terça-feira, 15 de agosto de 2017

MEIA-NOITE >>>>>>> BATMAN, ou “Como o Batman gay da Wildstorm pode te ensinar a ser macho de verdade!”





Por EDUARDO CRUZ


Nesse exato momento estamos passando por uma época turbulenta no que diz respeito à produção de histórias em quadrinhos (mainstream), em que anda muito em voga a tal da representatividade. Nas HQs têm surgido vários personagens para representar segmentos da população antes ignorados, as tais “minorias” (alguém mais aí detesta esse rótulo? Geralmente as tais “minorias” são numericamente superiores a quem as rotula assim, não é mesmo? Mas nomear algo é ter poder sobre essa coisa, lembrem disso...), como personagens muçulmanos (Kamala Khan, a Miss Marvel, ou Simon Baz, mais um lanterna verde), ou versões femininas de personagens que eram masculinos há décadas, como as novas Thor(a) e a Homa de Ferro. Vocês também devem estar cientes do nó que isso tem dado na cabeça de muitos leitores mais conservadores (acomodados?), que não admitem uma sacudida no status quo dos gibizinhos que lêem, e vão em bando xingar na Internet. Uma mudança de etnia aqui, uma mudança de sexo ali, e a internet desaba! (de novo!).



Polêmicas desnecessariamente exageradas costumam acontecer também vez ou outra com personagens gays. Apesar de não serem novidade nas histórias em quadrinhos, vide o Estrela Polar na Marvel, ou o Extraño, da DC, eles sempre deixaram muito a desejar por geralmente caírem nos clichês ou serem escritos de forma muito superficial, a ponto de a orientação sexual não fazer nenhuma diferença em nada na história. Era sempre um dado mal utilizado, ignorado ou jogado desleixadamente na trama. Esse cenário mudou um pouco depois que Warren Ellis e Bryan Hitch criaram a dupla/casal Apolo e Meia-Noite. 


Claramente inspirados no Batman e no Superman, Apolo e Meia-Noite eram parceiros e integrantes do Stormwatch Black, uma espécie de time auxiliar de serviços sujos do Stormwatch, o supergrupo da Wildstorm, selo da DC comics sem relação com o universo DC, mas que posteriormente foi incorporado a ele. Antes da incorporação ao universo DC, o casal ainda fez parte do Authority, um grupo de meta humanos que fazia justiça sem rabo preso com política, e que teve nomes muito bons a cargo dos roteiros (Warren Ellis novamente, Mark Millar), até passar por outras mãos menos competentes e se tornar mais um gibi de super heróis sem relevância, entre tantos outros. Já incorporado ao universo DC, o personagem chegou a fazer uma parceria (profissional) com o ex Robin e Batman temporário, Dick Grayson (e não, não vou fazer piadas com o duplo sentido do nome Dick aquele viadinho rs).

Batman e Superm..., digo Meia-Noite e Apolo!

Logo, hoje em dia a DC tem (pelo menos!) dois Batmen: o Bruce Wayne que a gente conhece desde 1939 e o Meia-Noite. E não me levem a mal, o Batman é legal à beça, mas o Meia-Noite consegue ser ainda mais cool. 

Duvida? Por isso fiz esse texto, para elencar alguns dos melhores momentos desse personagem, que sem forçação de barra em termos de representatividade, diversidade e "lacração", conquista os leitores, seja qual for a sua orientação sexual heheheh.

Então vamos lá:

1 - ARMAMENTOS E EQUIPAMENTOS:

Diferente do Batman, com seus gadgets hi-tech para qualquer situação, Meia-Noite tem um pequeno arsenal embaixo daquele sobretudo - de preferência instrumentos que causem muita dor rs. Quanto mais medieval, melhor. Pra que sofisticação se o rústico pode ser muito mais divertido?

Aquilo é um mini grampeador??? UI!!!!

