Por EDUARDO CRUZ
Olá,
macacos da Terra! Viemos em paz para informar que a invasão foi concluída com
sucesso pela Mythos! A editora acaba de lançar o encadernado Choques
Alienígenas, que compila as séries D.
R. & Quinch, juntamente com Skizz,
encerrando a publicação dos trabalhos mais relevantes do início da carreira de
Moore para a revista 2000AD nos anos 80.
Mas
do que se tratam essas duas séries?
Bom,
no mercado britânico de HQs, é de praxe que roteiristas iniciantes entreguem
trabalhos curtos (afinal, que editor seria louco a ponto de comprometer espaço
em um título com uma série longeva feita por um roteirista/artista que ainda
não se provou apto ou experiente para segurar um título seqüencial por um tempo
prolongado ou indefinido???), e com Moore não foi diferente: após se tornar um
dos famigerados robôs-roteiristas da equipe da 2000AD, ele ficou por muito tempo a cargo dos Future Shocks, uma seção
que trazia histórias curtas dentro da revista, sempre com o foco na ficção científica, a alma da 2000AD. Deveria ser só aquela história curta (aliás, a primeira desse encadernado) mas a popularidade foi tão grande que ganharam uma série semi regular.
Após
várias histórias curtas divertidíssimas dentro dos Future Shocks (que inclusive, também já foi publicado completo no Brasil,
também pela Mythos, e que já resenhamos AQUI!), que tinham de 4 a 6 páginas, Moore já ansiava
por uma série um pouco mais longa, onde pudesse esticar seu fio narrativo ao
máximo e desenvolver melhor, tanto os personagens quanto as situações em que ele
os colocaria. Até que no ano de 1983 seu desejo foi atendido e a 2000AD deu início à publicação de duas
das três séries semi regulares que ele desenvolveu para a revista: D.R. & Quinch, Skizz – Contato Imediato - ambas em 1983. A terceira série é A Balada de Halo Jones, também já publicada
na íntegra pela Mythos.
D.R. & Quinch narra, com muito humor, as presepadas destruidoras de
dois adolescentes alienígenas, delinqüentes juvenis, Waldo "D. R." (um acrônimo para "Diminished Responsibility", ou "Deficiente de Responsabilidade", como foi traduzido aqui) Dobbs, um gênio do crime cheio dos esquemas, e seu parceiro de crimes, Ernest Errol Quinch, um brutamontes de pele rosada, que com seus atos de vandalismo ao longo do tempo e do espaço influenciaram a história na Terra das formas mais caóticas. As histórias lembram sketches de comédia, com episódios como D.R & Quinch em Hollywood, D.R. & Quinch no exército, e outras situações onde a dupla conduz os acontecimentos às raias do absurdo. A inspiração segundo Moore, veio de alguns dos filmes produzidos pela revista National Lampoon, como O. C. & Stiggs e O Clube dos Cafajestes.
O artista de D.R. & Quinch dispensa apresentações: a HQ é desenhada por Alan Davis, que também trabalhou em colaboração com Moore em Capitão Britânia e em Miracleman, antes de cortarem relações até hoje, por causa da guerra dos direitos no imbróglio Marvelman/Miracleman. Os últimos episódios de D.R. & Quinch têm roteiro de Jamie Delano e Alan Davis, e são uma seção de conselhos paraferrar com a vida dos leitores, mantendo a veia violenta, anárquica e cheia de humor negro de Moore.
O artista de D.R. & Quinch dispensa apresentações: a HQ é desenhada por Alan Davis, que também trabalhou em colaboração com Moore em Capitão Britânia e em Miracleman, antes de cortarem relações até hoje, por causa da guerra dos direitos no imbróglio Marvelman/Miracleman. Os últimos episódios de D.R. & Quinch têm roteiro de Jamie Delano e Alan Davis, e são uma seção de conselhos para
Já
Skizz – Contato Imediato, digamos que
é uma versão adulta de “E. T. – O Extraterrestre”, é a
história do intérprete Zhcchz, um alienígena que cai na Terra, mais precisamente em Birmingham. Sua
nave se auto-destrói para que não caia em mãos erradas, e agora, à deriva neste
planeta primitivo e perigoso, sua única esperança é a estudante Roxy e seus dois amigos, Loz e Cornelius, que auxiliam Roxy na empreitada para impedir Skizz de ser capturado pelo governo. Considerado pelo próprio Moore como um de seus trabalhos mais fracos, a série tem alguns pontos legais, como o momento em que Roxy é ridicularizada em sua escola após a história do contato alienígena, o que a torna uma alienígena em sua própria cidade. Também não tem como não se divertir com o personagem Cornelius Cardew, um técnico de tubulações que passou por um colapso nervoso após perder seu emprego (uma óbvia alusão de Moore à política austera de Margaret Thatcher na época) e tem rompantes de fúria cômicos ao longo da história.
O artista dessa série é Jim Baikie, que no começo da década de 2000 voltou a colaborar com Moore em seu selo America’s Best Comics desenhando o personagem First American.
O artista dessa série é Jim Baikie, que no começo da década de 2000 voltou a colaborar com Moore em seu selo America’s Best Comics desenhando o personagem First American.
Ambas
as séries evidenciavam um traço na narrativa de Moore cada vez mais raro nos
dias de hoje: o humor. E era um humor anárquico! D.R. & Quinch
tem esse humor em maior proporção do que Skizz, mas
ainda assim leituras mais leves do que o turbilhão que viria a seguir, em
histórias como A Piada Mortal, o run
em Monstro do Pântano e, é claro, Watchmen, que todo mundo leu e pouca
gente entendeu (inclusive o Zack Snyder rs), e que acabou se tornando involuntariamente a HQ precursora
de uma era de trevas e responsável por
uma safra quase infinita de heróis cínicos nos comics. Moore viria a recuperar
a leveza e o revisionismo juvenis somente quando criou seu selo de quadrinhos,
ressuscitando o nostálgico Americas’s Best Comics, que resgatava o espírito das histórias pulp com Tom Strong, homenageava Will Eisner e sua criação máxima, o Spirit, com o personagem Greyshirt, entre outras obras referenciais, mas isso é papo para outro post...
E
com mais esse encadernado, em capa dura e com 212 páginas, nos aproximamos dos catálogos das editoras gringas,
com a bibliografia desse importante artista cada vez mais completa por aqui, e quase tudo que Moore produziu na 2000AD traduzido para o português e em edições caprichadas. Apesar de Moore não gostar muito dessas duas séries, por achá-las simplórias demais, ou excessivamente violentas sem justificativa razoável, segundo ele próprio, tenho certeza que essa opinião não é partilhada pelos seus fãs, que sempre aguardam com apreensão cada novo trabalho do Bruxão de Northampton, seja ele material recente, como Providence, ou reedições como essas, que datam do início de sua carreira.
A invasão britânica certamente não começou aqui, mas este material é um registro de um pequeno ramo das suas origens, de alguns dentre vários talentos, que juntos capitanearam uma revolução nesta mídia, revolução essa que reverbera até os dias de hoje...
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