Por EDUARDO CRUZ
Alguns
de vocês podem até ficar perplectos,
mas o Juiz Dredd não é um herói (ou mesmo um anti-herói) por quem torcer.
Segundo o próprio criador do personagem, o roteirsta John Wagner, Dredd é uma
paródia a todo um estado de coisas que começava a se instalar no Reino Unido do
final dos anos 70, e que culminou no já notoriamente opressor e extremamente
conservador (alguns diriam retrógrado!) governo Thatcher, que chegou às raias
do fascismo, com atitudes que não deixam nada a dever a nenhuma distopia da
literatura, executando decisões geniais como a criminalização da
homossexualidade, o enfraquecimento dos sindicatos e privatização de patrimônio
público, entre outras políticas unilaterais. A arte, como um veículo
denunciador, contra-atacou mais ou menos na mesma época, e motivado pelos
mesmos fatores, além do Juiz Dredd, testemunhamos pelas mãos de Alan Moore a criação
de seu distópico “V de Vingança”.
Embora
Dredd e V, ambos em seus próprios universos, fossem estabelecidos em lados
diferentes da lei, a piada tinha o mesmo alvo: o governo em exercício na época
das publicações. O protagonista de “V de Vingança” tem seu antagonismo bem
definido logo nas primeiras páginas, mas John Wagner foi mais sofisticado ao
fazer a crítica de forma tão avessa e hiperbólica: Dredd representa o
autoritarismo acéfalo, o poder pelo poder. Quem entendeu a piada se diverte com as
aventuras do Juiz, que mantém a ordem em Mega-City 1 com pulso de ferro. Dredd
sempre cumpre a lei. Sempre. O que é diferente de afirmar que ele serve à
Justiça. Ambas, algumas vezes, caminham em direções opostas (principalmente na
vida real).
As histórias compiladas em “Juiz Dredd – Heavy Metal” têm como espinha dorsal aquele conceito pós-apocalíptico com o qual qualquer um (que tenha lido duas ou três HQs ou assistido ao filme do Dredd) já está familiarizado, todo o bê-á-bá dos juízes, as Mega-Cidades, a Terra Maldita, etc. Tudo, porém, muito mais comicamente violento e surreal. As histórias contidas nesse encadernado diferem do material regular do personagem porque não são histórias publicadas na 2000AD ou na Judge Dredd Megazine, e sim histórias que saíram na revista musical Rock Power. Com roteiros engraçados, imprevisíveis e brutais, além da pegada mais "metal" das histórias. Justificável, levando em conta a publicação em que as histórias eram veiculadas.
O
nível de violência dessas histórias é bem mais intenso e absurdo do que as
histórias "sérias" do Juiz Dredd. Pense naquele Looney Tunes clássico,
(Sim, aquele mesmo, que não é veiculado mais em lugar nenhum porque as pessoas
realmente acham que incitava as crianças à violência :>P) em que o Patolino
toma tiros de espingarda na cara à queima roupa, ou marteladas na cara do
Eufrasino, ou bigornas caindo na cabeça do Coiote, mas ao invés da plasticidade
cartunesca dos personagens, onde o tiro de espingarda deixava o rosto do
cartoon apenas com a cara cheia de fuligem ou uma marretada na cabeça dava
apenas aquele amassado no topo da cabeça, para no fotograma seguinte vermos os
personagens 100% restaurados novamente, em “Juiz Dredd – Heavy Metal” vemos os
efeitos de uma pancada de cassetete em efeito realista (eu diria
hiper-realista-gore, já que não raro globos oculares saltam das órbitas e
dentes caem às dezenas com uma porretada bem dada), ou um tiro que arranca
metade do rosto de um vagal. Ou sejE, é a violência dos Looney Tunes com as
conseqüências físicas da realidade + um roteirista sádico pra dar aquela
exagerada...
Nu,
cru, sangrento e ainda assim de chorar de rir com o ridículo das situações, em
plots impensáveis no título regular do personagem, como por exemplo “A Cartilha
de Mega-City”, que é um número musical (!?!?!?!) retratando a rotina de Dredd
no exercício do dever; “A Fuga das Galinhas”, que mostra uma ridícula (aliás, o
adjetivo mais usado para as histórias nesse volume rs) rixa entre moradores de conjuntos
habitacionais rivais; “Véspera de Natal” mostra que Dredd não alivia nem pro
lado do Bom Velhinho; “Bimba”, uma piração transdimensional passada em uma
floresta com bichinhos falantes e que termina em massacre, e “A Balada de Toad
MacFarlane”, onde vemos Dredd caçando um mutante em quem muita gente gostaria
de dar um beijinho, são apenas algumas das histórias do encadernado, que reúne
19 histórias curtas no total. O acabamento do encadernado é o mesmo que vem
sido dados aos volumes anteriores do personagem, em capa dura e papel couché.
No
que diz respeito à arte, esse volume conta com o detalhismo de Simon Bisley
para retratar os mais diversos tipos de lesões e tiros das mais diversas
gravidades, além de nomes consagrados no mercado britânico, como Colin MacNeil,
Dean Ormston e John Hicklenton. E fechando o volume, a arte lisérgica de
Brendan McCarthy, que, em minha opinião de merda, combinou ainda mais com o tom
dessas histórias do que o próprio Bisley e companhia!
Em primeira mão o resultado do crossover Juiz Dredd vs. Bamb..., digo, Bimba! |
Em
resumo, uma HQ divertida como um mix de Tarantino com Takashi Miike. E se
você se diverte com tiroteios, incinerações, banhos de sangue, queimaduras,
motosserras, macacos assassinos, defenestrações, vísceras expostas, mutilações
em geral e sapos mutantes com secreções alucinógenas na pele (acho que se você
chegou até esse trecho do texto, já gastou todos os “WTF!?” que podia e está
cansado demais pra soltar mais um rs), “Juiz Dredd – Heavy Metal” é uma leitura
mais leve na crítica social, porém mais anabolizada em suas situações de
violência estilizada. Para quem está atrás de uma leitura leve, - apesar da violência, por mais contraditório que possa soar - rápida e
divertida.
AGORA,
CHEGA DE VADIAGEM E SIGAM EM FRENTE, VAGAIS!!
CIRCULANDO, CIRCULANDO!!!!!
CIRCULANDO, CIRCULANDO!!!!!
NÃO
VOU AVISAR NOVAMENTE!!!
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