Por EDUARDO CRUZ
Primeiramente, e aproveitando o tema da história, FORA TEMER!
Em segundo lugar, me recuso a gastar linhas,
talvez um parágrafo inteiro ou dois apresentando Warren Ellis aqui. Gostaria de
acreditar que ele dispensa apresentações. Gostaria também de passar direto para
a HQ em questão e não citar que Ellis é um dos principais componentes da
"segunda onda" da invasão britânica, o evento que mudou a cara das
histórias em quadrinhos na década de 80, e que reverbera no que é produzido na
nona arte até hoje. Que apesar de não ter surgido no mesmo momento que Alan
Moore, Neil Gaiman ou Grant Morrison, ainda assim Warren Ellis tem seu lugar
garantido como uma das cabeças responsáveis por essa renovação conceitual dos
comics e é um dos pilares da Vertigo e por onde mais tenha passado, sempre
dando preferência a pequenos trabalhos autorais, que permitem maior liberdade
criativa em editoras de menor porte ou pequenos selos, como a Avatar Press,
Wildstorm ou Image Comics, e que inclusive escreve algumas edições para a
Marvel até hoje, o que, pela qualidade do que costuma entregar, não é nenhum
demérito. Também gostaria de não precisar dizer que ele é o autor de três,
talvez quatro (isso sendo moderado e conservador, porque convenhamos:
Transmetropolitan, The Authority, Planetary, Frequência Global, Gravel, Fell,
Verão Negro, No Hero, Supergod e Injection já formam sozinhas um Top 10 em
qualquer ordem que você queira elencá-las!) de dez HQs que a garotada deveria ler
para considerar que tem uma bagagem sólida e decente de boas histórias. Também
não vou mencionar que ele já tem dois livros em prosa lançados: seu sensacional
début Crooked Little Vein (ainda inédito no Brasil), um insano mix
de história de detetive com road trip, recheado com situações absurdas e
personagens bizarros, e Máquina de armas, um romance policial um
pouco mais contido. Gostaria de não precisar ter que apresentar Warren Ellis e
partir direto pra resenha de Verão Negro, mas diabos, acabei
falando tudo isso mesmo assim.
Ellis é um entusiasta de ciência e tecnologia, e
sempre dá um jeito de inserir as teorias e descobertas científicas mais
recentes nos enredos de suas histórias, além de disparar suas reflexões ácidas
a respeito de política em seu blog pessoal e nas redes sociais. Esta mescla de
ciência e política permeia a grande maioria de suas obras autorais, assim como
seus comentários socioculturais e críticas aos governos estabelecidos. Esse
senso crítico, essa verve em enfiar o dedo na ferida utilizando uma mídia
aparentemente inócua, como a maioria das pessoas pressupõe que as histórias em
quadrinhos sejam, aliada ao senso de desprezo que a maioria dos roteiristas
britânicos cultiva pelos super heróis norte americanos, espalhafatosos e
santarrões, renderam muitas boas criações, como o grupo Authority, uma equipe
de super humanos sem rabo preso com nenhum governo.
Essa vai pro povo que se alimenta de referências...
Pois bem, em 2007, em um desses inúmeros projetos
autorais, Ellis iniciou com Verão Negro uma espécie de “Trilogia
super heróica”, composta por três mini séries com um tema em comum: como
super-humanos lidam com as relações políticas humanas? Quando você é portador
de poderes superiores, é correto passar por cima das leis e decidir fazer
justiça com as próprias mãos? Podemos dizer que Verão Negro, No Hero e Supergod pela temática análoga seriam o Watchmen de Warren Ellis? Foi a
impressão que tive desde que a primeira mini série da tal trilogia saiu, e essa
impressão não se desvaneceu até hoje, quase uma década depois. Ellis utilizou
sua trilogia super heróica para fazer um comentário a respeito do panorama geopolítico
de nossos tempos, e também de tempos ainda por vir, de um futuro próximo,
apontando logo ali na esquina, uma reflexão sobre relações humanas, super
humanidade e política. Segundo o próprio Ellis:
"Como se define um criminoso? Em que ponto um ato passa a ser criminoso e você deve buscar justiça? Se sua compulsão ética [como super-herói] é sair do sistema jurídico para praticar ou vingar crimes, o que você faria num país em que o presidente é considerado responsável por uma guerra ilegal que tomou milhares de vidas?".
Um dos últimos remanescentes de uma equipe de super-heróis do passado, conhecido como “As Sete Armas”, o poderoso John Horus choca o mundo ao invadir o Salão Oval da Casa Branca e exterminar sem piedade o presidente dos Estados Unidos (na época da mini série George W. Bush, retratado morto em uma das capas principais da mini) e seus conselheiros. Para Horus, o governo era corrupto e em sua luta contra o mal, esta era uma ação necessária. Logo em seguida, ele convoca o povo a realizar novas eleições sem fraude. Na vida real o ex-presidente Bush foi acusado de fraudar o resultado da eleição e se eleger assim mesmo. A mídia em peso satirizou o episódio ocorrido na apuração dos votos na Flórida, estado em que seu irmão Jeb Bush era governador na época. Que coincidência, hein? Mas de Michael Moore ao Saturday Night Live, esse episódio não passou em brancas nuvens.
