da Terra 4, que ressurge em Multiverso no capítulo Pax Americana.


SUPERMAN - À PROVA DE BALAS
Esse encadernado da Panini reúne as edições #0 a #18 de Action Comics da fase Novos 52, que recontava a origem de Clark Kent/Superman. Mas esse NÃO É o Superman que interessa, e sequer aparece em Multiverso! Em Action Comics #9, Morrison interrompe o arco de Clark Kent e nos apresenta uma Terra paralela na história 'A Maldição do Superman'. Ali conhecemos Calvin Ellis, presidente dos EUA daquela Terra, e sua identidade secreta.... Superman!!! Note que em Multiverso, o arquétipo do Superman sempre vai estar presente nas histórias, e cada Terra paralela tem o seu, mesmo que não dê pra identificar de forma tão óbvia (Minha dica é: olhem para a essência do personagem, e não para o "S" no peito!), mas o Superman que vale na mini série toda é o presidente Ellis, uma dupla homenagem ao ex presidente Barack Obama e ao roteirista Warren Ellis, amigo de Morrison, e que ajudou a criar e consolidar alguns conceitos hoje largamente usados na cronologia da DC, como a Sangria, o espaço interdimensional que permeia o multiverso.
Calvin Ellis, o Superhomão da porra que vale em The Multiversity
Ah, também é nessa edição de Action Comics que vemos pela primeira vez um Cubo de Transmatéria, um dispositivo de viagem interdimensional que desempenha um papel fundamental em Multiverso!



Essa edição de Multiverso encadernada pela Panini Books se divide em:



MULTIVERSO #1


A primeira edição de Multiverso nos introduz à trama principal, além de apresentar os antagonistas e os heróis de várias Terras que irão se unir para descobrir a extensão da ameaça e combatê-la, formando uma espécie de Liga da Justiça Multiversal, que possui entre seus membros Calvin Ellis, o Superman da Terra 23, o Trovejante, um aborígene que faz as vezes de Thor em seu universo original, e o Capitão Cenoura, uma versão cartoon do Superman. Destaque para as Terras 7 e 8, que são versões dos universos Marvel, tanto o regular quanto a Ultimate. E sim, é claro que Morrison aproveitou pra devastar essas Terras, talvez como vingança pela sua amarga estada como empregado da Marvel Comics heheheheh...





SOCIEDADE DOS SUPER-HERÓIS: CONQUISTADORES DO CONTRAMUNDO


Essa edição se passa na Terra 20, um mundo de heróis com uma pegada de história pulp muito marcante, vide as versões do Senhor Destino, Sinestro e Parallax, entre outros, que figuram nesta edição. Aqui vemos a Sociedade dos Super-Heróis, uma espécie de versão  pulp da Sociedade da Justiça da América, às voltas com sua contraparte maligna da Terra 40. A impressão é de se estar lendo uma aventura do Indiana Jones, mas na DC Comics. Uma homenagem ao período das revistas pulp tão bacana quanto o que Ellis fez em Planetary, com seu Doc Brass e companhia. Os artistas dessa edição são a dupla Chris Sprouse/Karl Story, que também foram responsáveis pela arte da série Tom Strong, um gibi de Alan Moore que homenageava... as HQS PULP!!! Assim fica difícil te defender, ô Morrison rsrsrsrs... 
Paralelo a isso, percebemos a Aristocracia se infiltrando nesse mundo, através das revistas "amaldiçoadas". E em quantos outros mais?

Pura mágica... veja as estrelinhas!




