quinta-feira, 27 de abril de 2017

A saga FUNDAÇÃO, de Isaac Asimov, ou "Star Wars, eu sou seu pai!"



Por EDUARDO CRUZ







Todo leitor, em alguma altura de sua vida acaba esbarrando em uma série literária, ou várias. Não é de hoje que autores, vendo a proporção que suas histórias tomam ao deitá-las no papel, resolvem dividir suas criações em mais de um volume. Trilogias, quadrilogias, decalogias.... existem séries literárias de todos os tamanhos possíveis, para todos os gostos possíveis. De Duna a Jogos Vorazes, de O Senhor dos Anéis a Harry Potter, de Game of Thrones a Percy Jackson, de Divergente a Cinqüenta Tons de Cinza.
E, é claro, tem a saga Fundação.



Só pra vocês sentirem um pouco do peso dessa saga literária, Fundação ganhou o prêmio Hugo de melhor série de ficção científica e fantasia no ano de 1966. Então, sim, Fundação é incrivelmente relevante e incrivelmente BOM! E se vocês ainda não conhecem, façam um favor a si mesmos e leiam.

Façam como o Senhor Fantástico!

Escrita por Isaac Asimov e publicada originalmente em 8 partes entre 1942 e 1950 na revista Astounding Magazine, Fundação é inspirada no livro História do declínio e queda do Império Romano, de Edward Gibbon. A trama de Fundação é ambientada em um futuro tão distante que a humanidade, consolidada através do Império Galáctico, esqueceu suas raízes, e seu planeta de origem é um mistério perdido no passado. O Império Galáctico é uma orgulhosa e opulenta instituição composta de mais de um trilhão de seres humanos e espalhada por milhares de planetas em uma teia burocrático-administrativa nunca antes vista. Entretanto, no planeta sede do Império, Trantor, surge Hari Seldon, um matemático que desenvolveu uma ciência conhecida como Psico-história.


Com a Psico-história, um misto de matemática e sociologia, Seldon é capaz de prever os movimentos futuros dos povos, e decreta que o Império Galáctico entrará em colapso dali a 200 anos, jogando toda a humanidade em um período de barbárie, uma Era das Trevas que não seria inferior a 10.000 anos! Afrontando o Império com tal declaração, Seldon corre o risco de ser preso – ou pior ainda, executado! – por traição. No entanto, Seldon, Além de demonstrar o problema, ainda oferece uma solução: Uma enciclopédia (a Enciclopédia Galáctica do Guia do Mochileiro das Galáxias? Tá estabelecida aí a conexão Isaac Asimov / Douglas Adams hehehehehehe) compilando todo o conhecimento necessário para que a humanidade possa se reerguer e restaurar sua antiga glória em no máximo mil anos.

Trantor, planeta sede do Império Galáctico

Ainda afrontados com a audácia de Seldon em duvidar do poderio e infalibilidade imperiais, mas temerosos com o que uma possível execução faria nos ânimos da população, o Império opta por uma espécie de pena alternativa: que Seldon e sua equipe passem o restante de seus dias no ermo planeta Terminus, situado nos confins da galáxia, trabalhando em sua Fundação, compilando a tal enciclopédia. O Império ainda não está totalmente convencido quanto às previsões de Seldon, e ao bani-lo para realizar sua tarefa nos confins da galáxia, pensaram que isso bastaria para não mais precisarem se preocupar com o declínio do Império. No entanto, Seldon também já havia calculado essa possibilidade. Na verdade, percebemos que Seldon, com sua Psico-história estava muitos passos à frente de qualquer coisa que pudessem ter preparado para varrê-lo para baixo do tapete. E aí, meus amigos, nós vemos que a Saga (com “S” maiúsculo mesmo!) está só no início...

Hari Seldon, criador da psico-história

É a partir daí que as coisas ficam bastante interessantes, porque apesar do forte contexto Sci-Fi arraigado na trama, Fundação se destaca muito mais como um livro de relações políticas e relações / interações humanas. O contexto sociológico, de civilização à beira do colapso, está mais atual do que nunca, e depois de entregue toda a premissa que já descrevi acima, o que resta para sustentar Fundação (sem trocadilho rs) são essas relações políticas, situações delicadas, frágeis equilíbrios, alianças forjadas, inimizades declaradas, intrigas, rebeliões, insurreições, traições... E o mais interessante de tudo, ainda nos primeiros livros: as soluções de Hari Seldon para resolver vários impasses políticos decorrentes dessa deterioração do Império Galáctico, muitas vezes solucionando as crises anos depois de seu falecimento! Como ele faz isso? Ora, usando a Psico-história! Os detalhes? Bom, vocês vão ter que ler para descobrir heheheh. O que prende o leitor são os problemas e ameaças, previstas ou não, que surgem pelo caminho e como a Fundação os resolve, com ou sem o auxílio de Seldon.



O que faz de Fundação uma das sagas literárias mais grandiosas já estruturadas por um autor é, acima de tudo, a grandiosidade: Asimov cobre períodos imensos de tempo para contar essa história, pulando algumas gerações de um capítulo para outro, ou até mesmo retrocedendo alguns séculos, até as origens da Psico-história, com Hari Seldon ainda vivo, isso tudo com apenas um objetivo: sempre acompanhar o real protagonista da história: a civilização humana e sua continuidade, e sua resiliência em afirmar e manter seu lugar no Universo. 

