quinta-feira, 27 de outubro de 2016

.... Interrompemos nossa programação normal para oferecer uma pequena playlist para ouvir lendo “Os Invisíveis”....

Por EDUARDO CRUZ



Poucos sabem, mas um dos grandes fatores que motivou o surgimento da Zona Negativa foram iniciativas como o Arqueologia Vertigo. Nossos chégas tocaram fundo em nossos coraçõezinhos negros e nos mostraram que sim, é possível escrever sobre quadrinhos e não cair no lugar comum da cabacice com questionamentos relevantes”, tais como “Dãããã, quem é mais forte: Hulk ou Superman?” ou “Quem ganharia uma briga: Lobo ou Deadpool?”.

Bom, estamos velhos demais e cansados demais pra essas bulshitagens aqui na Zona, e na verdade, pelo menos pessoalmente, essas perguntas sempre me soaram ridículas de se responder a sério, até de se falar em voz alta rs. Acredito que se há alguma coisa que podemos (e devemos!!!) trazer do universo 2D das histórias em quadrinhos para este nosso mundo “real” e objetivo, esse algo é tudo o que absorvemos e digerimos ao ler uma história, todos os contextos, subtextos, camadas e significados ambíguos, metáforas desveladas, alegorias trazidas à luz. Tudo que, além dos desenhos coloridos e enquadramentos geniais e artifícios narrativos sensacionais, e quaisquer outros recursos que de melhor uma HQ pode oferecer em função do storytelling, seja absorvido e capaz de transformar nossa forma de pensar e enxergar. Tudo que nos é acrescentado ao ler uma boa história, tirando-se a massavéice, o espetáculo visual vazio. As idéias que nos invadem (Ui!!) se assentam em nós, e nos mudam. Afinal, pra que mais a gente lê HQs por anos e anos e anos a fio? Pra ver as mesmas lutas e sagas cósmicas de ângulos diferentes, com heróis e vilões em uniformes diferentes? Garanto que aqui não, violão! Aqui na Zona, uma HQ é uma fonte de conhecimento tão válida tanto quanto qualquer bom livro, ou filme, disco, etc. Boas idéias, ao contrário do que esse panorama cultural atual demonstra, estão por aí sim, e devem ser colhidas, cultivadas e disseminadas. Algumas vezes, a história nem mesmo se aprofunda tanto no tema, e o roteirista instiga o suficiente apenas pra gente se mexer e pesquisar aquilo que foi arranhado de leve, na superfície. Cabe ao leitor se aprofundar (ou não!), se achar que deve, que vai ser benéfico.

Nossos chégas do Arqueologia Vertigo sempre primaram pela profundidade, conteúdo e coerência desde o primeiro post, e foi exatamente o que nos chamou a atenção para eles dentre tantos sites e blogs "nerds" ou "geeks" (emoji de vômito aqui, please) que abundam nessa internet de meu Deus. Dentre tantos bons posts, eles montaram algumas playlists, certas sugestões de músicas para serem ouvidas enquanto se lê o título indicado. Logicamente, as músicas selecionadas casavam com o conceito/título/personagem, e aqui, vamos seguir os moldes desses posts, numa homenagem descarada a esses amigos que fizemos nessa corrente do bem, de informações relevantes e muita pesquisa e amor aos quadrinhos.


Zona Negativa e Arqueologia Vertigo?


A série que escolhemos para a playlist é “Os Invisíveis”, a obra prima de Grant Morrison, uma série que fala, bem, basicamente sobre TUDO. De magia a anarquia, de psicologia a viagem no tempo, de drogas a libertarianismo, de arte a morte. E a verdadeira natureza da realidade. Aqui na Zona levamos os Invisíveis um tanto a sério demais, e fizemos uma pequena e singela playlist para ajudar vocês a entrarem no clima da revolução junto com a gente, além de mandar um high five a nossos amiguinhos arqueólogos vertigueiros. Mantenhamos a chama acesa hehehe.


