quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O FILME DO PANTERA NEGRA, MUITO ALÉM DA MARVEL



                   
Por RICARDO CAVALCANTI

Ainda existe algo a ser dito sobre o filme Pantera Negra? Mesmo depois de tantas resenhas, tantas explicações e tantas análises? Como peça de entretenimento provavelmente não. Mas se olharmos para o filme de uma outra maneira? Se analisarmos num contexto um pouco maior? Este texto surgiu como resultado de discussões sobre o filme na redação do Zona Negativa e não trata de sua ligação com o universo cinematográfico da Marvel. Para isso já teve bastante gente abordando o assunto e elaborando milhares de teorias tiradas da cartola para aproveitar o hype do filme. Este texto fala de sua importância como possível instrumento de transformação social através de uma obra de cultura de massa. Trata de seu poder como forma de empoderamento e identificação. Trata de seus aspectos políticos e de sua representatividade. Mostra que é muito mais que um filme divertido com umas lutas legais.




Para início de conversa, precisamos deixar bem claro que Killmonger é um verdadeiro Pantera Negra.




A primeira e ultima cena do filme do Pantera Negra são exatamente no mesmo local e não é por coincidência. Oakland é onde Killmonger nasce é criado, e onde T’Challa inicia a abertura de seu programa de assistência social. Por que digo que não é coincidência? Por Oakland ser o local onde foi fundado o Partido dos Panteras Negras. Mas você sabe quem foram os Panteras Negras e sua importância?




Nem só de Martin Luther King Jr e Malcolm X se resumiu a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 60. Existiu também a combativa Angela Davis, o elegante James Baldwin e um grupo que abalou as estruturas do conservadorismo norte americano: o Partido dos Panteras Negras. Com os seus membros armados para se defender, o partido reivindicava o fim da discriminação e violência (principalmente por parte da polícia) sofrida pela população negra norte americana. Além disso, o grupo também tinha um programa de assistência social e alimentação que ajudava os mais carentes. O grupo buscava se defender usando “todos os meios necessários”, que era uma frase que Malcolm X usava em seus discursos e que ganhou uma nova dimensão com o partido.

“Nossa união é sinal de perigo.”
Rincón Sapiência



Segundo o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, os Panteras Negras eram a principal ameaça à segurança interna dos Estados Unidos. A questão que fica é: Era perigoso por ser um grupo que andava armado? Não, meus amigos. Se fosse por esse motivo, um grupo de brancos que andam encapuzados e se declaram “cidadãos de bem” (que aliás, era o nome de seu jornal), armados, queimam cruzes e atendem pelo nome de Ku Klux Klan também seria combatido. Mas eles estão aí há mais de 150 anos sendo um grupo terrorista sem nenhum tipo de repressão e com simpatizantes espalhados pelo país, inclusive ocupando a cadeira presidencial.
"O Cidadão de Bem", jornal da KKK (isso não foi uma risada)

“O cidadão de bem é uma arma de destruição em massa.”
Emicida

O personagem Pantera Negra da Marvel não tem nenhuma ligação com o Partido dos Panteras Negras. T’Challa veio antes do partido, mas a inspiração para o nome do partido não teve ligação nenhuma com o rei de Wakanda criado pela Casa das Idéias. Sua real inspiração foi a 66ª Divisão de Infantaria norte americana durante a Segunda Guerra Mundial, que era chamada de Divisão Pantera Negra e seu agrupamento era composto somente por soldados negros. 





T’Challa não compreende as razões de Killmonger e não percebe que seu ódio nasceu do ódio. Sempre relutando pela abertura de Wakanda, preferia manter as coisas como sempre foram e, como rei, cuidar somente de “seu povo”. Por viver isolado do resto do mundo, T’Challa acabou ficando alienado quanto ao que acontece com os seus semelhantes ao redor do globo. Talvez não por culpa dele, mas era difícil ele se entender e se enxergar como um negro e o que isso significava. Afinal de contas, é muito complicado alguém compreender o que é o racismo e seu poder de dano sem nunca ter vivido esse tipo de experiência (também pelo fato de viver dentro da bolha da realeza). Por isso não conseguia enxergar que ele não era só o rei de um povo, mas de toda uma raça. O Pantera Negra poderia ser muito maior que as limitadoras fronteiras de Wakanda. Ambos tinham objetivos claros e passaram o filme buscando alcançá-los. Enquanto Killmonger está tentando, através de todos os meios necessários, colocar fim na opressão que o povo negro sofre, T’Challa, tanto na sua primeira cena quanto na última em Wakanda, está mais preocupado em convencer Nakia a ficar com ele.

“Os verdadeiros líderes devem estar dispostos a sacrificar tudo pela liberdade de seu povo”
Nelson Mandela
466/64 Número do prisioneiro Nelson Mandela



Em alguns momentos sentimos como se fosse um embate entre duas grandes vozes na luta pela igualdade racial nos EUA: Malcolm X e Martin Luther King Jr. Enquanto Killmonger convoca para o enfrentamento, a atitude de T’Challa é mais “conciliadora” e menos intervencionista. Uma das maiores críticas de Malcolm X ao reverendo Martin Luther King Jr. era que seu discurso agradava aos opressores, pois sua resistência não-violenta deixava os negros sem defesas contra um ataque frontal. Ter um negro dócil é o que os opressores sempre quiseram.

“Aleijam as asas do pássaro e depois o condenam por não voar tão rápido quanto eles”
Malcolm X
Malcolm X


Enquanto o discurso de um é inspirador e te faz ter esperança na humanidade, o do outro era combativo e te deixava preparado para reverter a situação através de todos os meios necessários. Mas não podemos contar com a humanidade de humanos, nem com a predisposição para mudar pois, nas palavras de Morpheus em Matrix: “Precisamos entender que a maior parte das pessoas não está pronta para acordar. E muitos são tão inertes, tão dependentes do sistema, que vão lutar para protegê-lo”.

MSP Jeremias - Pele

Mas o antagonista de T'Challa não pode ser mais heróico que o herói. Precisa tirar o foco de suas reivindicações válidas, para seus métodos condenáveis. Ele precisava matar a mulher sem motivo aparente, por exemplo. Mas a frase “O sol nunca vai se pôr no reino de Wakanda”, dita por Killmonger, mostra sim o lado vilanesco do personagem, pois essa era o aforismo usado para definir a extensão do império Britânico, que possuía colônias em todos os continentes do mundo, impondo sua política, cultura, língua e, principalmente, seu domínio pela força. Isso sim é ser vilão!

“De onde eu venho, quando os negros começaram as revoluções, nunca tiveram o poder de fogo ou recursos para lutar contra os opressores. Onde estava Wakanda?”
Killmonger
Dorothy Counts, primeira aluna negra a ser admitida no colégio Harding, no sul dos EUA.

Rudy Bridges, aos 6 anos de idade, sendo escoltada pela polícia para conseguir chegar até a escola em segurança.

Killmonger é um chacal que prestava serviço para a CIA. Sua missão era cometer assassinatos em outros países, causando instabilidade nesses lugares, principalmente em épocas de eleição e mudança de poder. Todos os assassinatos que ele cometeu ao redor do mundo foram em nome da CIA. T’Challa fez o mea culpa em nome de seu pai, mas o agente da CIA não. Se fosse na vida real, o personagem da CIA interpretado por Martin Freeman, o “Branco Amigável”, agora sabendo que Wakanda possui uma imensa quantidade de vibranium, se aproveitaria do fato de que o país deixaria de ser isolado e organizaria um grupo de pessoas para causar instabilidade política no reino, causando a revolta da população (cometer alguns assassinatos pelo caminho), dando um golpe de estado e colocando uma de suas marionetes no poder como fez, por exemplo, com Saddam Hussein, Augusto Pinochet, Castelo Branco, Manuel Noriega e Michel Temer.




Lembram quando surgiu a notícia de que um grupo de fãs da DC estava se organizando para boicotar o filme do Pantera Negra e derrubar sua nota no Rotten Tomatoes? Será que em nenhum momento ninguém parou para pensar que não eram fãs da DC e sim a articulação de grupos racistas? Ou será que é coincidência que depois de DEZESSETE filmes da Marvel os fãs da DC acharam que era hora de fazer um boicote, justamente no protagonizado por um herói negro? Se assumir racista é feio, melhor usar subterfúgios para camuflar seu pensamento. Para quem estava torcendo pelo fracasso do filme, apresento para vocês números: Até o 66º dia de exibição do filme Guerra Infinita nos Estados Unidos foram arrecadados 672 milhões de dólares, enquanto o filme Pantera Negra arrecadou 681 milhões no mesmo espaço de tempo.



Sei que dificilmente alguém teria coragem de se assumir tão racista quanto o personagem de Edward Norton em A Outra História Americana (American History X). Mas assista novamente e veja o discurso do pai dele. Um bombeiro, “um herói”, “cidadão de bem”, que é tão racista quanto o filho. Agora veja como várias pessoas que conhecemos usam EXATAMENTE os mesmos argumentos que ele. Essas pessoas estão em nosso convívio. Estão nas rodas de amigos, nos grupos de whatsapp, no local de trabalho e até nas confraternizações em família. Onde será que erramos como sociedade para permitirmos que esse tipo de pensamento ainda esteja nos rodeando?

“Aprendemos a voar pelos céus como os pássaros, aprendemos a nadar pelos mares como os peixes, mas ainda não aprendemos a caminhar pela terra como irmãos e irmãs”
Martin Luther King Jr.
Martin Luther King Jr.


Para ilustrar melhor, tivemos recentemente dois casos que expõem bem o quanto o preconceito racial está enraizado na sociedade. O cantor César Menotti (da dupla César Menotti e Fabiano), no meio do programa Altas Horas, resolve fazer uma “piadinha” ao contar um caso acontecido em um dos seus shows, em que concluía afirmando que samba era música de bandido. O youtuber Cocielo (com mais de 7 milhões de seguidores no twitter e 16 milhões de inscritos no seu canal do youtube) fez também uma “piadinha inocente” associando a velocidade do jogador da França Mbappé à sua capacidade de fazer um arrastão. O que vemos depois desses casos é a covardia de passar para o ofendido a responsabilidade por não terem “entendido a piada”, que “era só brincadeira” e “foi só um deslize” (assim como fez Willian Waack). 