 
Asimov conseguiu, através de Fundação, consolidar quase toda a sua obra em um único universo, dando uma aula de criação de universo compartilhado aos estúdios de Hollywood. Mais do que os sete volumes da saga Fundação, vemos indícios desse universo consolidado em Pedra no Céu, Eu, Robô e até mesmo na trilogia robótica, formada por As cavernas de Aço, O Sol Desvelado e Os Robôs da Alvorada. Inclusive, se tiver coragem de selecionar o trecho em branco abaixo, aqui vai um spoiler para vocês terem uma idéia de como tudo está bem amarrado no “Asimoverso”:

O robô-detetive R. Daneel Olivaw, co-protagonista da trilogia robótica aparece em Fundação e Terra, em um papel enorme, sendo ele nada menos que o responsável pelos rumos da humanidade, do Império Galáctico, de TUDO. O robô, com 20.000 anos de existência, tem dado uma mãozinha para a humanidade todo esse tempo, sempre fiel às 3 leis da robótica.

Não disse que o bagulho era grandioso???






E COMO LER A SAGA DA FUNDAÇÃO???


Descobrir a ordem correta de leitura da saga Fundação era algo bem complicado aqui no Brasil, até que a Aleph, editora com um catálogo impressionante de obras de Ficção Científica (ou Ficção Especulativa, se preferirem;>)) botou ordem na casa e publicou todos os sete volumes. Qualquer que seja a ordem que se decida ler esses livros, a única obrigatoriedade é ler os três primeiros livros: 

Fundação (1951), Fundação e Império (1952) e Segunda Fundação (1953). Esses são fundamentais para contextualizar a história. A partir daí, pode-se partir para a leitura de Limites da Fundação (1981) e Fundação e Terra (1986), ou então seguir direto para Prelúdio à Fundação (1988) e Origens da Fundação (1993).

Essa é a trilogia original...

Limites da Fundação (1981) e Fundação e Terra (1986) podem ser lidos logo após a trilogia original, pelo fato de esses dois livros formarem de um novo arco de história envolvendo a Fundação, e cronologicamente ambientados após a trilogia original, sem saltos temporais, e com apenas um protagonista, Golan Trevize, um conselheiro de Terminus. Os dois livros contém tudo que se espera de Asimov: cenários grandiosos, uma história complexa, personagens interessantes, reviravoltas na trama e muito mais do extenso universo de Fundação.

... E mais quatro livros, escritos posteriormente, que formam a heptalogia (ou a Saga Fundação)

Prelúdio à Fundação (1988) e Origens da Fundação (1993) formam juntos um prelúdio da trilogia original, e focam em Hari Seldon e o desenvolvimento de sua Psico-história. Ou sejE, você pode seguir por qualquer uma dessas ordens de leitura, contanto que obrigatoriamente leia a trilogia Fundação (1951), Fundação e Império (1952) e Segunda Fundação (1953) antes de tudo. Obrigado. De nada ;>).

Sequência em cima, prelúdio embaixo. Escolha o seu caminho em fundação!

Na primeira vez em que li Fundação, tive uma impressão muito forte de que essa saga influenciou muita coisa que vi por aí, mas a ambientação espacial, o clima de intrigas e confrontos e sobretudo a semelhança dos nomes de muitos personagens (Hober Malow, Salvor Hardin, Bel Riose, Lathan Devers, Han Pritcher - HAN, MEU DEUS DO CÉU!!! HAN!!! -, Pelleas Anthor, Lorde Stettin...) com os de Star Wars faz com que seja fácil acreditar na possibilidade de que George Lucas, provavelmente influenciado por leituras de sua juventude (além de Fundação, uma pitada de Duna e Senhor dos Anéis, entre muitas outras influências na Space Opera de Lucas) para criar seu próprio universo cinematográfico. Foi uma impressão pessoal minha, e achei muito legal essa possibilidade de Fundação estar por aí, mais entranhado na cultura pop do que percebemos a princípio. Mais subsídios pra essa tretinha aqui, aqui e aqui ;>).

Fundação é, sem dúvida, o trabalho mais ambicioso da carreira de Asimov, que foi bastante cuidadoso em fazer conexões com vários outros livros de sua extensa bibliografia. Uma história muito inteligente, bem engendrada e poderosa, onde nos damos conta que o que o ser humano criou de mais precioso, a prerrogativa de onde se originam as artes, as relações sociais, as leis e tudo mais que justifique nossa espécie é a Civilização.

Vocês só se impressionam com GoT porque nunca leram Fundação rs...



2 comentários:

  1. Olá, só fazendo uma observação: apesar de eu e a maioria das pessoas lerem/terem o Senhor dos Anéis em 3 volumes ele foi planejado pra ser lançado em 1 volume só, o volume único, portanto ele não se aplica lá no começo do texto...

    ResponderExcluir
  2. Sim, nós sabemos, mas também tem o Silmarilion, o Hobbit, os Filhos de Húrin, Contos Inacabados... Quando me refiro ao Senhor dos Anéis como série, considere estes incluídos no Tolkienverso hehehehe. A idéia que eu queria passar no começo do texto era essa. Me desculpe se não fui claro o suficiente, mas é isso aí! Valeu pelo retorno! ;>)

    ResponderExcluir