Por EDUARDO CRUZ
Todo
leitor, em alguma altura de sua vida acaba esbarrando em uma série literária,
ou várias. Não é de hoje que autores, vendo a proporção que suas histórias
tomam ao deitá-las no papel, resolvem dividir suas criações em mais de um
volume. Trilogias, quadrilogias, decalogias.... existem séries literárias de
todos os tamanhos possíveis, para todos os gostos possíveis. De Duna a Jogos Vorazes, de O Senhor
dos Anéis a Harry Potter, de Game of Thrones a Percy Jackson, de Divergente a
Cinqüenta Tons de Cinza.
E,
é claro, tem a saga Fundação.
Só pra vocês sentirem um pouco do peso dessa saga literária, Fundação ganhou o prêmio Hugo de melhor série de ficção científica e fantasia no ano de 1966. Então, sim, Fundação é incrivelmente relevante e incrivelmente BOM! E se vocês ainda não conhecem, façam um favor a si mesmos e leiam.
Escrita
por Isaac Asimov e publicada originalmente em 8 partes entre 1942 e 1950 na
revista Astounding Magazine, Fundação é inspirada no livro História do declínio e queda do Império Romano, de Edward Gibbon. A trama de Fundação
é ambientada em um futuro tão distante que a humanidade, consolidada através do
Império Galáctico, esqueceu suas raízes, e seu planeta de origem é um mistério perdido
no passado. O Império Galáctico é uma orgulhosa e opulenta instituição composta
de mais de um trilhão de seres humanos e espalhada por milhares de planetas em
uma teia burocrático-administrativa nunca antes vista. Entretanto, no planeta
sede do Império, Trantor, surge Hari Seldon, um matemático que desenvolveu uma
ciência conhecida como Psico-história.
Com
a Psico-história, um misto de matemática e sociologia, Seldon é capaz de prever
os movimentos futuros dos povos, e decreta que o Império Galáctico entrará em
colapso dali a 200 anos, jogando toda a humanidade em um período de barbárie,
uma Era das Trevas que não seria inferior a 10.000 anos! Afrontando o Império
com tal declaração, Seldon corre o risco de ser preso – ou pior ainda,
executado! – por traição. No entanto, Seldon, Além de demonstrar o problema,
ainda oferece uma solução: Uma enciclopédia (a Enciclopédia Galáctica do Guia
do Mochileiro das Galáxias? Tá estabelecida aí a conexão Isaac Asimov / Douglas Adams hehehehehehe)
compilando todo o conhecimento necessário para que a humanidade possa se
reerguer e restaurar sua antiga glória em no máximo mil anos.
Ainda afrontados com a audácia de Seldon em duvidar do poderio e infalibilidade imperiais, mas temerosos com o que uma possível execução faria nos ânimos da população, o Império opta por uma espécie de pena alternativa: que Seldon e sua equipe passem o restante de seus dias no ermo planeta Terminus, situado nos confins da galáxia, trabalhando em sua Fundação, compilando a tal enciclopédia. O Império ainda não está totalmente convencido quanto às previsões de Seldon, e ao bani-lo para realizar sua tarefa nos confins da galáxia, pensaram que isso bastaria para não mais precisarem se preocupar com o declínio do Império. No entanto, Seldon também já havia calculado essa possibilidade. Na verdade, percebemos que Seldon, com sua Psico-história estava muitos passos à frente de qualquer coisa que pudessem ter preparado para varrê-lo para baixo do tapete. E aí, meus amigos, nós vemos que a Saga (com “S” maiúsculo mesmo!) está só no início...
É
a partir daí que as coisas ficam bastante interessantes, porque apesar do forte
contexto Sci-Fi arraigado na trama, Fundação
se destaca muito mais como um livro de relações políticas e relações /
interações humanas. O contexto sociológico, de civilização à beira do colapso,
está mais atual do que nunca, e depois de entregue toda a premissa que já
descrevi acima, o que resta para sustentar Fundação
(sem trocadilho rs) são essas relações políticas, situações delicadas, frágeis
equilíbrios, alianças forjadas, inimizades declaradas, intrigas, rebeliões,
insurreições, traições... E o mais interessante de tudo, ainda nos primeiros livros:
as soluções de Hari Seldon para resolver vários impasses políticos decorrentes
dessa deterioração do Império Galáctico, muitas vezes solucionando as crises
anos depois de seu falecimento! Como ele faz isso? Ora, usando a Psico-história! Os detalhes? Bom,
vocês vão ter que ler para descobrir heheheh. O que prende o leitor são os
problemas e ameaças, previstas ou não, que surgem pelo caminho e como a
Fundação os resolve, com ou sem o auxílio de Seldon.
