Por RICARDO CAVALCANTI
Warren Ellis é um dos autores
preferidos do Zona Negativa. Ainda teremos muito para falar por aqui
sobre esse britânico com cara de poucos amigos. Já falamos aqui da trilogia composta por
Supergod, No Hero e Black Summer. Este último, por sinal, além de
dar uma boa apresentação de quem é Warren Ellis, foi um dos que
colocou o ZN na condição de “monitorados”. Mas é melhor não
tocarmos no assunto. “Eles” estão de olho.
Warren Ellis sensualizando pra você |
O último século foi bastante
conturbado. Grandes mudanças ocorreram e influenciaram todo o
planeta. Nações disputando domínio sobre as outras através de
seus exércitos; ideologias sendo disseminadas; radicalismo sendo
propagado, além de conflitos que tomaram proporções globais.
Durante a segunda guerra
mundial, o exército alemão mostrou todo o seu potencial de fogo.
Com uma forte estrutura criada para o combate, suas armas eram
admiradas pela sua eficiência (como toda a engenharia alemã é
admirada até hoje). Uma das armas mais perigosas desenvolvidas pelos
engenheiros do Führer foi o V2, um foguete com alto poder de
destruição e que, sendo lançado a partir da Alemanha, seria capaz
de atingir a Inglaterra. Posteriormente, acabou servindo muito como
base para os primeiros foguetes que levaram o homem ao espaço.
O pai da exploração espacial foi uma arma balística de destruição em massa. Seria cômico se não fosse loucura. E me refiro à vida real, não à HQ. |
Após o fim do conflito,
Estados Unidos e União Soviética disputavam todo o intelecto usado
na construção das “maravilhosas” armas de guerra alemã. Todo
aquele potencial era valioso demais para ser destruído. Os
engenheiros responsáveis foram extremamente úteis no pós-guerra
(pouco importa que tenham sido responsáveis por milhares de mortes,
né? Afinal de contas, eles eram disputados para criar mais armas que
poderiam causar ainda mais mortes). Todo o intelecto e a máquina de
guerra alemã serviram aos interesses de americanos e soviéticos
durante toda a guerra fria.
Em Ministério do Espaço,
Ellis usa todo esse cenário como pano de fundo para desenvolver uma
história que parte do ponto em que, a Inglaterra consegue sozinha,
tomar posse de todo intelecto dos responsáveis pela máquina de
guerra nazista, deixando os americanos e os russos para trás.
O que aconteceria se apenas um
país se apoderasse de todo aquele
intelecto, que criou todo arsenal de guerra alemão?
Jacko Dashwood se torna
o responsável pelo
sucesso de tal operação para
“captar” as mentes criativas dos engenheiros nazistas, sem que
houvesse a intervenção
de EUA ou URSS. Para dar continuidade aos seus planos, solicita
aprovação para aproveitar todo o potencial dos “melhores
construtores de mísseis do mundo” para desenvolver um projeto
grandioso: Colocar um satélite artificial na órbita da terra munido
de bombas atômicas que pudessem atingir qualquer alvo na terra. Esse
era apenas o início do que seria a grande
dominação do Reino
Unido sobre o resto do
mundo. No entanto, para
que tudo isso fosse possível, precisaria de recursos. O grande
mistério fica por conta da origem desses recursos. Um segredo que, a
todo tempo, volta para assombrar Dashwood.
A Inglaterra se transforma em
uma grande potência militar e tecnológica, abrindo caminho para a
exploração também do espaço, criando-se assim - além do
ministério do exército, da aeronáutica e da marinha - o Ministério
do Espaço. Os avanços tecnológicos alcançam também toda
a população, que acaba inserindo novas tecnologias em seu dia a
dia. A todo instante, somos apresentados visualmente ao quanto o
mundo evoluiu tecnologicamente, nos deixando maravilhados com aquela
realidade.
Todo isso graças ao
“visionário” Dashwood. Um cara arrogante, pretensioso e
ambicioso que, mesmo sendo responsável pelo engrandecimento do Reino
Unido e o surgimento do Ministério do Espaço, consegue ser odiado
por todos a sua volta.
A arte de Chris Weston é um
caso a parte. Weston
iniciou sua carreira desenhando o Juiz Dredd para
a 2000AD, tendo
trabalhado também para a Image, DC, Marvel, sendo ainda responsável
pela arte de The Filth, de Grant Morrison. Em Ministério do Espaço,
Weston tem seu excelente traço engrandecido pela colorista Laura
Martin que usa a mudança de tonalidade das cores para nos ambientar
entre as diferentes épocas, sem que fosse necessária uma legenda
para isso. Laura Martin - que se chamava Laura Depuy - já
mostrou o seu talento em Planetary/Authority (também do Ellis) e
Terra 2 da dupla Morrison/Quitely.
A história foi publicada
originalmente em três edições, que a Devir nos traz integral em
capa dura, papel de ótima qualidade (que valoriza bastante a arte) e
com o prefácio do “arroz de festa”, Mark Millar. O que podemos
dizer de "Ministério do Espaço" sem entregar algo de relevante, é
que acompanhamos uma história de ficção científica com uma boa
dose de suspense e que nos surpreende no final com um soco no
estômago na última página. Não tem como ser mais atual. Por mais
que acreditemos que estamos avançando de alguma forma, no fim da HQ
a pergunta que fica é: “Será que estamos realmente evoluindo?”.
Se olharmos a nossa volta, vamos perceber que, fora os jetpacks,
aquela realidade não está tão distante da nossa.
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