terça-feira, 2 de maio de 2017

MINISTÉRIO DO ESPAÇO, de Warren Ellis + Chris Weston + Laura Martin






Por RICARDO CAVALCANTI





Warren Ellis é um dos autores preferidos do Zona Negativa. Ainda teremos muito para falar por aqui sobre esse britânico com cara de poucos amigos. Já falamos aqui da trilogia composta por Supergod, No Hero e Black Summer. Este último, por sinal, além de dar uma boa apresentação de quem é Warren Ellis, foi um dos que colocou o ZN na condição de “monitorados”. Mas é melhor não tocarmos no assunto. “Eles” estão de olho
 
Warren Ellis sensualizando pra você

O último século foi bastante conturbado. Grandes mudanças ocorreram e influenciaram todo o planeta. Nações disputando domínio sobre as outras através de seus exércitos; ideologias sendo disseminadas; radicalismo sendo propagado, além de conflitos que tomaram proporções globais.

Durante a segunda guerra mundial, o exército alemão mostrou todo o seu potencial de fogo. Com uma forte estrutura criada para o combate, suas armas eram admiradas pela sua eficiência (como toda a engenharia alemã é admirada até hoje). Uma das armas mais perigosas desenvolvidas pelos engenheiros do Führer foi o V2, um foguete com alto poder de destruição e que, sendo lançado a partir da Alemanha, seria capaz de atingir a Inglaterra. Posteriormente, acabou servindo muito como base para os primeiros foguetes que levaram o homem ao espaço.

O pai da exploração espacial foi uma arma balística de destruição em massa.
Seria cômico se não fosse loucura. E me refiro à vida real, não à HQ.

Após o fim do conflito, Estados Unidos e União Soviética disputavam todo o intelecto usado na construção das “maravilhosas” armas de guerra alemã. Todo aquele potencial era valioso demais para ser destruído. Os engenheiros responsáveis foram extremamente úteis no pós-guerra (pouco importa que tenham sido responsáveis por milhares de mortes, né? Afinal de contas, eles eram disputados para criar mais armas que poderiam causar ainda mais mortes). Todo o intelecto e a máquina de guerra alemã serviram aos interesses de americanos e soviéticos durante toda a guerra fria.



Em Ministério do Espaço, Ellis usa todo esse cenário como pano de fundo para desenvolver uma história que parte do ponto em que, a Inglaterra consegue sozinha, tomar posse de todo intelecto dos responsáveis pela máquina de guerra nazista, deixando os americanos e os russos para trás.

O que aconteceria se apenas um país se apoderasse de todo aquele intelecto, que criou todo arsenal de guerra alemão? Jacko Dashwood se torna o responsável pelo sucesso de tal operação para “captar” as mentes criativas dos engenheiros nazistas, sem que houvesse a intervenção de EUA ou URSS. Para dar continuidade aos seus planos, solicita aprovação para aproveitar todo o potencial dos “melhores construtores de mísseis do mundo” para desenvolver um projeto grandioso: Colocar um satélite artificial na órbita da terra munido de bombas atômicas que pudessem atingir qualquer alvo na terra. Esse era apenas o início do que seria a grande dominação do Reino Unido sobre o resto do mundo. No entanto, para que tudo isso fosse possível, precisaria de recursos. O grande mistério fica por conta da origem desses recursos. Um segredo que, a todo tempo, volta para assombrar Dashwood.



A Inglaterra se transforma em uma grande potência militar e tecnológica, abrindo caminho para a exploração também do espaço, criando-se assim - além do ministério do exército, da aeronáutica e da marinha - o Ministério do Espaço. Os avanços tecnológicos alcançam também toda a população, que acaba inserindo novas tecnologias em seu dia a dia. A todo instante, somos apresentados visualmente ao quanto o mundo evoluiu tecnologicamente, nos deixando maravilhados com aquela realidade.

Todo isso graças ao “visionário” Dashwood. Um cara arrogante, pretensioso e ambicioso que, mesmo sendo responsável pelo engrandecimento do Reino Unido e o surgimento do Ministério do Espaço, consegue ser odiado por todos a sua volta.


A arte de Chris Weston é um caso a parte. Weston iniciou sua carreira desenhando o Juiz Dredd para a 2000AD, tendo trabalhado também para a Image, DC, Marvel, sendo ainda responsável pela arte de The Filth, de Grant Morrison. Em Ministério do Espaço, Weston tem seu excelente traço engrandecido pela colorista Laura Martin que usa a mudança de tonalidade das cores para nos ambientar entre as diferentes épocas, sem que fosse necessária uma legenda para isso. Laura Martin - que se chamava Laura Depuy - já mostrou o seu talento em Planetary/Authority (também do Ellis) e Terra 2 da dupla Morrison/Quitely.


A história foi publicada originalmente em três edições, que a Devir nos traz integral em capa dura, papel de ótima qualidade (que valoriza bastante a arte) e com o prefácio do “arroz de festa”, Mark Millar. O que podemos dizer de "Ministério do Espaço" sem entregar algo de relevante, é que acompanhamos uma história de ficção científica com uma boa dose de suspense e que nos surpreende no final com um soco no estômago na última página. Não tem como ser mais atual. Por mais que acreditemos que estamos avançando de alguma forma, no fim da HQ a pergunta que fica é: “Será que estamos realmente evoluindo?”. Se olharmos a nossa volta, vamos perceber que, fora os jetpacks, aquela realidade não está tão distante da nossa.

 

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