A história sempre se repete: uma legião de fãs e seguidores tentando simplesmente defender o indefensável. É muito mais cômodo manter o seu “ser de admiração” em um pedestal inalcançável de uma “quase divindade” do que admitir que se trata de uma péssima pessoa (não vou nem entrar no mérito da “qualidade” do que essas pessoas produzem). É claro que com isso aparece uma enxurrada de pessoas (brancas) definindo o que é e o que não é racismo, além de determinar se o ofendido deve ou não se sentir ofendido. Como minimizar os efeitos do racismo se é algo que não lhes afeta nem nunca lhes afetou?

“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.”
Angela Davis
Angela Davis


Ônibus norte-americano com a divisão de área para brancos e negros


Com uma feliz sincronia, outro super-herói ganha destaque em uma adaptação em live action. A série do Raio Negro trata de forma adulta (além de várias outras questões políticas) sobre a questão racial e o que significa ser negro nos Estados Unidos. Longe da temática mais descompromissadas das outras séries da CW, Raio Negro consegue construir um mundo em que as pessoas, diálogos e situações são totalmente críveis (e atuais), levantando situações em que nem mesmo alguém com superpoderes conseguiria resolver. Além do mais, a trilha sonora dos episódios é excelente e chega a fazer parte das cenas (como no segundo episódio, por exemplo). É uma série que infelizmente não está tendo o reconhecimento merecido. Além de citações diretas a Malcolm X e Martin Luther King Jr. ao longo dos episódios, a série toma uma posição muito clara politicamente e usa acontecimentos atuais como o de Charlottesville como pano de fundo de sua trama. Ainda coloca um dos vilões soltando um “Let’s make America great again!”, mandando um recado direto ao comandante da Casa Branca (assim como T’Challa fez em seu discurso da ONU). Num dos episódios, Jefferson Pierce (o Raio Negro) aparece com um moletom do programa de alimentação do Partido dos Panteras Negras. No mesmo episódio descobre os efeitos de uma droga que é desenvolvida pelo governo americano (só pelo efeito causado pela droga já mereceria uma boa discussão, mas vamos deixar pra outro momento).

Jefferson Pierce, o Raio Negro




Nos anos 70 o movimento chamado Blaxploitation colocou nas telas dos cinemas os negros como protagonistas. Eram filmes direcionados a um público que não estava acostumado a se ver nas telas daquela maneira. Filmes de negros, com negros e para negros. Superfly, Shaft (com a marcante trilha sonora de Isaac Hayes), Black Belt Jones, Foxy Brown e Cleopatra Jones nos revelaram artistas como Fred Williamson, Pam Grier, Jim Kelly e Richard Roundtree, por exemplo. O movimento acabou definhando pela enorme quantidade de filmes sendo produzidos em um espaço de tempo cada vez menor (time is money) fazendo cair muito a qualidade das produções, afastando o interesse dos expectadores. 
Filme Black Ceasar


Pam Grier

Quem é o homem que arriscaria seu pescoço por um irmão? Isso mesmo.. Shaft!


Em 2009 foi lançado o filme Black Dynamite, uma divertida sátira aos filmes dessa época, com Michael J. White no papel principal e que virou animação no Adult Swim e já tem uma sequência programada para esse ano.




Os anos 80 e 90 representam a ascensão e o fortalecimento do rap com alguns nomes como N.W.A, Public Enemy, Ice T, Run DMC e Tupac Shakur (seus pais pertenceram ao Partido dos Panteras Negras). Suas letras eram carregadas de críticas sociais mostrando a realidade de uma população marginalizada e vítimas da brutalidade policial. O filme Straight Outta Compton: A História do N.W.A e a série da Netflix Hip-Hop Evolution são boas pedidas pra quem gosta e se interessa por rap e Hip- Hop.


RUN DMC

Tupac Shakur

N.W.A + Public Enemy


Infelizmente o mercado mainstream abraçou o rap relegando seu discurso de combate às desigualdades a segundo plano e transformou em uma vazia máquina de ostentação, onde o mais importante é o quanto você pode mostrar que tem mais que o outro, no melhor estilo “fique rico ou morra tentando”. Mas como diz Emicida: “A sociedade vende Jesus, por que não ia vender rap?”.




Spike Lee foi o responsável por inaugurar uma nova leva de filmes focando nas desigualdades sociais e conseqüências do racismo em terras norte-americanas. Faça a Coisa Certa abalou estruturas e colocou a questão do racismo para ser debatido amplamente (para quem gostou de Breaking Bad, procure identificar Gustavo Fring entre os atores). Outros filmes vieram abordando o tema com diversos enfoques diferentes, e outro diretor estreante fez um estrago maior ainda: John Singleton, que apresentou suas credenciais com Os Donos da Rua (Boyz’n The Hood), filme cuja exibição chegou a causar quebra-quebra em alguns cinemas.






Perigo Para a Sociedade, New Jack City e Duro Aprendizado (só para citar alguns), colocaram de volta não só o negro como um personagem central, mas apresentando uma complexidade menos pasteurizada e muito mais dura sobre a realidade. Mas, assim como foi feito com o rap, o mercado resolveu abraçar esses diretores e, com caminhões de dinheiro, comprar suas dignidades e importância no mainstream. John Singleton dirigiu o sofrível remake de Shaft, de 2000, cheio de estereótipos racistas contra os latinos, enquanto Spike Lee aceitou dirigir filmes sem importância alguma, além do dispensável remake de Oldboy. Seu último filme BlacKKKlansman (que está para ser lançado) foi premiado em Cannes e pode ser uma mudança nessa situação.


Spike Lee


Wesley Snipes em The New Jack City

Filme: Duro Aprendizado


A conscientização de um grupo social que sempre foi marginalizado era - e continua sendo - um grande risco para quem sempre exerceu o domínio, o poder e a exclusividade do uso da força. A invisibilização da cultura negra e africana (e sua influência) não é feita por acaso e é propositalmente apagada e ignorada. Ou você acha que a proibição do samba e da capoeira, e a tentativa de criminalização do funk não tem nada a ver com racismo? Ou você acha que é só “piada” quando um cantor de música sertaneja diz que samba é música de bandido?

“O sistema de racismo é muito eficaz. Para eles, um preto a menos é melhor que um preto a mais”
MV Bill



Rosa Parks, em 1955, presa por se recusar a ceder o seu assento a um passageiro branco em um ônibus.



A história nos mostra que o negro e sua cultura sempre foram marginalizados, a não ser que se possa tirar algum proveito disso. Por exemplo: quando Elvis Presley surgiu como um furacão, deixando a sociedade conservadora norte americana estarrecida, era por um motivo bastante específico: ele cantava e dançava como um negro. Lembra daquela entrevista que Elvis deu, falando de suas influências musicais, dando crédito aos músicos negros? Pois é, não tem. Ele veio do Mississipi, berço do blues e resolveu indicar como influência um tal de Carvel Lee Ausborn e mais um monte de caras brancos para agradar aos “cidadãos de bem”. Quando o Public Enemy lança “gracejos” para o “Rei do Rock” na música Fight The Power, não é sem motivo.


"Não foi racismo, não foi intencional", eles disseram.

"Não foi racismo, foi coincidência", eles argumentaram.



Quando vemos a última cena do filme Pantera Negra, em que um menino - ao se deparar com um irmão de cor daquela forma, com orgulho, bala na agulha e tecnologia superior à do homem branco - pergunta quem ele era, pode ser encarado como uma alegoria mostrando os efeitos da completa desconexão com suas raízes, sua cultura e com sua história que vêm sendo apagada há meio milênio. Um povo inteiro transformado em minoria. Uma minoria não numérica, mas de representatividade. Que lhe é permitido ser o atleta renomado, mas nunca um dirigente. Sua figura pode ser sexualizada e fetichizada, mas que não pode ter voz. Que é a última a ser atendida num restaurante, mas a primeira a ser abordada pela polícia. Essa invisibilização estrutural por aqui também é bastante “eficiente”. A importância de Zumbi até hoje é diminuída; a fantástica vida de Luiz Gama é completamente apagada; os irmãos Rebouças se resumem a nome de ruas e túneis; Machado de Assis até fica branco em propaganda de Banco.

“Emancipem-se da escravidão mental. Ninguém além de nós mesmos pode libertar nossa mente.”
Bob Marley
Bob Marley


Hoje já conseguimos ouvir diversas vozes no mainstream tratando das desigualdades sociais promovidas pelo racismo estrutural que está enraizado em nossa sociedade. Ver a série Black Mirror tratando das crueldades promovidas pelo sadismo racista no episódio Black Museum; o filme Corra, mostrando que a sensação de terror já começa a partir da abordagem policial; o fime Cara Gente Branca virar série com o mesmo nome abordando o tema; a ótima série Atlanta, com Donald Glover (O videoclipe This Is America é como um condensado do que é mostrado na série); a série do Raio Negro, já mencionada; até a Grafic MSP do Jeremias (já falamos sobre essa HQ aqui), tocando no assunto pelo olhar de uma criança que aprende desde cedo que a vida vai ser mais difícil que a de seus amiguinhos do bairro do Limoeiro. É claro que não podemos nos iludir e achar que o mundo está em rápida mudança e está finalmente se conscientizando e que todas essas obras não possuem outro objetivo que não o de lucrar em cima de um nicho de mercado que não costuma se ver representado e louco para consumir. Mas estamos aos poucos presenciando a transformação de uma população que sempre foi excluída e está em uma busca pela identidade que sempre lhe foi negada.

Para finalizar: Quem conseguiu identificar os golpes de capoeira que T’Challa deu no filme do Pantera Negra e no Guerra Infinita?
  

RESENHAS RELÂMPAGO : Junho / 2018 e Julho / 2018



Bom momento, camaradas!

Retornamos para mais um post agrupando todas as Resenhas Relâmpago dos últimos dois meses que largamos pelo Instagram e no Facebook. São vinte resenhas no total, trazendo aquele  conteúdo sagaz que vocês já se acostumaram aqui na Zona, sobre os gibis escolhidos e nossas impressões, com objetivo de dialogar tanto com quem já teve contato com o material quanto com quem não teve. E nesse bimestre praticamente teve quadrinho de tudo que é jeito!

Destaques para: Os volumes que encerram as fases de Mark Millar em Monstro do Pântano e Brian Michael Bendis em Demolidor, um grande clássico DC do maior herói de todos os tempos (que completa 80 anos esse ano!), um baita gibi nacional de horror, o segundo volume de Escalpo, uma dobradinha de The Walking Dead, uma fantástica reimaginação do Japão feudal em uma nova série da editora Mythos, o investigador do sobrenatural Dylan Dog em edição luxuosa, além do controverso (pra dizer o mínimo) Noites de Trevas - Metal. Temos até Deadpool! Uma seleção de HQs bem diversas para (quase) todos os gostos.