Como eu fiquei depois que conheci Os invisíveis...



Então, chega de enrolação, rasgação de seda e viadagem gratuita, vão pegar seus encadernados de “Os Invisíveis” na estante (finalmente a Panini completou a publicação de “Os Invisíveis” no Brasil!), e desfrute da nossa seleção pensando em King Mob & Cia, sem nenhuma ordem específica, que fique claro, e som na caixa, DJ!!!





1- John Lennon - Mind Games

John Lennon: Mega pop star, ídolo de milhões, filantropo, pacifista. Lennon nunca entrou numa cruzada armada contra o sistemão, como King Mob fez nos Invisíveis. Pelo menos, não que saibamos hehehe. Ou só eu acho que o assassinato dele foi gratuito demais? Bom, chega de paranóias por agora! Na série, morrison auferiu que Lennon, após sua morte, alcançou um estágio espiritual tão elevado que atingiu atributos de um deus, por isso vemos King Mob o invocando em uma edição, como se fosse Buda, ou Ganesha, ou qualquer outra divindade "real".


Agora, a letra de "Mind games": linda, emocionante e propondo a revolução sem violência. É possível? Lá pelo fim da série, King Mob abandona sua armas e acredita que sim. E conseguiu?
"Mas, porra, cara, era o King Mob. Até hoje se fala dele."





2 - Kula Shaker - Into The Deep

No meio do mega tenso arco "Ciência negra", em que os Invisíveis invadem uma base militar em Dulce, Novo México, atrás de uma amostra para a cura da AIDS, King Mob é obrigado a matar tantos soldados para conseguir seu objetivo "pelo bem da humanidade", que fica um tanto quanto... descompensado, e no meio da treta canta uma música da banda britânica Kula Shaker, pra dar aquela desopilada... Fly, brother, fly...









3 - The Kinks - David Watts

Essa canção dos Kinks parece ser uma das favoritas de King Mob, dada a quantidade de vezes que o vemos cantar ao longo das 60 edições de "Invisíveis". Entretanto, ele parece preferir a cover do The Jam. Sabe aquele "Fa fa fa fa fa fa fa fa..."? e o "bordão" do King Mob, "tudo nos conformes" (nice and smooth), que você viu ele falando pelo menos umas três ou quatro vezes pela série toda? Pois é, é isso aqui:


Versão The Jam





4 - The Smiths - Ask

Não, essa aqui não tem nenhuma ligação direta com a série do morrison, é que sempre que olho para a arte da granada em "Os Invisíveis",



automaticamente lembro do trecho da música dos Smiths:

"Because if it's not love
The it's the bomb, the bomb, the bomb, the bomb,the bomb, the bomb, the bomb
That will bring us together" 



Mas pera lá! tem The Smiths em "Invisíveis" sim, e é.....



5 - The Smiths - Heaven Knows I'm Miserable Now

Mais precisamente num flashback de K.M. na Índia, numa cena à beira do Rio Ganges, ouvindo walkman, onde ele conhece Edith Manning.







6 - The (International) Noise Conspiracy - Capitalism Stole My Virginity

Não vou falar muito sobre essa banda banda sueca esquerdista radical, que embalou minhas primeiras leituras de "Os invisíveis", lá por 2003, 2004, e lá vai fumaça, e ajudou demais a entrar no clima revolucionário da obra do Morrison... lá vai só um trechinho:


Cansado de não ser nada
Quando, quando nós deveríamos ser tudo
Na testa de toda pequena prostituta
Há um sinal que diz, baby, nós nascemos para morrer


Nós somos todos putas, produtos baratos,
Nos notebooks de outras pessoas (4x)
Detestável,feio e barato
É como você me faz se sentir, eu disse
Capitalismo roubou minha virgindade
Capitalismo roubou, capitalismo roubou (4x)





7 - The (International) Noise Conspiracy - Up For Sale



E tome mais The (International) Noise Conspiracy! Se existisse realmente uma célula de Invisíveis no mundo real, no estilo de King Mob, Jolly Roger, Oscar e outras, certamente o T(I)NC seria composto só por invisíveis, com suas letras agressivas, tentando acordar o mundo do seu estupor, e ao mesmo tempo curtindo sexo, drogas e rock n roll (por quê não?). Subversão pop. Tio Morrison ficaria orgulhoso.


