quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

HELLBOY - ESTRANHAS MISSÕES, de Mike Mignola + Vários escritores, ou "Um dia com gibi novo de Hellboy é sempre um bom dia... Só que dessa vez não é gibi!"








Por EDUARDO CRUZ



Aqui na Zona Negativa temos um ditado... não, mais que um ditado, um credo: "Um dia com um gibi novo do Hellboy é sempre um bom dia!". A editora Mythos tem feito um ótimo trabalho de publicação dos títulos do personagem há quase 20 anos, e após toda a saga principal do Garoto do Inferno ser publicada, e depois novamente republicada, dessa vez em formatos de luxo, para onde partir? Oras, Hellboy tem uma base de fãs sólida em todo o mundo, e a criação máxima de Mike Mignola dispensa análises profundas e cagação de regra: Hellboy é só diversão, muita mitologia e folclore do mundo todo envolvidos. Ah, e muito quebra pau com monstros, demônios e aberrações em geral, nazistas tomando surras homéricas, tiros, explosões, e bom, já deu pra entender heheheh....


Pouca gente sabe, mas esse é o primeiro esboço de Hellboy rabiscado pelo Mignola...


Com toda a trajetória do Vermelhão publicada desde Sementes da Destruição, história de estréia do personagem, até o mais recente volume de Hellboy no Inferno, estamos quase emparelhados com a cronologia norte americana do título. O que não quer dizer que ainda não tenha uma tonelada de material paralelo para publicar. Entre spin offs, minisséries, one-shots especiais e antologias, o universo de Hellboy e o Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal ainda tem muita história para contar! A Mythos acaba de lançar aqui um desses títulos paralelos, a antologia em prosa (vou repetir, é em PROSA!) Hellboy - Estranhas Missões, uma coletânea de histórias do Vermelhão e seu elenco de apoio, de autoria de vários escritores. 


O livro, que é o primeiro de quatro antologias em prosa, reúne 14 contos fora da cronologia do personagem, alguns deles de autores bastante conhecidos do público, como Greg Rucka (Gotham Central) ou Stephen Bissette (um dos principais artistas da lendária fase de Monstro do Pântano conduzida por Alan Moore), e alguns nem tão conhecidos assim do público brasileiro, como a escritora Poppy Z. Brite (The Matrix Comics) e Nancy A. Collins (que escreveu uma fase meio fraquinha também no Monstro do Pântano). Mignola escreve um conto a quatro mãos com Christopher Golden, além de ter escrito a introdução do livro, e é claro, as ilustrações internas, todas em preto e branco.




 Os 14 contos que compõem Hellboy - Estranhas Missões são:

  • CORVOS AMEDRONTADOS (Por Rick Hautala e Jim Connolly) - Esse é pra abrir muito bem a antologia! Uma história contada em flashback pelo próprio Hellboy em um bar, numa noite escura e chuvosa. À medida que o Vermelhão se embriaga, vai narrando uma missão passada para outra freguesa do bar, também bêbada, de como ele e alguns colegas tiveram de lidar com um serial killer... cujo espírito acabou migrando para um espantalho. Bom conto, com uma boa dose de suspense e a personalidade de Hellboy trabalhada à perfeição.

  • UMA MÃE CHORA À MEIA-NOITE (Por Philip Nutma) - Um conto ambientado em duas épocas diferentes, envolvendo dois encontros de Hellboy com a assombração mexicana tradicionalmente conhecida como La Llorona; o primeiro deles durante sua infância, nos anos 60, no Novo México, e o outro já adulto, enquanto auxilia um amigo com o desaparecimento de seu filho. De partir o coração.

  • FOLIE À DEUX (Por Nancy Holder) - O ano é 1967, durante a Guerra do Vietnã. Após entrevistar dois soldados traumatizados em um hospital no Japão, Hellboy descobre que um xamã vietnamita invocou um demônio para dar cabo dos soldados que invadiram seu país natal. Mais uma missão que só o Vermelhão pode dar conta.

  • UMA NOITE NA PRAIA (Por Matthew J. Costello) -  Hellboy enfrenta monstros marinhos que vivem nas proximidades do parque de diversões de Coney Island, em Nova York. Participação de Abe Sapien, é claro! Um conto com direito à homens-peixe monstruosos e cultistas humanos, esse vai colocar um sorriso na galera do Team Lovecraft ;)

  • POLÍTICA DOS DEMÔNIOS (Por Craig Shaw Gardner) - Hellboy vai ao auxílio de um velho amigo dos tempos da Segunda Guerra, em um possível caso no Senado Federal, em Washington. Logo ele descobre o que há por trás das estranhas ocorrências envolvendo políticos se comportando de maneira estranha e violenta...

  • TIVE O FILHO DO PÉ-GRANDE (Max Allan Collins) - Um desaparecimento em um parque florestal de Iowa leva Hellboy e Abe Sapien a investigarem uma possível aparição do... Pé Grande! Sim, era esse o crossover que a gente estava esperando há anos rsrsrsrs. Ou será que não é o que parece??? 