Sem mais delongas, divirtam-se e não se percam por aí.




THE WALKING DEAD VOLUME 21: GUERRA TOTAL - PARTE 2


O maior confronto da saga The Walking Dead continua. Com Alexandria destruída, será que Rick conseguirá unir as outras comunidades para enfrentar o exército de Negan?

Depois de mais de uma década de publicação, e do desenvolvimento de tantas situações-limite ao longo dessas 120 edições, será ainda possível criar tanta tensão, suspense e expectativa no leitor? Para minha surpresa, após terminar esse 21º encadernado, devo dizer que sim! Rick e sua coalizão seguem estóicos, resistindo ao contra ataque de Negan e seus Libertadores, as perdas continuam a acontecer massivamente dos dois lados e mais alguns personagens queridos são mortos ou seriamente feridos. As apostas são altas e o preço certamente vale a pena: Um mundo um pouco melhor, sem a opressão de outros não infectados que não querem trabalhar em cooperação. O arco conta com um final surpreendente (Não, nada simplista como "O Negan morreu!"...) e de brinde, vem com uma pergunta, que surge na cabeça do leitor após a última página: Será que Rick e sua trupe finalmente vão conseguir criar a comunidade que tanto querem agora? Ou será que vem mais problemas por aí???

Para quem, como eu, estava achando que a história não estava andando muito, o fim do arco Guerra Total certamente deu uma bela sacudida nas coisas. Até aqui, eu continuava a acompanhar The walking Dead com uma mistura de memória afetiva (afinal, são mais de 10 anos, não? Isso é uma fuckin' vida inteira!) e curiosidade, e apesar de me empolgar em um momento aqui e ali, já fazia um tempo que a HQ não apresentava momentos intensos ou reviravoltas grandiosas para o elenco. Kirkman conseguiu dar mais um fôlego para a história dos sobreviventes do apocalipse zumbi e apontar uma nova direção. Estou genuinamente curioso com o que vem por aí...
                                                                                  (Eduardo Cruz)

Compila as edições #121 a #126 da série The Walking Dead. 
144 páginas. Capa cartonada.
R$36,00


 ESCALPO – VOLUME 2

O agente do FBI Dashiell “Dash” Cavalo Ruim foi forçado a voltar ao lugar do qual acreditou ter escapado anos atrás: a Reserva Indígena Rosa da Pradaria. Para derrubar Lincoln Corvo Vermelho, chefe do crime local, Dash se infiltrou como um dos capangas do mandachuva e descobriu que a reserva continua a mesma confusão envolvendo drogas, crime e tragédias. Quando a mãe de Cavalo Ruim é assassinada e escalpelada, a lealdade do agente duplo é colocada à prova e ele é levado ao limite, até não saber mais quem é amigo ou inimigo.

Nesse volume vemos um pouco mais de flashbacks do passado de Corvo Vermelho e Gina Cavalo Ruim, sua relação passada e como vieram a se tornar inimigos. Dash se envolve cada vez mais com Carol, a filha do Chefe Lincoln Corvo Vermelho, e isso significa descer na espiral de decadência junto com ela. Mas por que ela está no fundo do poço? Essa história é contada aqui. Franklin Queda D'água está de volta à força policial, após o atentado contra sua vida, mas Corvo Vermelho tem uma proposta que pode significar uma trégua temporária. O Chefe da reserva também está com sérios problemas quando um representante dos verdadeiros investidores por trás de seu opulento cassino dá as caras na reserva. Sr. Fodão é o seu nome, e o desfecho disso não poderia ser outro senão trágico. Também acompanhamos Dino Urso Pobre se envolvendo com o crime na Reserva e cruzando o seu caminho com o de alguns outros personagens já citados aí em cima, e isso não vai ser nada bom para o pobre rapaz no final das contas...

E na sequência dessa série incrivelmente cáustica, não há elogios a serem feitos que eu já não tenha tecido na resenha do volume anterior! Sigo dizendo que essa HQ é o mais próximo que um produto da cultura pop chegou do clima tenso da série Breaking Bad e também um resgate às séries do selo Vertigo que costumavam arrebatar o leitor da primeira até a última edição! Nos últimos anos a Vertigo perdeu a mão para isso, e perdeu esse posto para a Image Comics. Escalpo é uma exceção que merece sempre ser mencionada. Mistério detetivesco, crime e até uma boa dose de misticismo sem fantasia, apenas com base em todo um folclore indígena já existente. Em alguns momentos, entretanto, o leitor vai querer dar uma parada para engolir em seco ou enxugar uma lágrima. A Reserva Indígena Rosa da Pradaria, uma nação de terceiro mundo no coração da América, é palco de dramas pesados demais para a sensibilidade de alguns leitores: Descaso, abandono, desigualdade, tristeza, miséria, falta de perspectiva e desolação compõem o cenário por onde Dashiell transita para cumprir sua missão, e o mais doloroso em ler Escalpo é saber que Aaron está mais retratando a realidade do que criando um mundo existente apenas em sua cabeça...
                                                                                   (Eduardo Cruz)

Compila as edições #12 a #24 da série Scalped.
320 páginas. Capa dura.
R$ 120,00 (Puta merda! Haja promoção!)


DEADPOOL – DEADPOOL VS. S.H.I.E.L.D

Deadpool declara guerra sozinho à agência mundial de manutenção da paz. Mas enquanto o Mercenário Tagarela prepara sua vingança, a S.H.I.E.L.D. descobre que alguém os traiu — e parece que o traidor é a agente Preston. Deadpool leva sua luta ao aeroporta-aviões da organização, com o objetivo de conseguir seu dinheiro a qualquer custo — e se vê cara a cara com o agente Phil Coulson. Pena que Coulson é tão fã do Capitão. E ainda: uma história que visita o passado do Comediante Carmim causando estragos em um nível cósmico.

Quem me conhece um pouco sabe que Deadpool não é meu perfil de leitura, e o engraçado é como tive contato com o título pela primeira vez: Estava em uma viagem com minha mulher e os gibis que eu havia levado na mala já haviam sido devidamente devorados ainda no vôo. Então, como todo bom viciado em HQs, procurei alguma coisa que pelo menos me distraísse até a volta para casa. Basicamente escolhi o Deadpool da Nova Marvel por causa das capas ilustradas por Geoff “Hard Boiled” Darrow e desenhos de Tony Moore. Surpreendentemente, o nível do roteiro da HQ extrapolou qualquer expectativa que eu tivesse projetado. Esse run, do roteirista Gerry Duggan, em conjunto com o comediante Brian Posehn acerta em cheio e torna Deadpoool a válvula de escape do Universo Marvel. O alívio cômico, a quebra da quarta parede, a profusão de referências à cultura pop, a virtude de não se levar a sério demais, o ritmo perfeito entre ação e comédia, e até alguma humanização do personagem, está tudo lá! E isso basta para se ter uma boa história de Deadpool: Fazer a Marvel rir de si mesma. Claro que toda a ultraviolência e humor negro ajudam muito a compor uma boa história do Mercenário Tagarela, e isso também tem bastante aqui...

Neste quarto encadernado, a zoação não perdoa nem o legado cósmico-psicodélico de Jack Kirby, sacaneia a nação soberana de Wakanda, e rolam até referências ao filme "Aliens - O Resgate ", e ao mercenário Lono, personagem da série 100 Balas, da Vertigo! Ah, falei também da sátira ao “Contos do Cargueiro Negro”, a história dentro da história em Watchmen, estrelando o Ossos Cruzados??? Aliás, o personagem protagoniza com Deadpool uma edição com uma luta cheia de referências homoeróticas. Não, nem perguntem ... O estudante do sexto ano que vive em mim está satisfeito com toda a comédia rasgada e humor nonsense da série. Não é a HQ que vai salvar o mercado mainstream de quadrinhos, mas é bem divertida e já serviu pra me ajudar a espantar o tédio mais de uma vez.
                                                                                    (Eduardo Cruz)
Compila as edições #20 a #25 da série Deadpool.
140 páginas. Capa dura.
R$ 40,00


HUCK

Pois é, criançada... mais um gibi do Millarworld, mais um gibi prontinho para virar um blockbuster, mais um gibi bem marromeno... Diferente da mini série Superior, onde Millar brincava com o arquétipo do Shazam, dessa vez Millar mexe com o arquétipo do Superman, contando a história de Huck, um rapaz gentil e preocupado com o bem estar de seus vizinhos, comprometido a realizar uma boa ação por dia, seja encontrando jóias perdidas, recolhendo o lixo, salvando animais... O rapaz possui uma inocência e abnegação para ajudar ao próximo que chega a ser tocante e dolorosamente anacrônica. Ah, faltou dizer que o rapaz é especial, em mais de um sentido: Huck possui capacidades especiais como superforça, invulnerabilidade, pode saltar a grandes distâncias e consegue rastrear qualquer pessoa ou objeto por instinto, e também possui uma deficiência mental não especificada, o que faz do jovem uma espécie de Forrest Gump superhumano (Eu pessoalmente me recordei do clone superhumano com síndrome de Down em Wanted, um dos primeiros trabalhos do Millarworld).

Órfão adotado pelos moradores da cidadezinha, Huck é um segredo muito bem guardado por toda a comunidade, até que uma repórter leva a público seus dons. Agora, o rapaz é levado e embarcar em uma jornada de autoconhecimento que pode desvelar seu passado e o de sua família, e o que cientistas russos podem ter a ver com tudo isso...
Apesar da bela mensagem de solidariedade, o verdadeiro superpoder que nós portamos e pouco usamos, e da experimentação em se colocar um indivíduo com um código de ética “ultrapassado” e ver como ele funciona no mundo tal qual o conhecemos – O personagem é uma resposta ao próprio Superman dos dias atuais, principalmente a versão overpower e assassina do “visionário” Zack Snyder -, Huck não empolga e é lotado de clichês, até mesmo pro padrão atual do Millar. Aqui ele bateu o próprio recorde, e novamente, surgem alguns furinhos à medida que você vai lendo a história, o que, claro, prejudica muito na imersão do leitor.