O
que faz de Fundação uma das sagas
literárias mais grandiosas já estruturadas por um autor é, acima de tudo, a
grandiosidade: Asimov cobre períodos imensos de tempo para contar essa
história, pulando algumas gerações de um capítulo para outro, ou até mesmo
retrocedendo alguns séculos, até as origens da Psico-história, com Hari Seldon
ainda vivo, isso tudo com apenas um objetivo: sempre acompanhar o real
protagonista da história: a civilização humana e sua continuidade, e sua
resiliência em afirmar e manter seu lugar no Universo.
Asimov
conseguiu, através de Fundação,
consolidar quase toda a sua obra em um único universo, dando uma aula de criação de universo
compartilhado aos estúdios de Hollywood. Mais do que os sete volumes da
saga Fundação, vemos indícios desse
universo consolidado em Pedra no Céu,
Eu, Robô e até mesmo na trilogia
robótica, formada por As cavernas de Aço,
O Sol Desvelado e Os Robôs da Alvorada. Inclusive, se
tiver coragem de selecionar o trecho em branco abaixo, aqui vai um spoiler para
vocês terem uma idéia de como tudo está bem amarrado no “Asimoverso”:
O robô-detetive R. Daneel Olivaw, co-protagonista da trilogia robótica aparece em Fundação e Terra, em um papel enorme, sendo ele nada menos que o responsável pelos rumos da humanidade, do Império Galáctico, de TUDO. O robô, com 20.000 anos de existência, tem dado uma mãozinha para a humanidade todo esse tempo, sempre fiel às 3 leis da robótica.
Não
disse que o bagulho era grandioso???
Descobrir
a ordem correta de leitura da saga Fundação
era algo bem complicado aqui no Brasil, até que a Aleph, editora com um
catálogo impressionante de obras de Ficção Científica (ou Ficção Especulativa,
se preferirem;>)) botou ordem na casa e publicou todos os sete volumes.
Qualquer que seja a ordem que se decida ler esses livros, a única
obrigatoriedade é ler os três primeiros livros:
Fundação (1951), Fundação e Império (1952) e Segunda Fundação (1953). Esses são fundamentais para contextualizar a história. A partir daí, pode-se partir para a leitura de Limites da Fundação (1981) e Fundação e Terra (1986), ou então seguir direto para Prelúdio à Fundação (1988) e Origens da Fundação (1993).
Fundação (1951), Fundação e Império (1952) e Segunda Fundação (1953). Esses são fundamentais para contextualizar a história. A partir daí, pode-se partir para a leitura de Limites da Fundação (1981) e Fundação e Terra (1986), ou então seguir direto para Prelúdio à Fundação (1988) e Origens da Fundação (1993).
Limites da Fundação (1981) e Fundação e Terra (1986) podem ser lidos logo após a trilogia original, pelo fato de esses dois livros formarem de um novo arco de história envolvendo a Fundação, e cronologicamente ambientados após a trilogia original, sem saltos temporais, e com apenas um protagonista, Golan Trevize, um conselheiro de Terminus. Os dois livros contém tudo que se espera de Asimov: cenários grandiosos, uma história complexa, personagens interessantes, reviravoltas na trama e muito mais do extenso universo de Fundação.
Já
Prelúdio à Fundação (1988) e Origens da Fundação (1993) formam juntos
um prelúdio da trilogia original, e focam em Hari Seldon e o desenvolvimento de
sua Psico-história. Ou sejE, você pode seguir por qualquer uma dessas ordens de
leitura, contanto que obrigatoriamente leia a trilogia Fundação (1951), Fundação e
Império (1952) e Segunda Fundação
(1953) antes de tudo. Obrigado. De nada ;>).
Sequência em cima, prelúdio embaixo. Escolha o seu caminho em fundação! |
Fundação é, sem dúvida, o trabalho mais ambicioso da carreira de Asimov, que foi bastante cuidadoso em fazer conexões com vários outros livros de sua extensa bibliografia. Uma história muito inteligente, bem engendrada e poderosa, onde nos damos conta que o que o ser humano criou de mais precioso, a prerrogativa de onde se originam as artes, as relações sociais, as leis e tudo mais que justifique nossa espécie é a Civilização.
Olá, só fazendo uma observação: apesar de eu e a maioria das pessoas lerem/terem o Senhor dos Anéis em 3 volumes ele foi planejado pra ser lançado em 1 volume só, o volume único, portanto ele não se aplica lá no começo do texto...
ResponderExcluirSim, nós sabemos, mas também tem o Silmarilion, o Hobbit, os Filhos de Húrin, Contos Inacabados... Quando me refiro ao Senhor dos Anéis como série, considere estes incluídos no Tolkienverso hehehehe. A idéia que eu queria passar no começo do texto era essa. Me desculpe se não fui claro o suficiente, mas é isso aí! Valeu pelo retorno! ;>)
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