2 - CAPACIDADES FÍSICAS:

Diferente do Bátemã, com sua fisiologia humana comum, Meia-Noite tem um sistema imunológico modificado para sobreviver a ambientes hostis, além de velocidade, resistência e força superiores às de um humano comum. Bane não teria a menor chance. Ele é quem seria quebrado ao meio heheheh.




O Meia-Noite aguentando CONSCIENTE uma cirurgia de peito aberto e você aí, chorando com uma topada no dedão... SEJE HÔMI!!!!



3 - TÉCNICAS DE LUTA:

Batman, como até o seu sobrinho de 4 anos sabe, treinou, treinou e treinou, ao longo de anos, diversos estilos e técnicas de artes marciais. Já o Meia-Noite possui aprimoramentos físicos e implantes cerebrais que conseguem prever qualquer tipo de reação que o adversário venha a ter. E se for preciso, ainda luta sujo à beça...



Sambando na cara dazinimiga.



4 - FURTIVIDADE:

Vamos combinar que sem um arpéu ou bombas de fumaça para uma saída estratégica é muito mais difícil ser furtivo. Meia-Noite é furtivo sem nenhum desses brinquedos. Ponto.

Onde está Wally?


5 - TOLERÂNCIA COM ADVERSÁRIOS:

Ao contrário da Morcega, que sempre poupa seus inimigos para voltarem a aterrorizar o mundo, Meia-Noite é mau pra cacete (embora às vezes seus corações - sim, ele tem um coração de back-up rs - amoleçam de vez em quando, mas não fui eu quem contou isso!) e normalmente neutraliza as ameaças com força letal.


"Você provavelmente vai morrer de qualquer maneira, não é?"


"Eu não consigo passar por tantos nazistas assim sem fazer nada."

6 - FRASES DE EFEITO:

Em matéria de frases de efeito, Batman tem momentos memoráveis nesses quase 80 anos de cronologia, mas a tirada mais incisiva da Morcega não se compara ao estrago que Meia-Noite pode fazer apenas com palavras. O membro mais perigoso do Authority  adora soltar suas frases de efeito no melhor estilo de humor deadpan. E às vezes até vence confrontos apenas com diálogo! Certamente a arma mais afiada do Meia-Noite é a sua língua...










Jack Hawksmoor: "Sabe qual é o seu problema? você perdeu o contato com gente comum."
Meia-Noite: "Isso não é verdade. Eu nunca estive em contato com eles, pelo que sou grato toda vez que assisto televisão."





7 - VIDA CONJUGAL E PATERNIDADE:

Nesse quesito o Morcego perdeu feio! Todas essas décadas de vida conjugal atribulada, com a persona promíscua do playboy Bruce Wayne, mais a rotina rigorosa de combatente do crime de seu alter ego renderam muitas e muitas piadinhas maldosas quanto à sexualidade do personagem. Essa imagem tem, recentemente, mudado um pouco graças ao roteirista Tom King, que já colocou a Morcega pra pedir a Mulher Gato em casamento (finalmente desencalhou!). A maior vantagem do Meia-Noite é que ele não dá margem para esse tipo de gracejo maldoso. Essa é a condição do personagem e pronto! Vai encarar? Meia-Noite e Apolo são um casal, são muito bem resolvidos com isso e apesar da fachada rude e psicótica dele, o relacionamento dos dois funciona e vai muito bem, obrigado.





 
Outro ponto em que Batman não é tão bem sucedido quanto a sua contraparte é com relação à paternidade:  enquanto Batman se envolveu com a filha de um de seus maiores inimigos, gerando uma criança problemática e com rompantes de fúria psicótica frequentes, o casal Apolo/Meia-Noite tenta dar uma criação "normal" para sua filha adotiva, Jenny Quantum. Como diz o ditado, "Pai é quem cria".


Enfim, casca grossa, forte, pleno de convicções, com alguma profundidade e desprovido de muitos clichês, Meia-Noite é um personagem que representa a diversidade sem generalizações infantilóides. Em uma entrevista ao Comic Values Annual em 1999, Ellis se referiu ao personagem como "O Sombra, se fosse concebido por John Woo". 