"Eu adorava o Superman quando criança não porque ele podia ser radical ou tinha o poder de uma solução fatal, mas porque ele podia fazer o que quisesse e ainda assim escolheu ser bonzinho. Pra mim isso sempre foi a moral de uma HQ de super-heróis (...) Huck é o antídoto a esses anti-heróis. Vai ser uma experiência interessante.", disse Millar em entrevistas na época do lançamento. Bem, como na maioria dos últimos trabalhos de Millar, a idéia até é boa, mas a execução deixou bastante a desejar. Resta apreciar a arte de Rafael Alburquerque (Vampiro Americano). Para os que gostam. Se você também não vai comprar nem que seja pela arte, então passe longe. No tocante a produzir histórias com conteúdo mais otimista e esperançoso em trabalhos mais recentes, Millar foi mais bem sucedido com Starlight. Já Huck é só mais uma HQ do Millar que bateu na trave...
                                                                                  (Eduardo Cruz)

Compila as edições #1 a #6 da mini série Huck.
164 páginas. Capa dura.
R$ 48,00

 BATMAN – O PRÍNCIPE ENCANTADO DAS TREVAS - VOLUME 1 DE 2

Essa HQ é o primeiro trabalho do europeu Enrico Marini (da HQ de vampiro “Predadores”) para uma editora norte americana. Devo adiantar que gostei da HQ, mas sou suspeito para dizer, já que sou batmaníaco e já elogiei histórias muito piores da Morcega. Porém, O Príncipe Encantado da Trevas é um gibi de Schrodinger, que é sensacional e ao mesmo tempo, nada tem de incrível. Mas como é que pode isso??? Eu explico: A releitura do Homem Morcego feita por Marini é simples, mas ao mesmo tempo fantástica. O artista se serviu de diversos elementos da mitologia do Homem Morcego a seu bel prazer, com total liberdade, como se estivesse em um buffet, para construir sua Gotham, seu elenco, o Batmóvel, etc. E sua arte, pintada magistralmente, é de encher os olhos. O formato gigante (33cm x 22cm), também só vem a favorecer a apreciação da história.

A trama gira em torno do seqüestro de uma menina, raptada pelo Coringa - e que por conta de alguns desdobramentos que não vou revelar aqui pra não estragar a pouca história que essa HQ contém -, e essa missão de resgate se torna algo altamente pessoal para o Morcego. Batman sacode o submundo de Gotham, aterrorizando sua galeria de inimigos em busca de pistas. E é só isso mesmo, pelo menos nesse primeiro volume.

A história, aparentemente banal, parece servir apenas de pretexto para Marini brincar com o brinquedo mais rentável da DC, e apesar desse fiapo de história, é sua arte que faz com que a experiência seja prazerosa. Uma contradição, Marini repensar tantos conceitos visuais e enquadramentos, diagramação e outros elementos, e executá-los de forma diferente dos americanos, mas lançando mão de um roteiro altamente batido. Não tenho um estranhamento assim tão positivo em ver um personagem de comics americanos retratado pelo traço de um europeu fodástico desde a graphic novel Wolverine – Saudade, de Jean-David Morvan e Philippe Buchet. Fãs da Morcega vão ficar satisfeitos (Ah vá, vocês engoliram “Batman – Silêncio” e vão reclamar disso aqui???), civis em geral vão se sentir bem à vontade com essa história altamente acessível para quem não costuma ler quadrinhos, e os mais exigentes vão ceder frente à incontestavelmente competente arte. O acabamento e tamanho da HQ estão bem camaradas para o preço de capa, uma coisa cada vez mais rara depois dos reajustes da Panini.
Então, resumindo, não espere por um novo Asilo Arkham, Piada Mortal ou Ano Um, mas ainda assim pode ser que vocês se surpreendam. Será que o segundo volume vai ser mais ousado, vão haver reviravoltas ou alguma sacudida do tipo? Não sei, mas se a arte continuar nesse nível, já estou satisfeito...
                                                                                  (Eduardo Cruz)
84 páginas. Capa dura.
R$ 25,00

GUIA CULINÁRIO DO FALIDO EM QUADRINHOS

Estar com pouca grana não é desculpa para comer qualquer porcaria enlatada ou pré-pronta. E os autores desse excelente Guia estão dispostos a te levar para a cozinha e ensinar a arte de preparar um prato rápido e delicioso que vai custar pouco, matar a sua fome e também agradar aqueles amigos que te visitam sem avisar antes. Ou quase isso.

No cardápio, o chef Leo Finocchi ensina a preparar o “macarrão abandonado”, cujo ingrediente secreto é jogar bastante videogame. Para o “delicioso hambúrguer” da chef Marília Bruno, carne de boa procedência é essencial, a não ser que você tenha bastante anticorpos. Na “craca vegetariana” da chef Samanta Flôor, impressione com um prato saudável indiano (ou uma versão parecida), frite seus vegetais e temperos e descubra o segredo para obter a deliciosa craca. Também separe sua melhor caneca e impressione mais ainda, porque “bolo na caneca com calda de chocolate” é a resposta para quase tudo nessa vida e garantia de felicidade.

Pôr calças ou não é indiferente no preparo do “yakimeshi surpresa” e do “brigadeiro de panela monstro” do chef Felipe 5horas, que se resumem a mexer e remexer muito com as mãos na frigideira e tomar MUITO cuidado com o fogo.
Descubra porque gatos podem ser ótimos auxiliares de cozinha e aprenda a fazer o “molho maravilhoso da Fer” com a chef Fernanda Chiella.
Curtiu o novo Mad Max? Então separe a guitarra lança chamas e entre no Interceptor V8 para preparar a sensacional “mad coxinha fury road”, cujo sabor te levará diretamente ao Valhalla!

Leitura leve e com ótima narrativa, o Guia do Culinário Falido diverte e também te salvará daqueles perrengues gastronômicos no futuro. Bon appétit!
                                                                                                (Ray Jr)

Publicado pela @balaoeditorial
Formato: 14x21 cm
32 páginas, preto e branco
R$12,00
Também disponível no catálogo do @socialcomicsbr

DEMOLIDOR – O DEMÔNIO DO PAVILHÃO D

UM HERÓI ATRÁS DAS GRADES.

Os maiores pesadelos do Demolidor voltam para assombrá-lo, desta vez com mais força do que nunca. Provas de sua verdadeira identidade são trazidas à tona, e Matt Murdock é levado preso por obstrução da justiça e por agir à margem da lei como o herói mascarado da Cozinha do Inferno. E esse é apenas o começo de seus problemas. A vida atrás das grades cobra um preço alto demais, levando a Matt perigosamente à beira da insanidade. Visado por praticamente toda população carcerária e pelos guardas, o Homem Sem Medo precisa liberar seu lado mais selvagem para sobreviver em meio a inimigos. Uma situação que fica ainda mais desesperadora quando o Justiceiro e o Rei do Crime chegam à Ilha Ryker.

Lembram quando eu comentei na resenha relâmpago do volume anterior que a fase do Bendis em Demolidor se equipara à fase de Frank Miller? Bom, se me permitirem uma retificação, a fase de Brian Michael Bendis frente ao guardião da Cozinha do Inferno é a melhor fase do personagem até agora. PONTO.



Não, não quero ser polêmico e menosprezar o trabalho de Miller, que verdadeiramente definiu o personagem e criou toda a mitologia que é utilizada por roteiristas até os dias atuais. Pô, ele inseriu o misticismo ninja nas histórias do personagem, criando Elektra, Stick e o Tentáculo, que na minha opinião como moleque que cresceu assistindo a filme de ninja nos anos 80, são a melhor coisa na mitologia do Demolidor!

Mas só estou expondo a minha opinião pessoal, que foi formada ao longo da leitura desses encadernados da Fase Bendis. Foi uma viagem divertida e eletrizante, nesse crescendo que se inicia com a revelação da identidade secreta do Demolidor e em como ele tem que se desdobrar, e muitas vezes mentir para não confirmar seu alter ego para o mundo, e que termina nessa transição Bendis/Brubaker, com Matt Murdock preso na Ilha Ryker, no limite da sanidade, com os nervos à flor da pele.

Confesso a vocês que foi a HQ mais empolgante que tive a sorte de ler nesses últimos meses! Bendis entrega a revista para Ed Brubaker com um Murdock afundado de problemas, e o que o Brubaker faz? Aumenta ainda mais as apostas e complica ainda mais a vida do ceguinho, mostrando que Matt Murdock é um dos personagens mais atormentados das HQs. Brubaker joga gasolina na fogueira adicionando Frank Castle, o Justiceiro, a esse rolo medonho de Murdock na prisão! Uma das melhores participações especiais de Castle, com certeza. Curtinha, mas arrebatadora! Mas a confusão não se limita ao Justiceiro: Outros antigos inimigos aparecem nesse arco, que provoca mais euforia do que café, dedo molhado na tomada e meia tonelada de metanfetamina combinados! Além disso, vemos outro Demolidor, que assume a vigilância da Cozinha do Inferno enquanto Matt ainda estava preso, e o acerto de contas entre os dois. E um personagem importante para Murdock “morre” e ele vasculha a Europa atrás de pistas da identidade do responsável.

Quem inventa uma máquina, ferramenta, instrumento musical, dispositivo ou o que quer que seja não é necessariamente seu mais exímio usuário. Stan Lee e Bill Everett criaram o personagem, mas após décadas de histórias medianas, foi Miller quem subiu o nível do ceguinho pistola. Seria tão difícil admitir que o raio pode ter caído outra vez no mesmo lugar nas fases Bendis/Brubaker? Ao final do run de Bendis, (quase) tudo é concluído de forma satisfatória e inteligente, sem recorrer nenhum a deus ex machina impossível ou qualquer outro recurso tacanho que menospreze a inteligência do leitor (Claro que ainda tem aquele cacoete enervante dos diálogos picados, mas isso não compromete, afinal é assim que o Bendis assina suas histórias heheheh), e o mais gratificante de tudo: Seu sucessor foi competente o suficiente para manter a bola no alto e tocar em frente com alto nível. Não acompanhei a fase Brubaker quando a Panini a publicou pela primeira vez no Brasil, mas certamente não vou perdê-la de vista nessas republicações!
                                                                                      (Eduardo Cruz)

Compila as edições #76 a #93 da série Daredevil.
444 páginas. Capa Dura.
R$ 129,00


CARNIÇA

Publicado em novembro de 2017, o quadrinho de terror escrito por Rodrigo Ramos e desenhado por Marcel Bartholo é uma grata surpresa no circuito independente. Ao recontar a lenda folclórica do corpo-seco adicionando elementos da literatura de horror clássico de Edgar Alan Poe e dos filmes de body horror dos anos 80, a dupla de autores traz uma ambientação de cidadezinha de interior com seus típicos regionalismos e decadência no escopo moral/social, um terrível e alarmante retrato da nossa realidade.