"Nós estamos à venda, tudo que conhecemos está à venda"


8 - Swing Out Sister - Breakout

Eu sei parece estranho incluir essa na lista, mas ainda no raciocínio de Invisíveis mandando mensagens secretas e escondidos à plena vista como o rapper vodu Jim Crow costumava fazer na HQ, temos esse refrão do Swing Out Sister que pode ser interpretado como um ato de revolução interior e transcendência, tudo disfarçado em uma música pop de 3 minutos. Sei não, posso estar paranóico, mas é o que um invisível faria... entre na brincadeira... lembre-se, é apenas um jogo...

"Não pare para perguntar Agora que você achou uma brecha pra acontecer finalmente Você tem que encontrar uma maneira Diga o que você quer dizer Irromper"




9 - Zumbi do Mato - Sincronicidade Artificial, Manipulação de Linguagem, Kundalini e as Fronteiras da Realidade

Zumbi do Mato é uma banda carioca, e por aqui consideramos eles o Mr. Bungle brasileiro. Como o vocalista Lois Lancaster diz no início da "música", "uma vez que o aviso que você está prestes a ouvir pode ser forte demais para o seu cérebro, você pode dar pausa e voltar mais tarde". Acredite, você vai precisar disso. A letra não é composta pela banda, e sim extraída de um texto na internet. Pode ser uma célula invisível. Quem sabe a do Marquês de Sade?







10 - Beatles - Revolution 9

Não vou comentar nada sobre essa. Desnecessário. Seria o mesmo que explicar quem são os Beatles nesse post. Desnecessário. Vejam a letra.




Não à toa é o título do primeiro encadernado...
Ou podemos adicionar um pouco de anfetaminas em "Revolution" por apenas mais 1,99...

BÔNUS - Vitas - 7th Element

Esse cantor de techno russo, apelidado em seu país natal de "O príncipe da voz de golfinho", para mim, representa o Grant Morrison way of life: pop, sem perder a esquisitice; as cores berrantes cercadas por escuridão, os dançarinos que não dançam, os "anti-passos" de Vitas... Desde a primeira vez que vi esse vídeo pensei: "Se o Morrison organizasse uma rave, ela seria exatamente assim". Os "bailarinos" dele até parecem com a Arlequinada, diabos! Aqui no Brasil temos o Pablo do "Qual é a música?" como contraparte do universo B dessa figura.



CHUNDRUM CHUNDRUM CHUNDRUM CHUNDRUM BEDRUM
UUUUUUUOOOOOOOOUUUUUUUOOOOOOOOOOOOOUUUU




Faltou alguma? COMENTE AÍ!!!!!





P.S.: Arqueologia Vertigo, esse ainda NÃO É o texto sobre Os Invisíveis que eu prometi! Considerem isso apenas um aquecimento hehehe

P.S. 2: Muitos agradecimentos ao meus parças Anderson Mendes e Reinaldo Almeida pelas horas discutindo sobre "Os Invisíveis" sem nunca se cansarem nem esgotar o assunto. Se for o caso, um dia montamos nossa própria célula hehehe...






quarta-feira, 26 de outubro de 2016

ZÉ DO CAIXÃO, MALDITO - A BIOGRAFIA, de André Barcinski e Ivan Finotti, ou “Coffin Joe é o meu pastor e horror não me faltará”



Por EDUARDO “A BESTA” CRUZ







''O que é a vida?

É o princípio da morte.

O que é a morte?

É o fim da vida.''


