terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

REQUIEM - CAVALEIRO VAMPIRO, de Pat Mills + Olivier Ledroit, ou "Depois de Stephenie Meyer, Pat Mills restaura a dignidade dos vampiros!"





Por EDUARDO CRUZ INVERTIDA




No momento atual da cultura pop, a única coisa mais desgastada que a temática zumbi são os vampiros. E os coitados dos sanguessugas, após décadas de glórias, sustos, reinvenções e interpretações geniais do conceito original, ainda sofreram mais um duro golpe: a saga Crepúsculo manchou a reputação desses monstros com idéias lamentáveis, que pro bem da sanidade de todos nós, é melhor nem se estender muito aqui heheheh...

Não, esse não é o José Serra...


Felizmente ainda há quem escreva histórias com vampiros de verdade: lascivos, sedutores, gananciosos, traiçoeiros, violentos. E sedentos por sangue e depravação. O veterano dos quadrinhos britânicos Pat Mills é, na minha opinião, um dos autores britânicos mais subestimados de sua geração. Como todo autor britânico de HQs, começou trabalhando na obrigatória 2000AD, onde roteirizou Juiz Dredd, Dan Dare, Rogue Trooper, ABC Warriors e Sláine, só pra ficar nos mais conhecidos. Do outro lado do Atlântico, pelo selo adulto Epic, Mills entregou Marshal Law, sua insana e debochada visão pessoal dos super heróis pós Watchmen, e a graphic novel A Era Metalzóica, ambas com arte de Kevin O'Neill, artista de A Liga Extraordinária. Além disso, trabalhou para a Marvel escrevendo as versões 2099 do Justiceiro e do Doutor Destino. Esse é o cara a escrever uma das últimas histórias envolvendo vampiros com um sopro de originalidade e diversão a aparecer de 2000 e poucos pra cá: Requiem: Chevalier Vampire.

Pat Mills, mais uma lenda da Invasão Britãnica.
Mills decidiu ingressar no mercado francês de HQs e fundou a Nickel Comics, ao lado de Olivier Ledroit e Jacques Collin. Requiem: Chevalier Vampire foi o primeiro título a ser publicado pela Nickel e teve êxito no mercado francês, fazendo a minúscula editora se firmar nas pernas. Essa produção franco-britânica também foi publicada nos EUA, em capítulos, nas edições da Heavy Metal. Além disso, Requiem também ganhou publicação em alemão, e agora finalmente em português, pela editora Mythos, que está investindo pesado em (ótimos) títulos europeus.





Apesar de ser mais antiga que Crepúsculo - A HQ é de 2000 -, Requiem ainda não foi concluída, e seus capítulos são publicados até hoje, e posteriormente, reunidos em encadernados. Coleciono esses eventuais encadernados de Requiem desde que descobri a série em uma torrent contendo vários trabalhos do Pat Mills, e fiquei bem feliz por  finalmente alguém aqui no mercado editorial brasileiro descobrir o quanto esse material é bárbaro. Agora o leitor tem mais uma ótima opção para sustentar o tal boicote à editora Panini sem necessariamente ficar sem uma boa HQ para ler. E Requiem é EXCELENTE! Na minha humilde opinião, em termos de desenvolvimento dos personagens, tramas e narrativas muito bem encadeadas, e pela riqueza e consistência desse universo criado por Mills e Ledroit, Requiem está no mesmo páreo que Hellboy, por exemplo.





A história de Requiem - Cavaleiro Vampiro é ambientada em um mundo conhecido como Ressurreição, que também é chamado de Inferno, embora apesar do nome, seja mais como uma mistura entre Inferno e Limbo, uma vez que todos que morrem acabam parando lá, mesmo as "vítimas inocentes". Em Ressurreição as pessoas reencarnam como monstros de acordo com os pecados cometidos em vida: Os níveis mais baixos são formados por zumbis e kobolds (uma espécie de espírito travesso do folclore germânico), ao passo que os vampiros formam a elite desta sociedade, a classe dominante em Ressurreição. Também existem lobisomens, múmias e muitas outras criaturas. Quanto mais cruel a pessoa foi em vida, melhor ela é recompensada em Ressurreição. Sim, tudo funciona às avessas neste universo. Tudo parece ser o oposto do que é na Terra, no sentido real e figurado, e o tempo flui para trás. Em Ressurreição, "envelhecer" significa ficar cada vez mais jovem, até regredir à forma de bebê e por fim, desaparecer no esquecimento. Esse "rejuvelhecimento" costuma fazer com que a memória vá se apagando gradualmente. Para evitar a perda de memória e loucura neste processo, os habitantes de Ressurreição precisam de uma droga, o ópio negro, o produto mais valioso de Ressurreição e base do comércio local.