Após um ato de extrema crueldade, Jonas embarca numa espiral de culpa e sofrimento, onde uma lenta deterioração física e mental o leva aos tênues limites da sanidade. Em meio a isso, a chegada de um visitante inesperado tende a piorar ainda mais o pesadelo vivo do protagonista.
A arte de alto nível captura a atenção do leitor do início ao fim. Baseada no quadro “Os Retirantes” de Cândido Portinari, tem a visceralidade necessária para a trama e uma união de roteiro e arte louvável.

Reunindo toda aquela essência dos causos, histórias assustadoras que são passadas de geração pra geração e que impressionam principalmente as crianças, Carniça é um conto de terror curto que deixa o leitor ansioso por mais.

Já anunciado, o novo quadrinho da dupla está em produção e tem previsão pra ser lançado em dezembro desse ano, na CCXP. Nós aqui da Zona já estamos no aguardo.
                                                                                               (Ray Jr)

Formato 21x28 cm,
Colorido, lombada canoa com grampos
24 páginas
R$20,00

VINGADORES – TEMPO ESGOTADO VOLUME 1

OS ILLUMINATI ASSASSINARAM UM MUNDO. O DELES É O PRÓXIMO.

A cataclísmica saga de Jonathan Hickman atinge seu clímax épico. Para os Heróis Mais Poderosos da Terra e os Illuminati, tudo caminhava para isso – o dia da Incursão Final! Oito meses após os acontecimentos de Pecado Original, e a revelação do desespero dos Illuminati ao lançar mão da destruição de mundos, muita coisa mudou para os Vingadores. Como eles conseguiram sobreviver aos seus pecados? E a Cabala surge reformulada, contando com um novo e mortal elenco… mas com propósitos complexos. Ambas as equipes lutarão para salvar seu mundo, no entanto, será mesmo que todas as lutas que travaram e todos os sacrifícios que fizeram as prepararam para o momento inevitável em que o tempo se esgota para todos?

Um Capitão América envelhecido, a S.H.I.E.L.D. com cara de organização maligna opressora, semelhante à época da H.A.M.M.E.R. de Norman Osborn, Susan Richards caçando antigos colegas super heróis, a Capitã Marvel com um uniforme em tons de cinza, drones do Máquina de Combate controlados remotamente, Tony Stark desaparecido, Thor com uma prótese no braço, o que restou dos Illuminati fugindo desesperadamente, Namor pedindo ajuda a Victor Von Doom... A primeira leitura desse encadernado vai dar impressão de que muita coisa aconteceu e pegamos o bonde andando ou perdemos algum volume anterior, mas é isso mesmo: Hickman ambientou a trama de "Tempo Esgotado" oito meses à frente. Adiantando a cronologia assim, é claro que ficou uma leitura meio confusa, e o entendimento vem truncado, bem diferente dos volumes anteriores. Mas em Hickman eu confio e acredito que os próximos volumes vão jogar uma luz nesse puteiro todo, de pequenas coisas que acontecem em diversos núcleos de personagens. Vejam bem, não estou dizendo que é ruim, só está um tanto quanto desconexo ainda, mas certamente foi intenção do autor causar esse efeito no leitor, então compro a idéia e segue o baile, vamos ver esse quebra cabeça se montando nos próximos volumes? Acredito que sim!

Pouca coisa realmente avança aqui, há uma quebra de ritmo em relação à montanha russa que foram os últimos encadernados de Vingadores e Novos Vingadores. Mas já é a reta final, e faltam só mais 3 encadernados para a finalização das duas séries, que fatalmente desembocam no megaevento multiversal “Guerras secretas”. Sinto o cheiro de um clássico da Marvel nascendo, mas só posso responder com certeza quando pegar isso tudo pra reler desde o começo heheheheh....
                                                                                  (Eduardo Cruz)

Compila as edições #35, #36 e #37 de Avengers e as edições #24 e #25 de New Avengers.
148 páginas. Capa Dura.
R$ 42,00

STARLIGHT- O RETORNO DE DUKE MCQUEEN

Por mais de uma vez aqui na Zona já pontuamos o quanto Mark Millar anda vacilando em alguns gibis recentes do Millarworld que aparentam ser roteiros pré-fabricados cheios de clichês para serem vendidos pro cinema ou pra televisão. Apesar disso, o gênio do marketing pessoal é um roteirista competente, e quando consegue deixar de lado a fórmula do roteiro superficial e enlatado que vai agradar executivos e grandes estúdios, costuma entregar boas histórias. É o caso de Starlight.

Quarenta anos atrás, Duke Mcqueen foi um herói espacial que libertou um planeta inteiro da tirania. Porém, ele retornou para casa, se casou, teve filhos e envelheceu como um homem sem nada além de suas próprias lembranças, até uma noite, quando uma nave desce dos céus e o chama para uma última aventura. Junto a Mark Millar, Goran Parlov assina a arte. O ex- desenhista da Sergio Bonelli Editore sempre me deixou satisfeito com seus desenhos aparentemente simples demais, mas único em traço e que possui uma narrativa e ritmo impressionantes. É o que dizem, o simples na maioria das vezes é o mais importante. Aqui também não faltam reverências ao mestre Moebius em suas composições de cenário.

Starlight é uma história otimista, tocante e humana. Utiliza muito bem todos os clichês, situando o leitor e lhe dizendo tudo o que precisa saber sobre aquele universo e personagens de forma ágil, apesar do peso de mais de 40 anos de cronologia. Bela homenagem a Flash Gordon e Buck Rogers, ícones das tiras de sci-fi space opera dos anos 30. Um dos motes principais em Starlight é reforçar a importância e o poder descomunal que as lendas tem para inspirar pessoas a serem melhores, lutarem por um ideal, transformar suas vidas e não se renderem a medos e a opressão.

Mr. Millar pode ter se vendido para a Vênus do Varejo (Venus of the hardsell, no original ;>)), da qual John Constantine falava em suas músicas na época da Membrana Mucosa, mas o escocês mostra que ainda manja dos paranauê e ainda é mais do que capaz de entregar boas histórias de vez em quando.
                                                                                              (Ray Jr)

Compila as edições #1 a #6 da mini- série Starlight.
168 páginas. Capa dura.
R$56,00 ( Ta de brincation uite me, Panini?)


NEUROCOMIC - A CAVERNA DAS MEMÓRIAS

Em um passado distante, na faculdade, tive contato com uma matéria que se tornou minha favorita de todas, pelo tempo que cursei, até mais divertida do que os experimentos com os ratinhos: Neuroanatomia. 

Por dois semestres aprendi, com dois excelentes professores, sobre sinapses, neurotransmissores, lobos cerebrais, circunvoluções, dopamina, serotonina, sistema límbico, tronco encefálico, etc... Não me sentia tão envolvido e atraído por um assunto desde o ensino médio, com as aulas de geopolítica que nosso professor ministrava de forma tão incrível. Tudo em Neuroanatomia parecia interessante, as aulas pareciam frustrantemente curtas e dali aumentou meu fascínio por esse supercomputador que carregamos dentro da caixa craniana. Por isso, mesmo sem nunca ter ouvido falar dessa graphic novel, quando a Darkside Books anunciou Neurocomic - A Caverna das Memórias, tive que dar uma conferida. O resultado é bem maneiro pra quem se interessa pelo assunto.

Essa HQ tem um diferencial bem respeitável a seu favor: É produzida por uma neurocientista, a Dra. Hana Roš, e um ilustrador científico formado em Neurociência, o Dr. Matteo Farinella (e sim, eles são doutores DE VERDADE, não são como aqueles adEvogados de porta de cadeia que conhecemos por aí, a um real a dúzia...). A história narra, em tons de fábula, num clima de Alice no País das Maravilhas, o funcionamento do cérebro humano em seu nível mais elementar. Como os neurônios trabalham, como se processa a memória, como os neurotransmissores operam no funcionamento cerebral, tudo isso com várias participações especiais, de pioneiros da neurociência relatando e comparando suas descobertas entre si, para deleite e esclarecimento do leitor. Acompanhamos o protagonista através de florestas de neurônios, Cavernas de memórias e castelos de ilusão, metáforas e analogias redondinhas e perfeitamente compreensíveis tanto para o público juvenil e adulto. O resultado é uma jornada divertida e instrutiva, onde desvendar os processos da mente humana se torna tão simples quanto ler um gibi. Poucas pessoas conseguem transmitir conhecimento, ainda mais conhecimento assim complexo, de forma tão simples e direta.

Neurocomic consegue a façanha de ter leveza na mesma proporção em que transmite conhecimento, sem perder a faceta lúdica, um pouco do funcionamento da máquina mais incrível do planeta Terra, e que alguns teimam em fazer mau uso defendendo idéias imbecis como Terra plana, ou taxando nazismo como sendo de esquerda, ou chamando velhos desequilibrados de "mito" e outras coisas lamentáveis. O equipamento é sem dúvida fantasticamente incrível, mas parece que 90% dos usuários só faz besteira com ele, confundindo massa encefálica com massa fecal...
                                                                                  (Eduardo Cruz )

144 páginas. Capa Dura.
R$ 54,90

 DYLAN DOG - MATER DOLOROSA

Em dezembro de 2017 a @editoralorentz publicou no Brasil a premiada história de Dylan Dog chamada Mater Morbi. Agora tendo readquirido os direitos de publicação, a Mythos lançou recentemente Mater Dolorosa, edição comemorativa de trinta anos do personagem (número 361 italiano) que marcava o retorno do roteirista de Mater Morbi, Roberto Recchioni e de sua personagem, com a arte pintada estratosfericamente linda de Gigi Cavenago em um encadernado primoroso que fará qualquer fã de Dylan Dog ficar extasiado.

Anteriormente em Mater Morbi, que conta com arte de Masssimo Carnevale e originalmente publicada em 2010, vemos o detetive do pesadelo acometido por um mal súbito e inexplicável que o deixa acamado em um leito de hospital as portas da morte. Seus pesadelos o arrastam aos domínios de Mater Morbi, a Mãe de Todas as Doenças, que tem planos de mantê-lo por lá como um escravo. Os conceitos acerca da personagem, apesar de claramente chupinhados dos perpétuos de Sandman, são bem interessantes. O problema é a execução. Mater Morbi é reduzida a um clichê de femme fatale vestida em tiras de couro, sadomasoquista e mimada ao extremo, que é facilmente enganada pela lábia do detetive. Muito pouco para uma entidade conceitual que existe desde o início dos tempos e detém o poder sobre toda praga que já assolou a humanidade. Apesar do problema com o antagonista, é uma trama bem construída e que carrega a essência das histórias de Dylan Dog. Só é superestimada.