Se eu tivesse que definir em apenas uma palavra o cidadão José Mojica Marins, bem, eu não conseguiria! Uma palavra só? Nada justo! Melhor seria se me dessem um estoque ilimitado de adjetivos, isso sim faria maior justiça a Mojica: Paixão, resiliência, garra (com trocadilho mesmo!), criatividade, determinação, coragem, astúcia.... só mesmo essa soma de qualidades para explicar a longevidade da carreira de um cineasta em um país que não valoriza a cultura de um modo geral, ainda menos quando falamos em uma arte tão cara quanto o cinema. Mojica tem uma filmografia extensa, e mesmo assim provavelmente poderíamos somar os orçamentos de todos os filmes em que ele produziu, dirigiu, atuou.... ainda assim essa soma não ultrapassaria o orçamento do último filme dos Transformers. Nesse quesito, deveria ser inaugurada uma cadeira em universidades ensinando o método Mojica de realizar longas metragens com valores irrisórios.

O lado humano de Zé do Caixão....

Lembro do primeiro contato que eu tive com a persona fictícia de Mojica Marins, um personagem que acabou ficando maior e, de certa forma, mais real que o próprio Mojica: O Zé do Caixão. Eu era garoto, e ele participava de um programa do Gugu ou Silvio Santos, um desses programas de TV de domingo à tarde que exploram de forma sensacionalista seus convidados “exóticos”, na guerra para ganhar alguns pontos de audiência. Eu não fazia idéia de quem era aquele maluco de cartola, bradando pragas sinistras para os telespectadores, usando uma capa de Exu caveira e unhas compridas, que mais lembravam garras, mas os mais velhos lá em casa reconheceram a figura, o tal “Zé do Caixão”. Fiquei intrigado com aquela criatura, nunca tinha visto nada parecido com aquilo em minha curta vida antes. Tentei descobrir o máximo possível daquela figura perguntando aos meus tios e avós, mas basicamente, as pessoas só se lembram do José Mojica Marins enquanto Zé do Caixão, e não de seu trabalho, sua filmografia. Esse meu primeiro contato com Mojica, como figura pitoresca - e imagino que eu não seja o único a ter tido esse primeiro contato dessa forma - só demonstra o ostracismo em que se encontrava o cineasta no início dos anos 90, pouco antes de seu reconhecimento no exterior. Zé do Caixão sempre fascinou adultos e crianças, e embora esse nosso lindo país de memória curta não consiga enxergar com acuidade seu imenso valor e contribuição para a cultura popular nacional, uma coisa é certa: ele soube se fazer enxergar. Ponto. Até porque, como o próprio Mojica diz: "Quem não aparece, praticamente desaparece!".

A Lenda e eu
Alguns anos depois, ainda na era do VHS (a maioria dos que lêem esse texto não faz idéia do que foi um VHS rs), esbarrei com “O estranho mundo de Zé do Caixão” escondido em uma locadora (a maioria dos que lêem esse texto nem sabe o que é uma locadora rs) e finalmente consegui ter uma fração de idéia do que era o Zé do Caixão. Mas ainda era uma época de internet discada (a maioria que lê isso nem sabe é internet discada rs), e muito pouca informação atravessava o fio telefônico até o meu PC, comparado com a velocidade e abundância de informação de hoje. Avance mais uns 6 anos e, novamente, em outra locadora empoeirada, encontrei a obra máxima de Mojica: “À meia noite levarei sua alma”, ode suprema à iconoclastia e desobediência do indivíduo perante as normas opressivas da sociedade, o filme que te faz compreender porque Mojica é comparado à Luis Buñuel, e que dá orgulho de ter sido produzido no Brasil.