Namore com alguém que olhe para você como o Meia-Noite olha para o Apolo: "NÃO É UM ALVO!"

Finalizando o assunto, e parafraseando o geógrafo Milton Santos: "Não alcançamos o patamar de humanidade. Estamos ainda nos ensaios.". O que demonstra isso com clareza é o fato de em pleno século XXI questões como identidade sexual e a (presumida) prevalência de um gênero sobre o outro ainda fazerem parte da pauta diária da sociedade, quando já deveríamos ter alcançado um nível de desenvolvimento suficiente para essa questão social estar consolidada como um status de igualdade em definitivo e assim focarmos em coisas bem mais importantes, tantas que nem vou começar a enumerar aqui! Ou pra voltar ao campo dos quadrinhos, cito Garth Ennis, que já escreveu antes em Preacher e em mais outras duas ou três histórias a mesma idéia recorrente, mas que vale a pena repetir: "Deveríamos estar nas estrelas agora, e não ainda chafurdando na poeira!"



O mundo mudou. A música mudou. Até as drogas mudaram. Por quê os gibis têm que continuar na mesma? O que eu propus aqui não é uma cagação de regra absoluta, é apenas uma opinião pessoal. Histórias em Quadrinhos, quando bem executadas, são reflexões embaladas em um pacote de arte e entretenimento. E, se toda obra de arte é fruto de seu tempo - e devemos aí incluir Histórias em Quadrinhos como obra de arte SIM -, essa mídia também precisa cumprir o seu papel em representar a realidade, mesmo que com generosas doses de fantasia, abstração e escapismo. O texto acima, apesar de um pouco de zoeira pra deixar tudo mais leve, evoca um pouco das minhas reflexões sobre o tema. Pensem nisso como um exercício de tolerância, e aproveitem para comentar lá embaixo ou em em nossa página do Facebook. Vamos ampliar esse debate. Mas de forma sadia e madura. Afinal, lembrem-se do que aconteceu ao Cabo Kev Hawkins, o último infeliz que chamou titio Meia-Noite e sua cara metade de "viadinhos"...



Respeito às diferenças sempre, amiguinhos... Vou ficando por aqui!!! Um beijo e até a próxima!!!!



5 comentários:

  1. Caralho, véio! Parabéns! Excelente texto em tudo: sobre o personagem, o que me fez querer ler as histórias (vou precisar daquela moral que só vc pode dar... hehehehe) e sobre essa gente escrota que inventa de cagar regra até na orien... na vida dos outros!

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    1. Muito obrigado! Um texto desse, com um assunto tão delicado, receber um elogio de você é lisonjeiro demais da conta! fico feliz por você ter gostado. O Authority, junto com o Planetary, que eu já te indiquei são as duas jóias de ouro da Wildstprm, a editora criada pelo Jim Lee no fim dos anos 90. A Wildstorm que vale são as edições de Stormwatch a partir do momento em que o Warren Ellis assume os roteiros, depois emenda no Authority, que são 29 edições. Isso, mais a Planetary, que pode ser lida avulsa, e tudo foi publicado aqui pela Panini! Depois, como qualquer outra HQ, tudo desandou e não achou um rumo até hoje rs. Mas é isso, achou o Meia-Noite legal? procure aí The Authority, das edições #1 a #29, primeiro escritas pelo Warren Ellis, e depois quem assume no meio é o Mark Millar, que também manda muito melhor do que anda mandando atualmente (ficou ricaço e perdeu a mão???). Abração!!!

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    2. Sobre aquela moral, acho que isso aqui resolve hehehehehe.....
      http://stitchomancy.tumblr.com/post/94958437883/the-authority-and-a-crap-ton-of-extras-a

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  2. Ganhei do meu namorado uma grande quantia das HQs authority. E eu devo confessar que só li porque causa deles dois...
    Aliás, parabéns pelo texto, muito bem escrito.

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    1. Eles são o melhor casal das HQ mainstream, cara, sem sombra de dúvida! Que bom que você gostou do texto! Obrigado!

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