Em Mater Dolorosa, publicada originalmente em outubro de 2016, o retorno da Mãe de Todas as Doenças impulsionará Dylan a enfrentar traumas reprimidos de infância, fazendo-o descobrir que a obsessão de Mater Morbi vem de bastante tempo. De quebra, alguns retcons são inseridos na origem do personagem. Desnecessários, por sinal. A idéia clara em Mater Dolorosa é utilizar do evento de celebração do personagem para fazer algumas mudanças, inserindo novos elementos na historiografia do personagem para direcionar as histórias mais atuais. Definitivamente não é uma trama padrão Dylan Dog.

Ao contrário do que ouvi falarem por aí, essa edição NÃO é uma boa porta de entrada ao universo do detetive do pesadelo. A história faz referência a acontecimentos de edições anteriores e apesar do texto editorial no início tentar elucidar algumas delas, a trama tem muita carga cronológica pra quem nunca teve contato com Dylan Dog.

Várias outras histórias mais autocontidas e sem esse peso cronológico servem melhor como porta de entrada. Apesar de ter adorado a edição de luxo, lançar uma história tão adiantada cronologicamente sendo que o histórico de publicação do título no Brasil é bem problemático, chegando a ficar abandonado por anos, não foi das melhores decisões. Dylan Dog precisa sim, é ser organizado cronologicamente em publicações periódicas. O que não é difícil, a Panini conseguiu com Hellblazer. Por favor Mythos, nunca te pedi nada.
                                                                                              (Ray Jr)

104 páginas. Capa Dura
R$69,90

SUPERMAN – AS QUATRO ESTAÇÕES

Antes do Superman e antes de Metrópolis, existiu Clark Kent, vindo dos céus em uma nave, adotado por um casal de humildes fazendeiros e criado como qualquer outro menino do Kansas. Mas Clark não era um garoto como os outros: Vindo de um planeta distante, a radiação de nosso sol amarelo alterou sua fisiologia e tornou Clark capaz de realizar feitos impossíveis para qualquer outro ser humano na Terra. Mas existem limites para alguém que pode tudo? Todo mundo conhece a origem do Superman, bem como suas aventuras como campeão de Metrópolis. Mas, e nesse intervalo? Como Clark veio a ser quem é, conhecer seus poderes e suas limitações? Como ele seguiu por esse caminho e assumiu a missão de protetor da humanidade? Superman - As Quatro Estações conta a história do personagem a partir de sua adolescência até o começo de sua fase adulta quando se torna repórter do Planeta Diário em Metrópolis. A mini série é dividida em 4 partes: Primavera, verão, outono e inverno, cada uma narrada por um personagem com forte influência na vida de Clark/Superman: Jonathan Kent, Lois Lane, Lex Luthor e Lana Lang.

Em 2018 Superman completa 80 anos, e a Panini comemora lançando várias HQs essenciais do Homem de Aço, entre elas, Superman – As Quatro Estações. É um bom começo. Vale dizer também que essa HQ inspirou totalmente a criação e as primeiras temporadas de Smallville, que depois degringolou mas agradou muito os fãs até certo ponto. A história humaniza nosso kriptoniano favorito sem adulterar seu cânone, ressaltando as qualidades pelas quais ele é tão querido por seus fãs. Um alienígena humano, demasiadamente humano, que vai de grandes demonstrações de poder a pequenas boas ações que salvam uma única vida, ou apenas confortam alguém desesperado, sem perder a inocência nem a ternura. Muito semelhante, aliás, ao terno Superman de “Grandes Astros Superman”, HQ da dupla Morrrison /Quitely. Quem é fã de Superman pode ter 100% de certeza que vai amar a história, vomitando arco-íris. Já quem não gosta tanto do personagem ou não curte o arquétipo do super herói todo poderoso, mas ainda assim puro e benevolente, pode não se conectar tão bem assim com a HQ. Além da história principal, essa edição da Panini tem mais três histórias curtas da mesma equipe criativa, publicadas anteriormente em outros títulos, sempre com essa temática sensível, inclusive a história onde Loeb homenageia seu filho Sam, falecido em 2005, aos 17 anos, após uma batalha contra um câncer ósseo. A edição também tem algumas páginas de esboços e três postais do Superman de brinde.

A autoria é de Jeph Loeb, com arte de Tim Sale, autores da excepcional trilogia Batman - O Dia Das Bruxas / O Longo Dia Das Bruxas / Vitória Sombria, e também da clássica (rsrsrsrs) trilogia das cores da Marvel: Homem-Aranha – Azul, Demolidor – Amarelo e Hulk – Cinza. Aqui eles continuam o bom nível, com mais uma história acima da média, e as splash pages de Sale fazem com que a gente passe por cada página beeeeem devagar, curtindo cada detalhe. A sensibilidade do roteiro faz o leitor pensar “Será esse o mesmo Jeph Loeb que escreve aquelas porcarias em 90% dos seus trabalhos nos quadrinhos?”. Pois é, sempre me perguntei como Loeb pôde durar tanto tempo na indústria de quadrinhos sendo tão ruim. Um dos poucos roteiristas que me deixaram com raiva ao terminar de ler uma de suas HQs (coff, coff, Os Supremos volume 3, coff, coff!), os trabalhos de Loeb com o artista Tim Sale são um caso à parte. Na verdade, eu diria que é a única maneira segura de se consumir uma história do Jeph Loeb: Apenas se ele estiver acompanhado de Tim Sale. Caso contrário, corra!!!
                                                                                  (Eduardo Cruz)

Compila as edições #1 a #6 da mini série Superman For All Seasons e as histórias curtas "When Clark Met Bruce", “Prom Night" e “Sam’s Story”.
228 páginas. Capa Dura.
R$ 74,00

MONSTRO DO PÂNTANO - RAÍZES DO MAL VOLUME 6

"Até o instante da iluminação, achei que meu propósito aqui fosse proteger o mundo dos excessos da humanidade. Agora vejo que eram apenas os últimos vestígios do ego humano em busca de uma função. Ninguém tem autoridade moral; certo e errado variam constantemente conforme perspectivas. Todo ser na Terra tem capacidade de ferir ou curar... e agora que estive dentro de cada pele e olhei por cada olho, meus medos quanto ao futuro se desfizeram. Compartilho das esperanças e sonhos do mundo inteiro, assim como cada ser vivo ao meu redor. Por uma fração de segundo, todo corretor da Bolsa soube como é ser uma folha de grama, cada átomo soube como é ser um bebê com fome. Pela primeira vez em muitos anos, a Terra ficou imensa e todos entenderam cada consequência de cada atitude já tomada. É assim que o mundo será salvo."

E chegamos à conclusão de mais uma série clássica da Vertigo. O Monstro do Pântano de Mark Millar e Phil Hester, concluído na edição #171, bem como este volume da publicação, descontinuado após essa conclusão. O Monstro do Pântano só voltaria a ser publicado no ano 2000, com numeração reiniciada e roteiros de Brian K. "Saga" Vaughan (Mas isso é papo para outro texto ;>).

A Palavra, um análogo do Espectro - Sendo o Espectro a ira de Deus e a Palavra a Voz de Deus, ainda mais poderoso que seu irmão - é invocado para enfrentar o multi-elemental Holland, que se tornou ainda mais poderoso, incorporando o Verde, o ar, as águas e a terra em sua essência, para impedi-lo de causar um cataclismo no planeta, reeescrevendo toda a biosfera e apagando a humanidade. Holland está cada vez menos em contato com sua parte humana à medida que foi crescendo em poder por agregar os parlamentos em sua própria forma elemental, restando apenas o parlamento do fogo para o controle de tudo.

Apesar do tom de desastre iminente, paira a sensação que uma frase pode resumir: "Tudo vai ficar bem no final.". A frase define o tom do arco, bem como define o run de Millar: O escocês iniciou à quatro mãos com Grant Morrison, porém por um desentendimento entre os dois, Millar logo estava assumindo os roteiros sozinho. Sendo um novato no mainstream, esse início de run, publicado nesta coleção "Raízes do Mal", foi um tanto confuso e truncado - Inclusive tenho alguns amigos que desistiram de acompanhar a coleção pelo caminho -, porém ali por perto da metade, tudo entrou nos trilhos e Millar entregou um final muito digno, belíssimo. Millar cria momentos tocantes sem pieguismo, encerrando arcos de certos personagens de formas que o leitor jamais poderia imaginar. Muitas boas surpresas e um punhado de cenas que aquecem o coração.

Como nem tudo são elogios, devo ressaltar um furinho: Apesar de todas essas revoluções no planeta e todos os parlamentos envolvidos, o Vermelho não foi mencionado, ainda mais depois da revolução que Delano causou no título do Homem Animal, inserindo o Vermelho na mitologia da DC. Em um universo compartilhado, essa foi a pisada de bola de Millar. Holland trafega por todos os parlamentos elementais, porém o Vermelho foi ignorado. Mas ainda assim isso não comprometeu a conclusão da história conduzida por Millar. Realmente deu tudo certo no final. Faltam adjetivos para descrever a beleza de certas cenas, só mesmo lendo. Ó Millar, por quê paraste de escrever assim???
Millar usa um recurso que requentou anos depois: Sobre um ser acabar se tornando tão poderoso que acaba desenvolvendo uma espécie de consciência superior. Ele voltaria a usar esta cartada em The Authority, no arco "Terra Infernal", mas de uma forma um pouco diferente, então OK. Apenas comentando que notei alguém se auto plagiando-se a si mesmo de leve hehehe. Segue o baile.

Ah, e participação especial de John Constantine, como não poderia deixar de ser! A criação de Constantine foi dentro das páginas de Monstro do Pântano, no run de Alan Moore, por isso, nada mais justo que o patife desse as caras nesse encerramento de volume. E que bela participação! Podem falar o que quiser do Millar, mas coloquem ele no lado certo da lista: Daqueles roteiristas que SABEM escrever John Constantine: As bravatas e blefes que saem da boca do mago, a magia, sutil mas sempre atuante, as tentativas de se dar bem e as trambicagens em vários níveis, trapaceando a todos. Ah, e como não pode deixar de ser, o indefectível cigarro é atrelado a um momento chave da trama. Um show à parte. Bravo, Mr. Millar!

Assim como a conclusão de Jamie Delano para Homem-Animal, onde uma utopia era instaurada, o que tornou quaisquer conflitos futuros no universo DC obsoletos, e portanto, foi desconsiderado na cronologia antes mesmo de qualquer reboot, Millar também dá um desfecho "definitivo" para o monstro do Pântano e o restante do universo DC à sua maneira, conclusão arrebatadora e utópica como o final de Promethea, de Alan Moore, em um evento de iluminação coletiva que gostaria de sonhar um dia ser possível no mundo real...
                                                                                   (Eduardo Cruz)

Compila as edições #166 a #171 de Swamp Thing.
156 páginas. Capa cartonada.
R$ 23,90.