 À meia noite levarei sua alma (1963)

O estranho mundo de Zé do Caixão (1968)
 
Em “À meia noite levarei a sua alma” vemos o surgimento do personagem Zé do Caixão, o indivíduo que não se conforma com o pensamento de rebanho, um monstro tipicamente brasileiro, que se crê superior à massa, numa distorção Nietzschiana do conceito de Übermensch, com um mantra que tenta executar a qualquer preço: A CONTINUIDADE DO SANGUE! Na busca por gerar o sucessor perfeito, Zé do Caixão era o homem tornado monstro por meio das barbáries que perpetrava em nome de seu objetivo supremo.

José Mojica "Zé do Caixão" Marins e Christopher "Drácula Saruman" Lee

Depois disso, e de alguns anos já usufruindo o reconhecimento no estrangeiro – enquanto aqui a maioria das pessoas ainda o enxergavam apenas como “pitoresco” – foi lançado um Box com 6 filmes altamente relevantes de sua filmografia (como o destruidor “Ritual dos sádicos” ou “Esta noite encarnarei no teu cadáver”, a continuação do “À meia noite...”) e, paralelamente a isso, a internet melhorou o suficiente para possibilitar o download de mais alguns filmes, e os que não achávamos online, encomendávamos de sites de colecionadores, como o falecido site Putrescine, com um acervo que era uma mina de ouro do cinema nacional. 

À meia noite beberei tua pinga!

Aí, um dia você acorda, passa tudo isso em retrospecto na memória e PAH! se descobre fã de José Mojica Marins. Um fã? Melhor dizendo, um seguidor ávido, fascinado com a visão desse diretor autodidata, que aprendeu cinema assistindo filmes, de dentro da cabine de projeção do cinema de bairro onde seu pai trabalhava como projecionista no subúrbio de São Paulo.

Seguindo o rastro da obra de Mojica assim tão obsessivamente, era evidente que uma hora eu esbarraria em “Maldito”, a biografia de José Mojica Marins, de André Barcinski e Ivan Finotti, outros dois Mojicólatras aficionados (é preciso um para reconhecer um), e foi exatamente o que aconteceu! Era mais uma excelente aquisição para quem estava “estudando” Zé do Caixãologia há quase uma década sem nem se dar conta disso. Não contente em assistir ao máximo de seus filmes que eu pudesse pôr as mãos, eu queria conhecer os percalços dessa vida, o que motivou essa imaginação sem amarras e, quem sabe, conhecer o segredo de sua persistência na execução de sua obra. Os autores fizeram um trabalho de pesquisa bem abrangente, e é uma das biografias mais completas em que já tive o prazer de pôr as mãos.

Capa da primeira edição de "Maldito"

Consegui um autógrafo do Mestre, claro...

Nada contra quem costuma ler biografias de artistas, mas eu sempre preferi apreciar diretamente a arte produzida a ler a respeito dos acontecimentos da vida do artista em questão, com raras exceções, e Mojica é “A” exceção: os esquemas rocambolescos bolados para arrecadar verba para realizar seus filmes, os casos hilários e pitorescos por trás das filmagens, como o roubo das árvores plantadas ao longo do Largo do Arouche, roubadas de madrugada pela equipe de Mojica para compor o cenário da floresta de “À meia noite...”, ou quando Glauber Rocha levanta da cadeira no meio de uma sessão de "À meia noite..." berrando "Putaquipariu, esse cara é um gênio!", seus rolos com mulheres (Mojica chegou a ter 4 mulheres simultaneamente, uma verdadeira maratona de casa em casa para “bater o ponto”!), o infarto sofrido por conta da dieta em época de filmagens (cachaça, salame e alguns comprimidos para se manter acordado), o tardio e merecido reconhecimento da crítica internacional, os prêmios recebidos no exterior.... tudo estava lá, para quem quisesse conhecer mais a fundo o “Mestre” (como era carinhosamente chamado pelos alunos do curso de artes dramáticas fundado e administrado por ele, uma maneira de sempre ter elenco barato à disposição), além da sua obra cinematográfica, os percalços de uma vida que sempre foi febril no tocante a fazer cinema. O livro cobre desde a chegada de seus pais, imigrantes espanhóis, ao Brasil, passando pela infância e adolescência de Mojica, os tempos bons e os ruins, as dificuldades financeiras, a fase em que o diretor teve que trabalhar em produções pornográficas da boca do lixo para sobreviver... enfim, muitas histórias dentro de histórias, e tudo verdade, mesmo que algumas sejam absurdas de acreditar! Tudo isso embalado em um texto ágil e envolvente.