  • QUEBRA-CABEÇA (Por Stephen R. Bissette) - Um funcionário de um hospital em Paris encontra uma cabeça preservada de um alquimista herege executado na idade média, que lhe promete riqueza e poder em troca de pequenas quantidades de sangue. Um conto do artista da fase áurea do título do Monstro do Pântano da DC, Quebra-Cabeça surpreende pela construção do clima, passagens perturbadoras e um clímax típico de uma história "clássica" de Hellboy. Além de mais um final de partir o coração aqui...

  • ONDE SEU FOGO NÃO É EXTINTO (Por Chet Williamson) - Investigando incêndios em várias filiais de uma igreja fundamentalista, Hellboy começa a se perguntar se a igreja não seria na verdade uma fachada para atividades satânicas. Mas então quem estaria incendiando as igrejas???


  • O NUCKELAVEE (Por Christopher Golden e Mike Mignola) -  Hellboy precisa auxiliar o último remanescente de uma família escocesa, que está convencido de que morrerá em breve e o Nuckelavee, uma entidade maléfica que está atrelada ao passado de sua família, está vindo para buscar sua alma.


  • PARA LONGE VOOU A OSTENTAÇÃO (Por Brian Hodge) - Investigando o terrível assassinato de um grupo que reencenava uma batalha medieval na área rural da Inglaterra, Hellboy bate de frente com uma lenda viva: O monstro Grendel, do épico poema Beowulf!

  • UM CONTO DE FADAS SOMBRIO (Por Nancy A. Collins) - A abdução de várias crianças em Nova York faz o Bureau suspeitar de um culpado sobrenatural, que Hellboy identifica como uma Cailleach Bheur, ou Bruxa Azul, uma criatura do mundo das fadas andando à vista dos novaiorquinos desavisados. Mais uma história de Hellboy raiz aqui!

  • QUEIME, BEBÊ, QUEIME (Por Poppy Z. Brite) - Este conto acompanha a adolescente Liz Sherman, dotada de poderes pirocinéticos, e mostra um pouco do que aconteceu com ela após o acidente decorrente do descontrole de seus poderes que matou sua família e vizinhança, vagando sem destino, até seu ingresso no Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal. Perdoem o trocadilho, mas esse é morno rs.

  • A VINGANÇA DA MEDUSA (Por Yvonne Navarro) - O desaparecimento dos habitantes de uma pequena vila localizada em uma ilha da Grécia coloca Hellboy na investigação do caso. Ele suspeita que, de alguma forma, a mitológica Medusa ressuscitou.

  • ENTREGUE (Por Greg Rucka) - Nesse conto Hellboy tem sua famosa pistola roubada em um passeio por Nova York. Enquanto faz a busca da arma, ele acaba se vendo às voltas com um estranho negociante que deseja fazer um acordo com o B.P.D.P., oferecendo à agência de Hellboy algumas relíquias macabras. Este conto tem um pezinho (ou um casco? heheheh) nos mythos Lovecraftianos, já que Rucka citou tudo quanto é livro diabólico fictício, menos o manjado Necronomicon mesmo...

O acabamento dessa edição ficou bem bonito, com uma respeitável capa dura e logotipo em alto-relevo e dourado, para não destoar das luxuosas Edições Históricas, também publicadas pela Mythos. Apenas uma ressalva, que não é um problema exclusivo da Mythos: Trechos aqui e ali com pequenos erros ortográficos, carecendo de uma revisão mais apurada. Fora isso, esse primeiro volume de Hellboy em prosa é uma coisa linda do Satanás!


Mas eu sei, no fim das contas o que vocês querem saber é: "Um Livro de contos em prosa do Hellboy funciona?"

A resposta curta é SIM. A escolha dos autores para figurar na antologia se provou acertada e no geral, todos captaram bem a personalidade do Vermelhão, colocando-o em situações familiares para os leitores da HQ. Claro que, como toda antologia, o resultado pode ser bem irregular, e aqui não é diferente: existem contos bons, contos muito bons, um par de contos comoventes, um par de contos marromeno e um ou outro meio morno. O que determina a qualidade de cada história é o quanto cada escritor conseguiu capturar, se valendo apenas de texto, de todas as nuances de uma história de Hellboy, e principalmente, preservar a personalidade do mesmo. Está tudo lá. A prova definitiva de que Hellboy funciona em qualquer mídia, só depende mesmo de quem está executando a coisa. 

Agradeçam a Mike Mignola. Sua mão de pedra, digo, de ferro com relação ao controle de sua obra é o que garante esses bons 20 anos de consistência em sua obra - fala sério, já conheceram alguém que não gosta de Hellboy? Eu nunca! - e mais bons dias com boas HQs (e livros!) do Hellboy ainda estão por vir.


Não faz parte desse livro, mas achei engraçada heheheheh...


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