THE WALKING DEAD VOLUME 22 - UM NOVO COMEÇO

E após a grande guerra que sacudiu as comunidades de Alexandria, Hilltop e o Reino, ao que parece, Rick e seus companheiros conseguiram sair vitoriosos, integrando as três comunidades em harmonia e restituindo a seus habitantes um senso de normalidade... ou o mais próximo possível disso após anos de violência, perigos, privações e traições. Seguimos um novo grupo de sobreviventes que vai ao encontro da comunidade administrada por Rick, o vilarejo de Alexandria. Pelos olhos destes recém chegados, tomamos conhecimento do fato de haver um lapso de cerca de dois ou três anos após os eventos do último encadernado, Guerra Total parte 2, e algumas perguntas bombásticas já são respondidas ao leitor quase que de cara, como o destino de Negan. Rick conseguiu com a ajuda de Andrea, Jesus, Eugene e alguns outros erigir uma comunidade funcional, reativar ofícios fundamentais para o bem coletivo, prover necessidades básicas e até pequenos luxos, tudo amparado por um sistema de escambo que parece ir bem. Mas pera... aquilo ali que eu vi foi um lampejo de fascismo? Rick ficou embriagado de poder ou só pirou de leve mesmo? Onde isso vai dar??? E o que são aqueles zumbis que... sussurram?!?!?!?


Mais uma vez Kirkman surpreende, levando a história a um rumo novo, em seu épico sobre o fim de uma civilização e o início de outra. A série parecia esgotada de possibilidades e caminhos até então, mas chegamos a mais um ponto interessante: Após o fim da sociedade como a conhecemos, como será a cara da sociedade que vem a seguir? Velhos imbróglios, que já estavam cansando alguns leitores, são deixados para trás e surgem novos problemas nesse mundo novo que vem sendo revelado pouco a pouco. Sem esquecer, é claro, os pequenos dramas humanos que sempre foram o ponto forte da HQ, como o fato de Rick não conseguir lidar com o crescimento de Carl ou o rumo do relacionamento de Eugene e Rosita. Surgem também novos personagens interessantes, mas depois de tantos anos lendo TWD, desenvolvi um radar e sinto que tem personagens que estão sendo desenvolvidos só pra morrerem do nada, o que já é uma tradição da HQ desde sempre rs. O "presente" da trama já se mostra bastante interessante, mas eu quero mesmo é ver o Kirkman contar o que houve nesse hiato de três anos, em especial o destino de Michonne. Até o próximo volume, ansiosamente!
                                                                                    (Eduardo Cruz)

Compila as edições #127 a #132 da série The Walking Dead.
144 páginas. Capa cartonada.
R$36,00

OKKO - O CICLO DA ÁGUA

Uma exótica e fantástica versão do Japão feudal imaginada pelo artista HUB, pseudônimo de Humbert Chabuel. O místico Império de Pajão é uma terra de samurais, katanas, deuses e magia, que não deixa de ter sua semelhança com a Terra do Sol Nascente. Na Era Asagiri, também chamada de Tempo das Neblinas, inúmeros clãs lutam para conquistar toda o Pajão, causando inúmeros conflitos que assolam a nação. Longe dos campos de batalha, Okko, um ronin excepcionalmente habilidoso, lidera um grupo de caçadores de demônios dos quais fazem parte Noburo, o misterioso gigante mascarado e o monge bêbado Noshin, com poderes de conjurar espíritos da natureza. Quando a irmã de Tikku, a gueixa Pequena Carpa é raptada por piratas, o jovem pescador convence o bando a ajudá-lo, mas essa busca terá seu preço e os levará para o centro de uma grande aventura.

Taí mais uma bela surpresa dentre os quadrinhos inéditos no Brasil publicados em 2018. Se você está a fim de dar um tiro no escuro e não quer se arrepender abraçando uma série nova (Okko é fechado em quatro volumes) e curte aventura com toques de fantasia, espada e feitiçaria e/ou cultura nipônica, Okko vai agradar, e muito! A reimaginação da Terra do Sol Nascente feita por Chabuel, um francês, vai descer como um crepe de tempura: É uma mistura que a princípio parece bizarra e improvável, mas tem um paladar extraordinariamente bom, apesar do exotismo da mistura. O traço de HUB é fantástico, limpo, detalhado, com diagramações de página impecáveis, personagens bem construídos e cenários grandiosos, daqueles que você para de ler para ficar admirando a arte mais um pouco, ou sejE, um típico exemplar do melhor que os quadrinhos europeus podem oferecer. Como se não bastasse, a história é consistente e envolvente. A reimaginação de um Japão, não não, perdão, um Pajão feudal, com magia, elementos de low tech, muitas lutas, duelos de espadas e espíritos elementais cria um mundo rico, o que só facilita a expansão da mitologia para o artista, deixando muitos caminhos abertos para serem desenvolvidos, o que é exatamente a minha expectativa para os próximos volumes. Fui arrebatado pelo mundo imaginado por HUB e espero ansiosamente revisitá-lo em Okko - O Ciclo da Terra, possivelmente o próximo volume da saga.
                                                                                    (Eduardo Cruz)

Compila os dois volumes de Okko - The Cycle of Water.
100 páginas. Capa dura.
R$ 79,90. (Mas tem umas promoções incríveis por aí, é só procurar...)

 NOITES DE TREVAS - METAL VOLUME 1

Desde os primórdios dos tempos, algo sombrio vem se infiltrando no Universo DC. Usando poderosos e raros metais como veículo, essa força maligna aguarda o momento certo para atacar e destruir tudo o que conhecemos. Agora, o Batman corre contra o tempo para evitar o pior, porém tem que lidar com uma realidade cruel: Nem todo seu lendário conhecimento parece ser capaz de deter esse mal. Alianças improváveis terão que ser feitas, combates impossíveis serão travados. E o futuro nunca mais será o mesmo.

Scott Snyder segue com poderes de arquiteto do atual Universo, ou melhor, Multiverso DC e ao lado do roteirista James Tynion IV, que também não é lá essa coca cola toda, entregam mais "uma mega saga que promete abalar as estruturas do Universo DC" (Mês sim, mês não se usa essa frase nas grandes editoras rs). Noites de Trevas - Metal mexe com a cronologia da DC, relacionando o metal enésimo, das páginas de Gavião Negro, os anéis dos Lanternas Verdes e outros metais raros do universo DC, em uma trama rocambolesca que envolve elementos criados por Grant Morrison em Batman, como o "deus" Barbatos, o Multiverso DC, também escrito por Morrison, e tenta dar uma maior importância para o coitado do Duke, o mais recente Robin, criado pelo próprio Snyder. Existem também referências à Crise nas Infinitas Terras e mais um capítulo da novela dos múltiplos Coringas, uma idéia que a DC levantou e agora não sabe bem como desenvolver e que foi passando de roteirista para roteirista, feito batata quente. Tudo isso envolvido em uma temática "ishperta", pra atrair a molecada, linkada ao Heavy Metal. Acho que desse ponto de vista "estratégico", saiu pela culatra: A molecada não tem curtido muito metal atualmente, e uma HQ cujo título me faz pensar no vocalista Detonator da banda de Comic Metal Massacration, gritando "MÉTÁÁÁL!!!" é meio difícil de levar a sério.

Fico fascinado com os recordatórios de Snyder, que conseguem ser imensos, e ao mesmo tempo comunicarem tão pouco ao leitor. Um mestre na encheção de linguiça, um embuste nos comics americanos nunca visto desde Jeph Loeb, que só trabalha bem quando tem o Tim Sale perto pra dar uns cacetes nele e mandá-lo escrever direito. Ah, falando em Loeb, lembram dos robôs gigantes de Batman e Superman do Loeb? Pois bem, e se eu dissesse que aqui Snyder cria um momento igual com robôs da Liga da Justiça à la Tokusatsu/Voltron? Precisa falar mais? Queria gostar, mas tá difícil. As ambições de Snyder não estão à altura de suas habilidades...

Ah, nesse primeiro volume vemos também a participação especial de Lorde Morpheus/Daniel, a.k.a. Sandman, o Sonho em pessoa (#snyderapelao). E ainda por cima tem os Batmen alternativos do mal, a partir do próximo volume. Vamos ver no que isso vai dar, né...? (#snyderapelao2)

Noites de Trevas: Metal ainda não disse bem a que veio nesse primeiro volume. Pode melhorar, pode piorar muito, pode não levar a lugar nenhum e não fazer nenhuma diferença na atual cronologia DC. Mas como entusiasta da DC Comics sou obrigado a dar mais uma espiada, sem desviar o olhar, mais ou menos como aquele acidente de trânsito pelo qual você passa perto: Você sabe que vai ser feio, mas tem que olhar. Depois não digam que não avisei...
                                                                                 (Eduardo Cruz)

Compila Dark Days: The Casting, Dark Days: The Forge e Dark Nights: Metal #1.
116 páginas. Capa cartonada.
R$ 20,90.

JUSTICEIRO – NO PRINCÍPIO

E, deixando a zoeira pouco de lado, em minha humilde opinião, temos aqui um CLÁSSICO da Marvel! Garth Ennis salvou o maior anti-herói da Marvel de uma década de histórias sofríveis e uma trajetória cada vez mais esdrúxula na cronologia do personagem quando começou a escrever o personagem, e o fez com gosto: Deu relevância e profundidade ao personagem, apesar de à primeira vista o Justiceiro parecer um personagem superficial com uma motivação de vingança rasa. Frank Castle é retratado como um homem perturbado, mesmo antes de sua tragédia pessoal, em uma cruzada onde quem pratica o crime é severamente punido. Ennis constrói o Frank Castle definitivo, um homem beirando os sessenta anos, endurecido muito antes da guerra do Vietnã, com um código moral ainda mais rígido que o Batman sexagenário de Frank Miller, e certamente muito mais letal. Este encadernado compreende três arcos de histórias:

* Nascido para Matar - Fora da numeração do título MAX, a mini série fechada “Nascido Para Matar” é uma espécie de prelúdio para o Justiceiro. Ambientada na Guerra do Vietnã durante o terrível cerco da base de Valley Forge, a história marca o momento em que Frank Castle abraça em definitivo seu monstro interior e sua vocação de matar o inimigo, ingressando em sua guerra sem fim... Arte de Darick “Transmetropolitan” Roberson.