OS JUSTOS 


Essa história aparentemente não tem relação alguma com a trama principal, mas aqui também nota-se infecção multiversal da Aristocracia, logo abaixo da superfície da história principal, causando confusão e desorientação entre alguns personagens ao longo da trama. Nessa Terra alternativa, a Terra 16, os filhos dos maiores super heróis do mundo são uma geração mimada, egocêntrica e frívola, que sequer podem ser considerados heróis, já que o legado do falecido Superman, um exército de robôs, resolve toda e qualquer crise, fazendo qualquer ameaça e mega evento parecerem tão perigosos quanto uma breve chuva passageira. Em meio a isso também temos um triângulo envolvendo os filhos do Batman, Superman e Lex Luthor dessa Terra. E note as HQs da Aristocracia se infiltrando nesta realidade também... Os Justos é uma crítica de Morrison à geração dos Millennials, jovens superprotegidos a vida inteira que entram na vida adulta despreparados para lidar para praticamente tudo à sua volta.





PAX AMERICANA: NO QUAL QUEIMAMOS


E aqui está a grande polêmica de Multiversity! ou pelo menos, uma delas heheheh. O momento da vingança de Morrison, o prato que ele saboreou frio, colherada a colherada, ou melhor, página a página! Passada na Terra 4, a trama de Pax Americana, sem mais delongas, nada mais é do que a versão de Watchmen, obra de Alan Moore (a obsessão suprema de Morrison), numa releitura feita por Morrison e ilustrada por Frank Quitely, utilizando os personagens da Charlton, como não foi possível para Moore em 1986, por questões legais. Aqui, em uma legítima situação de "faz-melhor-então", Morrison "melhora" a trama, deslocando o contexto de Guerra Fria para o contexto atual de terrorismo internacional e conspirações governamentais, com direito ao assassinato de ninguém menos que o presidente dos EUA.
A trama, fora uma cena onde o Capitão Átomo segura uma Ultra Comics #1 na mão, mostra pouca ligação com o arco principal - a invasão da Aristocracia - o que só reforça a impressão de que Morrison já tinha esse roteiro pronto há bastante tempo, tendo feito algumas poucas modificações para que Pax Americana se adequasse e se interligasse ao restante da mini série. 

Página de Pax Americana.

Página de Promethea, de Alan Moore.
A alfinetada em Moore se torna completa na composição das páginas em relação a Watchmen: Enquanto em Watchmen a maioria das páginas é organizada em uma grade de nove painéis, Morrison optou por organizar Pax Americana em grades de oito painéis. Como explica o artista Frank Quitely: "Música, e vibração.... vibrações musicais, as oitavas, a repetição do número oito ao longo da história, e padrões de criação que conduzem os olhos do leitor pela página em uma direção específica.".

Página de Pax Americana

Página de Pax Americana

Página de Promethea, de Alan Moore




NOVAS AVENTURAS NO MUNDO DO TROVÃO


Esta história se passa na Terra 5, e envolve os integrantes da família Shazam, e tem um clima mais, digamos, puro, mas sem ser piegas ou datado. Nessa realidade, um exemplar de Sociedade dos Super-Heróis cai nas mãos do Dr. Silvana, o que o inspira a entrar em contato com suas traiçoeiras contrapartes ao longo do Multiverso, recrutando um exército de Doutores Silvana. Juntos, arquitetam um plano que culmina no aprisionamento do Mago Shazam, na Pedra da Eternidade, e o roubo de seus poderes. Cabe à Família Marvel Resgatar O Mago Shazam e Fawcett City.
Uma história bem mais leve que as outras edições da mini série, com um clima super heróico, nostálgico e otimista, que conta com a arte do competentíssimo Cameron Stewart (Seaguy, Clube da Luta 2), essa edição coloca os mortais mais poderosos do universo DC no olho do furacão, lá no clímax, em Multiverso #2. Mas estou me adiantando...






