Por EDUARDO DE LA CRUZ
Hola, pendejos y pendejas!!!
Digam
a verdade: quantos aqui já embarcaram em uma bebedeira que durou o fim de
semana inteiro? Sabe como é, você decide ir tomar umas com o pessoal na sexta
feira depois do trabalho, dali encontra alguns conhecidos do nada, e aparece mais
uma festa ou reuniãozinha pra ir, daí você volta pra casa sábado pela manhã, só
querendo pôr o fígado pra descansar, mas recebe uma mensagem que te intima a ir
a um churrasco da irmã de um amigo, que vai começar à tarde, e sem hora pra
acabar. Domingo pela manhã, com uma ressaca descomunal, você segue o conselho
daquele seu tio bandalha e toma mais um porre, pra curar a ressaca.
Bem,
imagine um “fim de semana perdido” assim, mas nos moldes do Hellboy, a criação
máxima do artista Mike Mignola. Apenas substitua as festinhas por duelos em
ringues de lucha libre mexicanos e os bate papos e risadas por caçadas a
bruxas, vampiros, demônios e monstros em geral. Substitua também
o fim de semana por um período de 5 meses. Mantenha apenas as quantidades
prodigiosas de álcool consumidas e mantenha também as ressacas épicas. Isso é
“Hellboy no México”.
A
Mythos Books lança essa edição especial, que compila todas as histórias
passadas durante esses 5 meses no México, no ano de 1956, em que o Vermelhão
vai atender uma ocorrência sobrenatural, e acaba se envolvendo com três irmãos,
luchadores que, após uma epifania religiosa, se tornam caçadores de monstros.
Hellboy se junta aos irmãos, farreando à noite e caçando monstros de dia.
Acontece que após o desfecho trágico desta primeira história, Hellboy fica tão
abalado que se envolve em um estupor alcoólico que dura por meses, e é
exatamente aí que Mignola se diverte e conta as mais loucas histórias durante
esse “fim de semana perdido”, em
que Hellboy chega até mesmo a se casar (!?!?!).
Tudo
começou, como a própria criação do Hellboy, como uma grande diversão: o projeto
original previa apenas “Hellboy no México”, com arte de Richard Corben, mas Mignola se deu conta de que a
existência de uma época completamente esquecida na vida de seu personagem abria
uma janela para uma lacuna cronológica a ser preenchida. Assim, Mignola e
Corben poderiam reatar sua parceria mais uma vez. Porém, o que era pra ser um
repeteco da parceria com Corben se tornou um pequeno ciclo de histórias
ilustradas por outros magníficos artistas. A “Jornada Mexicana” de Hellboy, se
preferirem ;>).
Uma
das grandes diversões em se ler histórias de Hellboy é ver como Mignola brinca
com o folclore de vários países. Pelo fato de Hellboy trabalhar para o Bureau
de Pesquisa e Defesa Paranormal e realizar missões ao redor de todo o mundo,
geralmente vemos o cuidado de Mignola na transposição de mitos e lendas de
diferentes povos para as histórias do Vermelhão, que é o grande charme e
diversão das histórias do personagem. O autor já disse anteriormente que sempre
pesquisa o folclore dos países onde ele ambienta suas histórias, e essa é a
razão daquele peru (eu disse PERU!) diabólico na história “Hellboy no México”
rs:
“(...) Quanto ao tradicional mito do vampiro, minhas pesquisas me levaram a descobrir que ele também existe no folclore mexicano, tendo inclusive o poder muito bizarro de se transformar em um peru. Resolvi incluir esse detalhe no roteiro, porém, deixei avisado que Richard Corben teria toda a liberdade criativa para trocar o peru por algum animal mais funesto, talvez um abutre. Richard, no entanto, preferiu manter o mito mexicano, e ainda conseguiu a proeza de ilustrar um peru surpreendentemente funesto.”
Sem
mencionar, é claro, a cronologia amigável das HQs do Hellboy: Com exceção dos
últimos arcos - onde o personagem se envolve em uma guerra mística, morre e vai
parar no inferno - basta saber quem é o Hellboy, não exigindo toda uma bagagem
de décadas de histórias previamente lidas <coff, coff, MARVEL, coff, coff,
DC, coff, coff, coff...> para se divertir. Mignola ainda tem as manhas de
manter a leveza, em termos de carga cronológica, coisa que as editoras
grandonas esqueceram como fazer.
Ainda
no aspecto cultural, como amante de filmes B em geral, não pude deixar de sentir
o clima dos filmes do El Santo, Blue Demon, entre outros, das películas de
lutadores mascarados contra monstros, e também produções como “Alucarda”, de
Juan López Moctezuma, entre outros filmes de terror mexicanos produzidos entre
as décadas de 60 e 70. Mignola afirma nunca ter assistido a um filme desses
sequer. Imagino como teriam ficado essas histórias se ele os tivesse
assistido...
... o Lobisomem, Drácula (só dando uma passada rápida rs) ... |
... y las mujeres vampiro! |
“E acho que também é justo homenagear as películas “Classe B” mexicanas, nas quais heróis mascarados de luta livre enfrentam monstros – obras como “Mulheres Vampiro”. Nunca assisti realmente a nenhuma delas, mas certamente adoro o conceito.”
Santo vs. las mujeres Vampiro
Alucarda
The Robot vs. The Aztec Mummy
La Mujer Murcielago
Mike
Mignola, apesar de ser o criador do personagem, tem assumido cada vez menos a
arte das histórias, preferindo dar atenção total aos roteiros e delegando as
artes a outros desenhistas. Para nossa sorte, ele sempre soube escolher bem os
artistas cujo estilo “casam” com sua criação. “Hellboy no México” e “A Casa dos
Mortos-Vivos” (ambas publicadas em encadernados anteriores pela Mythos) são
desenhadas pelo monstro Richard Corben (ame-o ou odeie-o!); “A Múmia Asteca” é
a única história desenhada pelo próprio Mike Mignola; “O Casamento do Hellboy”
é desenhado por Mick McMahon (conhecido aqui no Brasil pela HQ “O Último Americano"); “O saqueador de Cadáveres” tem arte de Fábio Moon, e por fim “O
Saqueador de Cadáveres: A Revanche” é desenhada por Gabriel Bá. Um dream team.
“Hellboy” sempre teve o privilégio de ser representado por artistas magníficos.
“Hellboy
no México” é um encadernado em capa dura e com um belo detalhe em dourado no
logotipo do título, e traz, além das histórias mencionadas, um pequeno prefácio
de Mignola antes de cada história, onde ele discorre um pouco a respeito do
desenvolvimento daquela história específica. No final do encadernado, uma
sessão de esboços e estudos de personagens e um glossário, elucidando muitas
referências que surgem ao longo da leitura. Em minha opinião, um belo trabalho
que a Mythos faz pelo leitor nos encadernados de Hellboy que eles vêm publicando.
Mesmo que não seja exigido do leitor conhecer todas as histórias de Hellboy
anteriores, essas notas explicativas no final do volume tampam alguns buracos
aqui e ali sobre certos eventos e personagens mencionados por alto nas
histórias. Não conhecer esses eventos não prejudica a leitura do encadernado,
mas uma nota explicativa acaba com qualquer sensação de estar perdido, o que preserva
o máximo de divertimento durante a leitura das histórias.
Agora,
terminem seus burritos, ponham suas máscaras de luchador, dêem um beijo nas
señoritas, mas não se esqueçam de secar uma garrafa de tequila antes de subirem
no ringue!!!
Vámonos!!!!
AAAAAARRRIBAAAA!!!!!
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