* No Princípio – Um antigo parceiro de Castle reaparece justamente quando ele planeja um grande massacre entre os chefões da máfia italiana em Nova York. Mas quem são e o que querem esses indivíduos com um homem tão perigoso quanto o Justiceiro??? A arte aqui fica por conta de Lewis Larosa.

* Inferno Irlandês – Quando algumas facções rivais da máfia Irlandesa entram em choque por conta de uma misteriosa “herança”, Frank vê a oportunidade perfeita para realizar mais uma limpa, e dessa vez na Cozinha do Inferno. Vai sobrar até mesmo para o IRA... A arte deste arco é de autoria de Leandro Fernández.

Claro, existem os pequenos vícios Ennianos, que o roteirista não resiste a utilizar nas histórias: O grotesco exagerado, piadas de cunho sexual que parecem ter sido escritas por um adolescente e outras “sujeirinhas”, como se para uma HQ ser considerada adulta precisasse ter como principais requisitos violência e sexo. Mas não é nada que impeça o leitor de considerar esta uma fase memorável para o personagem, bem como um marco dentre os títulos de temática adulta publicados na Marvel. Na falta de “Vigiar e Punir”, de Michel Foucault, esse encadernadão aqui quebra o galho se o leitor quer subsídios para reflexões a respeito de noções de crime e castigo heheheheheh...
                                                                                  (Eduardo Cruz)

Compila as 4 edições da mini série Born e as edições #01 a #12 da série Punisher MAX.
388 páginas. Capa dura.
R$ 113,00

NOITES DE TREVAS: METAL 2



Em sua obsessiva busca por desvendar os segredos por trás dos misteriosos metais alienígenas, Batman bate de frente com seus amigos da Liga da Justiça, utilizando todos os seus recursos (e aliados) para alcançar seu ainda enigmático objetivo. No entanto, dessa vez o sucesso do Homem-Morcego pode significar o início do fim para a humanidade. E mais: comece a conhecer as versões distorcidas do Cavaleiro das Trevas que atormentarão todo o Multiverso a partir de agora.

Uma boa notícia e uma má notícia, qual vocês querem primeiro??? Ok, já que vocês não responderam, vou começar pela má: Scott Snyder e companhia continuam tocando esse puta puteiro que é a trama de Noites de Trevas: Metal, dando sequência àquele encadeamento de eventos que parecem até aleatórios, misturando elementos de todos os cantos do universo DC e rezando pra dar certo no final. Além do Sandman, que já havia dado as caras no final do encadernado anterior, vemos nessa edição o ressurgimento da Corte das Corujas, e sim, "esse era o plano deles o tempo todo" (vale tudo, só não vale ser original), finalmente os Batmen do mal dão as caras no universo dos nossos heróis, e me recuso a comentar sobre o bebê Darkseid rsrsrsrs...

Vamos à boa notícia? Fico feliz em dizer que queimei a língua quando disse na resenha do volume anterior que Noites de Trevas: Metal só seria ladeira abaixo. As três edições que esse encadernado contém, fora a mencionada acima, nos apresentam três dos sete Batmen dos universos que "deram errado":

● Morte Escarlate, o Batman que resolve roubar a força de aceleração do Flash de seu mundo;
● O Máquina Assassina, o Batman que após o assassinato de Alfred cria uma inteligência artificial com a ajuda do Cyborg e... bem, todo mundo aqui já assistiu ao Exterminador do Futuro, não assistiu?
● O Destruidor da Luz, o Bruce Wayne que, após perder seus pais é recrutado pela Tropa dos Lanternas Verdes, mas sua escuridão interior é tão forte que o próprio anel da Tropa acaba sendo corrompido.

Os três Batmen deturpados são recrutados por uma misteriosa figura, que está a mando do próprio Barbatos, aparente responsável por essa treta toda, e apesar de essa figura se parecer com o Juiz Morte das histórias do Juiz Dredd, na verdade ele é o Batman que Ri, que parece ser um Bruce Wayne que teve um dia muuuuito ruim e acabou se tornando o Coringa. O desenvolvimento das origens dos três Batmen me deixou bem satisfeito, one shots muito melhores que a própria saga principal, Elseworlds (ou Túnel do Tempo pra galera dos tempos de editora Abril ;>) de primeira, e que na minha opinião pessoal, salvaram essa segunda edição.

As artes desse encadernado são até superiores ao encadernado anterior. além do sempre competente Greg Capullo em Metal #2, temos Carmine di Giandomenico, dono de um traço que lembra bastante Skott Kolins ilustrando o Morte Escarlate. Ethan Van Sciver dispensa apresentações: O artista de Lanterna Verde - Renascimento dá um balde de nostalgia aos leitores na história do Destruidor da Luz. E por fim, Riccardo Federici é um nome que eu vou passar a prestar mais atenção por aí. Além de capas sensacionais, a história do Máquina Assassina fica a cargo dele. O rapaz tem uma arte brutal!

Eu não resisti e vou fazer uma alusão à Feira da Fruta aqui: O que esse segundo volume de Noites de Trevas: Metal prova??? Que Bruce Wayne é o cerumano mais perigoso do multiverso! Voltei a ficar (um pouquinho) animado e vou pegar o próximo volume só pra ver os Batmen malvadões restantes heheheheh...
                                                                                   (Eduardo Cruz)

Compila Dark Days: Dark Nights: Metal #2, Batman: The Red Death, Batman: The Murder Machine e Batman: The Dawnbreaker.
112 páginas. Capa cartonada.
R$ 20,90.

FRUTO ESTRANHO

“Árvores do sul produzem uma fruta estranha
Sangue nas folhas e sangue nas raízes
Corpos negros balançando na brisa do sul
Fruta estranha penduradas nos álamos”


Os versos acima pertencem à canção Strange Fruit, originalmente um poema de autoria de Abel Meeropol, e gravada por diversos intérpretes, entre eles, a versão mais notória na voz de Bilie Holliday. Evidentemente, a letra fala dos maus tratos aos negros no sul dos Estados Unidos, e o tal fruto estranho nada mais é do que um cadáver de uma pessoa negra enforcada, por conta do preconceito e intolerância. Vejam só, hoje em dia o preconceito ainda não acabou – muito pelo contrário – mas no começo do século XX, árvores com esses estranhos frutos ainda eram uma visão freqüente no sul dos EUA. Essa HQ mescla fatos históricos, como a grande enchente de 1927, que atingiu a pequena cidade de Chatterlee, no Mississipi, onde se passa a história, com eventos fantásticos, que ficam por conta da queda de uma nave, nos arredores da cidade, onde os habitantes brancos ainda vivem em um perverso status quo em que a abolição da escravatura é solenemente ignorada. O tripulante da nave logo aparece e se mostra diferente de tudo que já se viu: Forte, veloz, superinteligente, o pináculo da perfeição física humana... Ah, além disso esse “super homem” é negro! As tensões já existentes, seja por conta do desastre natural iminente, ou pelas relações sociais oriundas da situação racial são exacerbadas ainda mais pela chegada do “preto que não sabe o seu lugar”.

Ao ler a premissa da HQ – premissa essa, aliás, que não partiu de Waid e sim do próprio Jones, que pediu o auxílio de Waid para estruturar e desenvolver seu argumento - e ver a equipe criativa envolvida, fiquei bastante animado e gerando toneladas de expectativas em minha cabeça, esperando que a HQ fosse discutir o papel do negro no Mississipi e na sociedade norte americana de modo geral, com muitos comentários sociais, questionamentos acerca do heroísmo, da natureza humana e até um certo grau de ressonância com a América contemporânea (“This is America”, não é mesmo?), onde o avanço da extrema direita está transformando todo o país em uma grande Chatterlee. Me enganei: Apesar do potencial para ser uma HQ arrebatadora (E como eu quis ser arrebatado por Fruto Estranho!), com toda a contundência que a obra pede, a história é apressada e com um desenvolvimento superficial, como se no meio do caminho Waid tivesse resolvido puxar o freio de mão e dito “Merda, eu sou branco, não posso escrever isso!”, talvez temeroso ou não se sentindo no direito de contar sua história com medo de sofrer um linchamento virtual, virando ele mesmo mais um estranho fruto nas tretas das internetes.

Não estou afirmando que faltou honestidade, apenas um pouco mais de coragem para desenvolver as muitas nuances de um tema tão espinhoso. Aqui faltou foi pesar a mão um pouco. Como o próprio irmão superhumano vindo de outro mundo, que não teve seu passado abordado a contento, nem seu destino especificado ao final da trama, Fruto Estranho poderia ser muita coisa, mas no fim das contas não amadureceu e atingiu seu pleno potencial como história. Um drama épico com um toque do elemento mais poderoso da cultura pop nos últimos 80 anos: O Ubermensch, conceito elaborado por Friedrich Nietzsche e remixado desde Jerry Siegel e Joe Schuster. Era para ser poderoso e relevante, mas se perdeu no meio da enxurrada.

A arte de J. G. Jones (Wanted) é bela e fotorrealista, evocando Alex Ross e imprimindo o clima de veracidade tão necessário à trama, mas sem ter muita história que a suporte, é só uma bela HQ para se folhear. Jones fez sua parte na arte da HQ, e muito bem, mas como bem sabemos, um excelente roteiro salva uma HQ com arte fraca, mas o inverso é bem mais difícil...

Lá fora Fruto Estranho levou quase dois anos para ser concluída (lembrando que foram apenas quatro edições!), o que me fez recordar de outras publicações com um histórico complicado que acabaram gerando atrasos, como por exemplo Planetary ou Os Supremos Volume 2. Com uma diferença: Essas duas que eu mencionei acima valeram a espera. O Mark Waid que aprendemos a amar por causa de Flash, O Reino do Amanhã, Imperdoável, Demolidor e outras pérolas não foi um bom colega para Jones, e não o ajudou a eliminar os gargalos nem aparar as arestas do roteiro original. Torçamos para que a (inevitável?) adaptação para a TV ou cinema seja mais bem sucedida em transmitir sua mensagem, e que tenha uma mão de Donald Glover, de preferência. Porque o que faltou aqui foi um pouco mais de melanina e colhões. Esse fruto amadureceu, mas é amargo demais para degustação...
                                                                                   (Eduardo Cruz)

Compila as edições #1 a #4 da mini série Strange Fruit.
132 páginas. Capa Dura.
R$ 59,90


Curtiu as resenhas? Então siga essa Zona nas redes sociais e não perca nenhum conteúdo!
Instagram: @zonanegativa2014
Facebook: /zonanegativa