Por EDUARDO CRUZ
O Pastor Cain, também conhecido como
“Missionário”, surgiu nas páginas da “Judge Dredd Megazine”, uma publicação que
conta histórias de personagens periféricos ambientadas neste universo do Juiz
Dredd, em 1993, até que em 1998 migrou para a revista 2000 A.D. Weekly. Uma
espécie de Texas Ranger, o Pastor prega a justiça e a palavra divinas
enquanto vagueia pela Terra Maldita, a grande área desolada fora das Mega Cidades
dos Juízes, colocando os descrentes na linha com uma bíblia e duas armas
enormes nos coldres. Assim como os Juízes, Pastor Cain mantém a lei e a
ordem entre os mutantes e os excluídos, mas de maneira, digamos, um tanto mais
rústica que nas Mega Cidades. O Reverendo tem uma característica bastante
peculiar: enxerga seu trabalho como uma missão que lhe foi designada pelo
próprio Deus todo poderoso, e entre facadas, bíblias explosivas e muitos, mas
muitos tiros, Cain sempre cita passagens bíblicas enquanto trabalha para
promover o encontro dos ímpios com o criador. Uma idiossincrasia que lembra
bastante o personagem principal de “Apenas um Peregrino”, criação de Garth
“Preacher-Hellblazer” Ennis. Ambos os personagens são bem semelhantes nesse
sentido, então se você gosta de um, certamente vai curtir o outro.
Esse volume de “Missionário: Lua de sangue”,
lançado pela Mythos Books aqui no começo desse ano, compila as primeiras
histórias do personagem, a maior parte delas desenhadas por um Frank Quitely
(Os Invisíveis, Novos X-Men, Batman & Robin, WE3, Watchmen por GrantMorrison ;>)) em início de carreira, mas já ostentando toda a perícia e
detalhismo que faz a fanboyzada babar ao redor do globo. Além de Quitely, nesse
volume temos artes de Garry Marshall, porém mais da metade do encadernado de
112 páginas é com a arte de Frank Quitely. Se você fez como eu, e comprou
porque 1) É leitor de Juiz Dredd e da 2000 A.D. em geral e 2) é entusiasta do
gênio Quitely, não vai se arrepender em nenhuma das circunstâncias. Para quem
leu pouca coisa de Juiz Dredd, mas conhece o básico, como o que são as
Mega-Cidades e a Terra maldita, também vai curtir a leitura sem a impressão de
ter caído de pára quedas no meio da história. Na verdade, assistir aos cinco
primeiros minutos do excelente Dredd (2012) já basta. Não, pelamordedeus, não o do Stallone......
Para quem não se sente desconfortável ou se
escandaliza quando o assunto é religião, “Missionário: Lua de Sangue” é
diversão garantida. A crítica às instituições cristãs, do jeitinho cheio de
humor negro e cinismo extremo que só os britânicos sabem fazer, mesclada à
violência gráfica, que é marca registrada das HQs do Juiz Dredd, ilustrada por
um dos grandes desenhistas de quadrinhos em atividade atualmente, com os
hilários e ultraviolentos sermões especiais do Reverendo Caim para levar à
frente sua missão contra o maligno, tudo isso embalado nos moldes de um grande
faroeste pós-apocalíptico. É o que você encontra nesse volume. Agora, se você é
cristão e não é a favor de armas de fogo e explosivos para espalhar a palavra
da salvação, pode continuar com o método tradicional de agressão cristã mesmo:
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