Na história acompanhamos Heinrich Augsburg, um jovem soldado alemão durante a Segunda Guerra Mundial, morto durante um enfrentamento com o exército Russo. Ele vai parar em Ressurreição após sua morte e é atacado por um bando de zumbis. Durante esse ataque, Heinrich conhece um vampiro chamado Otto Von Todt e faz amizade com ele. Otto o acolhe e se torna seu guia, ajudando-o a se adaptar a esta nova vida. À medida que a história avança, nosso "herói" descobre como o mundo de Ressurreição funciona, seus povos, sua política e suas relações de poder. Heinrich, porém, só tem um interesse: reencontrar uma mulher que ele amou durante sua vida pregressa e que ele conhecia pelo nome de Rebecca. Nessa nova vida, o jovem vampiro vai fazer aliados, inimigos e conhecer muitas figuras históricas, como Genghis Khan, Calígula, Aleister Crowley, Drácula, e o próprio Adolf Hitler, cada um deles submetido às regras de Ressurreição.




Requiem não é uma HQ cabeça, dessas que a gente fica destrinchando subtextos e referências mil só pra impressionar as gatinhas (até parece kkkkk). Aliás, referências existem, mas até isso é no espírito de diversão e entretenimento da HQ: o tempo todo há menções a bandas de Heavy Metal nos nomes de alguns apetrechos e personagens. Requiem é um gibi de facílima compreensão: não existem bons e maus, apenas níveis diferentes de malevolência e perversidade entre os personagens, e no decorrer da história, até o próprio Heinrich, um dos poucos personagens simpáticos, vai se mostrar algo diferente do que pensamos ser à primeira vista. Agora, é só torcer para a Mythos engrenar a publicação da série e vocês vão saber do que estou falando já no segundo ou terceiro volume. Mas não se preocupem: Requiem fisga o leitor já nas primeiras páginas. A palavra aqui é "DIVERSÃO". E da boa. E como dá pra ver, fiz questão de ilustrar fartamente esse post porque a arte de Ledroit é pra ser apreciada, e não explicada!




Provavelmente os visuais de alguns personagens, as cenas de sexo (que não são poucas), todo sadomasoquismo, a violência um tanto... criativa demais e conceitos abordando religião podem ofender a alguns leitores. Vejam só, eu considero toda a blasfêmia exagerada dessa HQ como uma mais piada de Mills, e isso me diverte muito ao ler Requiem. Isso tem um efeito catártico positivo, ver toda essa blasfêmia gratuita em tempos de extremismo irracional. Mas também compreendo que os leitores mais sensíveis podem ficar bem incomodados com o visual do Aleister Crowley na série, por exemplo. Então fica o aviso: apesar da qualidade da história e da arte, Requiem não é pra todo mundo, e leitores mais religiosos podem não achar graça na piada. CONSIDEREM-SE AVISADOS!
(Pensando bem, por quê estou advertindo os leitores religiosos? que leitor religioso arriscaria a própria alma lendo esse blog ????)







 VAMPLAYLIST:

Pra quem gosta de ler ouvindo música, muita coisa pode combinar com Requiem - Cavaleiro Vampiro. Contanto que seja pesado! Eu, particularmente gosto bastante de ler essa HQ ouvindo White Zombie / Rob Zombie e Nine Inch Nails, além de outras bandas que tenham essa atmosfera perversa impressa nas canções. Garanto que só melhora a experiência. Façam o teste vocês mesmos e leiam enquanto toca Dragula, do Rob Zombie, por exemplo. O álbum Hellbilly DeLuxe e Requiem - Cavaleiro Vampiro foram feitos um para o outro heheheheheheh...... E vocês, têm algum disco que acham que combina com essa HQ? Comentem lá embaixo! FOGO NOS FONES DE OUVIDO!!!

Rob Zombie - Dragula


Rob Zombie - Living Dead Girl


Rob Zombie - What Lurks on Channel X


 
Nine Inch Nails - Heresy


 
Nine Inch Nails - Last


Nine Inch Nails - Deep






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