LIVRO-GUIA


Em mais um show de metalinguagem, Morrison nos premia com uma história-dentro-da-história: Na Terra 51 vemos Kamandi, Tuftan e Ben Boxer investigando uma misteriosa tumba, e dentro dela, encontram o tal guia do Multiverso. Enquanto isso, na Terra 42, a legião dos Silvanas ataca a Liga da Justiça desta Terra, só restando o Batman deste mundo e uma outra versão, da Terra 17. Enquanto ambos tentam ativar um cubo de transmatéria para pular para outra Terra e escapar do exército de robôs-Silvana, eles encontram o guia do Multiverso, que contém, além do mapa do Multiverso e um guia com todas as 52 Terras, uma história onde vemos... Kamandi, Tuftan e Ben Boxer investigando uma misteriosa tumba!!!
Entendeu? Não? Bom, leia, mas coloque algodão no nariz pro seu cérebro não escorrer para fora rs. No momento em que os personagens que acompanhamos abrem o livro guia do Multiverso, nós acessamos exatamente o que eles estão lendo. Sim, o careca maluco nos transforma em voyeurs e lemos o guia por cima dos ombros de Kamandi e dos Batmen!

Página do Livro Guia de Multiverso

Página do Livro Guia de Multiverso

Página de A Liga Extraordinária: O Dossiê Negro, de Alan Moore

Página de A Liga Extraordinária: O Dossiê Negro, de Alan Moore




MASTERMEN


Seria essa edição mais uma vingança Morrisoniana? Essa história se passa na Terra 10, onde um certo foguete com um certo bebê Kriptoniano cai em um país ocupado pelos alemães, e acaba, naturalmente, sendo criado pelo próprio Hitler. Overman, como é conhecido nesta Terra, mantém a supremacia do regime ariano, mas tem uma pedra em seu sapato: o grupo de terroristas conhecidos como Tio Sam e os Combatentes da Liberdade
Outra edição que parece não ter relação nenhuma com o plot principal, e sim uma alfinetada no (ex) amigo de Morrison, Mark Millar, que escreveu a já clássica Superman - Entre a Foice e o Martelo, uma história de realidade alternativa onde o bebê Kal-El cai na Rússia comunista. Diz a lenda que apesar de ser assinada por Millar, quem propôs boa parte da história e desenvolveu o final foi Morrison, que não recebeu crédito algum. Só restou a ele se vingar, plagiando uma história roubada dele mesmo rs.





ULTRA COMICS



Olha, não sei se sou capaz de elaborar decentemente uma descrição dessa edição aqui, então fiquem com a minha conversa com o Ricardo assim que terminei a primeira leitura de Multiverso, ainda bastante impactado, como dá pra perceber:

E: Bicho, que viagem! Primeiro, não se pegam todos os detalhes em uma única leitura. Da segunda vez q vc lê percebe q certos balões de fala eram atribuídos a personagens q vc não notou da primeira vez!
Segundo: Toda Terra tem um Superman, mesmo que você não reconheça ele de cara, e é SEMPRE o conceito de Superman que ajuda as Terras doentes.
Terceiro: A tal Ultra Comics, o penúltimo gibi do encadernado, que viagem!!! o Morrison conseguiu algo inédito. Você REALMENTE faz parte da história! O Intellectron, da Aristocracia fala diretamente com você! O tempo todo você é avisado para não virar as páginas mas você já foi infectado, e esse gibi é uma ponte pra essas criaturas invadirem a NOSSA realidade! Um grau assustador de interação com o que deveria ser apenas um gibi!! Tudo gira em torno da Ultra Comics! O resto é o Morrison brincando de "Túnel do Tempo" e porradaria super heróica, além é claro, das alfinetadas no Moore kkkkkkkkk

R: Que maneiro! Só comprei o meu ontem!

E: Velho, eu até que entendi a proposta na primeira vez que li, mas só fiquei impactado na segunda leitura ontem! Pareceu uma droga! Realmente mexeu com minha cabeça hauahuahuahua. Metaficção. História dentro da história. E em fractais, do jeito q o Morrison gosta! Aí hoje de manhã o que eu fiz, além de terminar a Y volume 4? Li o tal do gibi amaldiçoado de novo! rs
Mané, depois que eu terminar esse post, vou ler alguma coisa leve, tipo Promethea. Huahuahuahuahauahuahua!!!

R: kkkkkk
R: Qual gibi amaldiçoado?

E: O Ultra Comics! A oitava edição da Multiverso!!