Trecho de 24 horas de sexo explícito (1985)

Em 2015, o canal Space produziu uma mini série em seis episódios adaptando alguns dos principais acontecimentos da vida de José Mojica Marins descritos na biografia. A mini série, intitulada simplesmente “Zé do Caixão”, cobre o início das primeiras experimentações com cinema, passando pelos maiores sucessos, o pesadelo que inspirou Mojica a criar Zé do Caixão, a fase de dificuldades financeiras, onde Mojica só conseguiu trabalhos como diretor em produções eróticas, entre outros causos da vida do diretor, com Matheus Nachtergaele no papel principal. Semelhança estarrecedora. O próprio Mojica declarou ter ficado impressionado ao entrar no set de filmagens e ver Nachtergaele trajado à caráter, como Zé do Caixão. Aproveitando o espaço, deixo aqui uma entrevista com a lenda conduzida pelo pessoal do Podtrash, um podcast altamente especializado em comentar filmes trash e congêneres. Aposto que para o pessoal do podcast, foi um sonho realizado. Inveja branca de vocês, guys heheheh.....


Caracterização perfeita



 A minissérie Zé do Caixão

Infelizmente para as novas gerações, esse fantástico livro, da Editora 34, publicado originalmente em 1998, já estava esgotado havia alguns anos, até que a Darkside Books entra na jogada e apronta novamente. Sim, a editora da caveira não dormiu no ponto e adquiriu os direitos de publicação da biografia para editar um tijolo fantástico de 666 (!!!) páginas. Zé do Caixão, nosso próprio bicho papão bem brasileiro, estava em casa! A diferença do número de páginas em relação à edição anterior permitiu que o livro fosse ainda mais ricamente ilustrado do que sua versão anterior, com fotos ampliadas e muitas outras fotos inéditas. Na verdade, não somente as fotos, mas toda a parte gráfica do livro é impressionante, com uma capa belíssima, que captura seu olhar por muitos minutos. Um pacote à altura para um livro excelente e um tributo mais que apropriado à vida e obra do Mestre, com todo o conceito visual da edição perfeitamente alinhado com a obra de Mojica, ou seja, é um livro dark, imponente, assustador, de meter medo já na capa, e que lembra um grimório de magia. Além disso, “Maldito, a biografia” possui uma extensa seção, esforço hercúleo dos autores em catalogar TODA A OBRA de mojica: seus filmes, curtas metragens, programas de TV, novelizações, histórias em quadrinhos... Todas as produções com um grau de envolvimento de José Mojica Marins constam lá.  Com esse guia em mãos, só posso desejar uma coisa: Bom garimpo!

Fui obrigado a comprar pela segunda vez o mesmo livro rs. Obrigado, Darkside.


Mais um livraço de respeito da Darkside Books...
Termino esse texto rogando uma singela praga aos leitores da Zona: QUE VOCÊ SEJA ACORRENTADO(A) A UMA CADEIRA DE PREGOS DE FERRO FERVENTE, E UMA TEVÊ REPRISANDO O ESPECIAL DE NATAL DO ROBERTO CARLOS COM PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DE SIMONE, CANTANDO “ENTÃO É NATAL” ... POR TODA A ETERNIDADE!!!!, caso não corra atrás de seu exemplar de “Maldito – A biografia”.......


Fica aí duvidando de praga do Zé, fica....


BRINCADEIRINHA!!! SEM PRAGAS, VAMOS SÓ PULAR NO SALÃO, ATÉ CAIR!!!!!