As autoridades resolvem revidar caçando Horus e todos os seus antigos companheiros de equipe, que se presume, o estão apoiando. Na tentativa de protegerem-se e encontrar Horus para tirar satisfações, além de jogados no meio de uma briga que não provocaram, seus ex-companheiros de equipe desencadeiam uma onda de violência como poucas vistas nos quadrinhos, e que só se agrava ainda mais quando descobrem que estão sendo caçados por seu antigo mentor, Frank Blacksmith, que julgavam estar morto, e por uma nova leva de operativos modificados por ele.
Agora, um breve parêntese aqui pra falar do símbolo mais legal que Ellis utilizou em toda a história: o deus Hórus!
Na mitologia egípcia, Hórus é o deus dos céus e simboliza a realeza, o poder e a luz. Tem cabeça de falcão e corpo humano. Os egípcios utilizavam um amuleto conhecido como Olho de Hórus, que acreditava-se trazer proteção, força e coragem. Os egípcios também acreditavam que os faraós eram encarnações de Hórus, por ser associado à realeza, zelando por seu povo, trazendo a luz, combatendo o mal e trazendo o equilíbrio à terra. E é aí que as analogias ficam interessantes, pois o personagem homônimo de Ellis, assassina o equivalente à realeza visando recuperar um equilíbrio e justiça que ele julgava perdidos, e os olhos de John Horus, que são os dispositivos que ele criou como parte de seu sistema de armas, mais do que apenas um talismã, são um maquinário de enorme poder, e como podemos ver na mini série, deram trabalho para o exército heheheh... Agora, de volta à nossa programação normal...
![]() |
O Olho de Hórus, um talismã de força e poder... |
A história se alterna entre eventos no presente e flashbacks com cada membro das Sete Armas, cada um deles um especialista em uma área de tecnologia. Todos desenvolveram suas próprias armas e implantes, e nos flashbacks vemos suas motivações para se tornarem vigilantes super humanos. Cada membro do grupo preenche um arquétipo das superequipes de heróis de quadrinhos, porém, de certa forma mais realistas, ou pelo menos com uma abordagem inédita com relação à fonte de seus poderes. Temos o músculo da equipe, a velocista, a voadora, entre outros. Ellis aborda mais uma vez o transhumanismo ao retratar a forma como os integrantes das Sete Armas modificam seus corpos para se tornarem mais do que humanos. Verão Negro nos apresenta uma história espetacular. Sangrenta, brutal e crítica, com muita porradaria, sangue, mutilações, explosões e violência desmedida até a última página. A arte hiperdetalhista de Juan Jose Ryp é fantástica e temos várias e várias splash pages de soldados sendo mortos, confrontos insanos, veículos destruídos.... essa é uma HQ que nem demora tanto tempo para ser lida do começo ao fim, mas que nos obriga o tempo todo a parar a leitura para observar os detalhes da arte. Se tivesse que fazer apenas uma ressalva, seria com relação a toda a ação e violência ofuscarem o questionamento moral que Ellis propõe no mote da história: a discussão em torno da validade moral do ato de John Horus é soterrada por todas as sequências de ação e violência subseqüentes, e o leitor que esperar um maior desenvolvimento da parte filosófica da trama, sinto muito, mas vai ficar levemente desapontado. Ainda assim, baixando as expectativas em relação a isso, é uma ótima história, divertida e com muitas idéias boas, para ser lida e relida, ou pelo menos para “ler as figuras” rs.
E lembra que eu disse que o Ellis fez uma trilogia? Também resenhamos "No Hero" e "Supergod".
Ah, e só pra não perder o costume: FORA TEMER!!! John Horus, me faz um favorzinho...?
Ah, e só pra não perder o costume: FORA TEMER!!! John Horus, me faz um favorzinho...?
"Captured Ghosts", documentário sobre a vida e obra de Ellis.
Agora o temer sai
ResponderExcluirhahahahaha quem deram fosse assim fácil rs
ResponderExcluirExcelente texto. Eu fui um dos tradutores e revisores que fizeram Black Summer quando saiu na Ndrangheta & DeckArte, e sempre considerei mais uma excelente do Warren, estando no meu top 10 dele (coisa que é difícil decidir).
ResponderExcluirSim heheheh um top 10 do Ellis é pedreira!
ResponderExcluirQue bom que você gostou do texto! Já tenho a resenha do "Supergod" pronta, mas antes preciso lançar a "no Hero", que nem comecei a escrever rs
Mas um dia teremos essa trilogia toda esmiuçada na Zona!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK TEMER É VICE DA DILMA. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK. O PT QUE COLOCOU ELE LÁ. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
ResponderExcluirPois é meu nobre, é rir pra não chorar KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Excluir