R: Ah sim...

E: Por deus, homem, você não prestou atenção em nada do que eu falei lá em cima???
ELES JÁ PEGARAM VOCÊ!!!
ESTÃO BATENDO NA PORTA!! NÃO DEIXE ELES ENTRAREM!!!

R: KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!!!





Nessa edição, ocorre "apenas" a batalha épica entre a Aristocracia e os super heróis combinados do Multiverso DC. Porradaria. Porradaria. Porradaria. E será que a Aristocracia é a única ameaça a ser combatida? Ou tem algo mais ameaçando o Multiverso? Só lendo pra descobrir...


Depois dessa sobrevoada, parece muito complicado e rocambolesco toda essa montanha russa através de 52 mundos paralelos e tal, mas Multiverso pode ser resumida a: A Aristocracia é uma raça de parasitas cósmicos (por isso aquela alusão aos cupins no começo e no final da história, supostamente ao acaso. Mas espere! Essa é uma HQ do Morrison, então nada é coincidência nessas 500 páginas hehehe) que invade o multiverso DC. Eles são oriundos de alguma parte fora do multiverso e foram atraídos por emanações de idéias negativas e sonhos arruinados. A Aristocracia deseja clamar a posse de todas as mentes do multiverso, o que os levará a controlar todos os pensamentos e histórias da existência. Controle absoluto. Para isso, eles usam a tal HQ amaldiçoada, Ultra Comics #1 como um vetor para infectar o Multiverso, e simultaneamente lançam um ataque ao Planetário dos Monitores. Por conta disso, vários heróis de universos diferentes são forçados a se unir para encarar esta ameaça multidimensional. E basicamente é isso. O resto são digressões Morrissonianas, toneladas de referências e aquela teoria bacana, já citada em sua autobiografia, Superdeuses, onde Morrison postula que as revistas em quadrinhos são vitrines onde vislumbramos outros universos, dimensões inferiores, tudo existe, e a ficção de um mundo é a realidade de outro.




E é só isso. Mas como toda boa viagem, o passeio é muito mais gratificante que o destino em si. E ao longo da nove edições teremos um tour pelo multiverso DC, recheado de simbologias, arquétipos (principalmente do Superman e Flash, mas não restrito apenas a eles), metalinguagem, metaficção, legado e muitos embates grandiosos, porque afinal de contas a gente compra gibizinho é pra ver a porrada comer solta hehehehe. 



Alguns diriam que Multiverso é mais uma declaração de amor de Morrison pela DC, além de uma sofisticadíssima crítica a todo o mercado de quadrinhos contemporâneo: lança farpas para a indústria, o corpo editorial, os leitores que querem só mais do mesmo, os fanboys babacas que odeiam tudo.... pouca coisa escapou da metralhadora de Morrison nesse trabalho, e está tudo lá, espalhado nas camadas, e quem tem olhos pra ver, verá! rs. Outros diriam que é um grande fan service, um Túnel do Tempo/Elseworlds de 500 páginas, sob o pretexto de Morrison poder produzir sua própria versão de Watchmen, marcando assim mais um ponto na eterna treta Moore/Morrison.





Acredito que o mais gratificante para o Morrison mesmo foi fazer seu remake de Watchmen, e me processem por isso, mas ele melhorou a proposta de Moore na parte da execução formal, além de REALMENTE integrar seu Watchmen ao multiverso da DC, o que Moore não pôde fazer na época, por uma questão legal.


Mas tenha você a bagagem necessária ou não para entender todas as referências, acho que dá pra gente concordar que é uma HQ bem acima da média, e a única coisa que chegou perto disso nas grandes editoras foram os Vingadores/Novos Vingadores do Jonathan Hickman nesses últimos tempos. Uma pena. Mas tenho certeza que em alguma outra Terra se produzem gibis assim todos os meses. Só espero conseguir vibrar na frequência certa para conseguir me transportar pra lá. Ou.... alguém me empresta uma esteira cósmica?





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