Por EDUARDO CRUZ
Quem
não estava escondido embaixo de uma pedra em uma caverna subterrânea ou
filosofando com o Dr. Manhattan na superfície de Marte provavelmente já sabe
que a Panini finalmente lançou nesse mês de maio a primeira terça parte de Providence,
uma mini série em 12 edições que saiu lá fora pela Avatar Press, e que aqui vai
sair em 3 encadernados. Ansiosos?
Podem apostar que eu sim! Pra quem não sabe, Providence é, ao mesmo tempo, prelúdio e continuação de Neonomicon, uma HQ onde Moore presta homenagem a toda a mitologia criada por esse escritor norte americano. E não é segredo nenhum que esse autor, que criou o subgênero de horror cósmico, Howard Phillips Lovecraft, é um de nossos grandes favoritos aqui na Zona Negativa!
Podem apostar que eu sim! Pra quem não sabe, Providence é, ao mesmo tempo, prelúdio e continuação de Neonomicon, uma HQ onde Moore presta homenagem a toda a mitologia criada por esse escritor norte americano. E não é segredo nenhum que esse autor, que criou o subgênero de horror cósmico, Howard Phillips Lovecraft, é um de nossos grandes favoritos aqui na Zona Negativa!
Em
Providence
acompanhamos a jornada de Robert Black, um repórter nova iorquino,
homossexual, que logicamente, devido às pressões da sociedade da época, é obrigado
a esconder sua condição, vivendo uma vida diferente sob a superfície. Robert
trabalha em um jornal, o New York Herald,
porém, sempre se sentiu compelido a escrever seu próprio grande romance, aquele
que iria captar e cristalizar com precisão a essência e a época de seu país e
seu povo, na América de 1919, às vésperas da Lei Seca e a poucos anos do Crash da Bolsa de Valores que assolaria a nação de um modo sem precedentes.
Em
busca de um artigo para seu jornal a respeito de um misterioso livro supostamente amaldiçoado, e ainda abalado com a morte repentina de um ex
amante, Robert acaba pondo o pé na estrada e pouco a pouco desbrava todo um
submundo de indivíduos à margem da sociedade que trocam informações e
conhecimentos sobre ciências ocultas, pessoas atípicas, excêntricos e freaks em
geral, e em alguns casos até mesmo indivíduos que não poderíamos classificar
exatamente como pessoas. Black, sem se dar conta, acaba empreendendo uma viagem
por toda uma América oculta sob a superfície, em uma analogia nada sutil ao próprio
universo encoberto a que o protagonista pertence, em uma época em que a palavra
“gay” significava apenas “alegre”. A grande diversão nessa homenagem de Moore
ao legado Lovecraftiano é acompanhar Black em busca de sua reportagem,
peregrinando pelas cidades onde Lovecraft ambientou muitas de suas grandes
histórias, se encontrando com os personagens chave dessas histórias, edição a
edição, em uma romaria profana, que sabe-se lá como vai ser concluída. Aí, é
ter paciência e torcer para que a Panini não demore muito a publicar o restante
da série <coff, coff, coff PROMETHEA coff, coff, coff, coff...>.
E
aí vem a pergunta: Dá pra ler Providence sem conhecer a obra de
H.P. Lovecraft? Olha, até dá, mas devo avisar que MUITAS referências legais vão
se perder, e com um trabalho assim fantástico, isso não é nada legal. Um
desperdício, eu diria. Por isso, fizemos uma pequena relação das histórias de
Lovecraft que o leitor teria que conhecer previamente para aproveitar ao máximo
a mini série de Moore. Reitero que isso não é obrigatório e Providence
ainda funciona como uma ótima história de mistério/terror por si só. Porém como
se trata de uma mini série que é essencialmente referencial, como A
Liga Extraordinária, outro grande título de Moore, muitos outros
significados e leituras se revelam ao leitor atento que investir só mais um
pouquinho de tempo pra ler alguma coisa do material de onde a HQ foi inspirada.
Não
fiz uma varredura ampla como aquele gringo maluco que destrinchou o “Dossiê Negro” da Liga Extraordinária TODO, por exemplo. Em cada edição de Providence
Moore passeia por um conto ou romance específico de Lovecraft, ou sejE, cada
conto de Lovecraft é a espinha dorsal de uma edição, com a mitologia geral
Lovecraftiana amarrando tudo. Claro que há muitas outras referências menores
entre os diálogos, e não apenas de H. P. Lovecraft, mas não vamos passar um
pente tão fino assim, amiguinhos. Nesse post vou indicar somente essas
histórias chave, e quem se interessar em se aprofundar mais que fique à
vontade. Os cata-piolhos que encontrarem alguma coisa que valha a menção e que
porventura eu não tenha citado aqui, por favor, sintam-se à vontade para comentar
lá embaixo!
Então
arrumem um canto sombrio pra se acomodar para a leitura, preparem sua coletânea
de contos de H. P. Lovecraft (Nesse link tem todos os contos citados no post) do lado do encadernado de Providence, entoem uma
pequena oração para Yog-Sothoth, acendam os incensos certos, tracem os símbolos
apropriados e vamos começar, ou sejam condenados para sempre...
PROVIDENCE #1
Na
primeira edição, ainda em Nova York, Black localiza e entra em contato com um certo
Dr. Alvarez, que lhe dá algumas pistas para seguir seu caminho. O conto “Vento
Frio”, escrito em 1926 e publicado em 1928 na revista Tales of Magic and Mystery, é a história
relacionada a este misterioso personagem, que no conto chama-se Dr. Muñoz, um
médico que, alegando sofrer de uma rara doença, precisa manter-se resfriado a
temperaturas muito baixas. No conto conheceremos um pouco mais do elusivo Dr. Muñoz
e como ele ludibriou a morte...
PROVIDENCE #2
Seguindo
a história, nessa edição vemos Black se relacionando com personagens como o
detetive de polícia Thomas Malone e o comerciante de textos ocultistas Robert Suydam,
ambos oriundos do conto “O Horror em Red Hook”, escrito em
1925 e publicado em 1927 na revista Weird Tales. Um mistério policial – onde
vemos a xenofobia de Lovecraft vir à tona: o escritor morou por um tempo em
Nova York e o grande volume de estrangeiros e imigrantes o incomodava –
envolvendo cultos obscuros, sacrifícios de crianças e criaturas estranhas escondidas
nos porões do bairro...
PROVIDENCE #3
Continuando
a jornada de Black, chegamos a um estranho vilarejo portuário que não consta
nos mapas, onde seus habitantes, bastante reservados, têm, em sua grande
maioria, feições que se assemelham a peixes, e até mesmo a sapos... e o que são
aqueles vultos nadando no mar a que Robert se refere como “focas”? Em “A
Sombra de Innsmouth”, história escrita em 1931 e publicada em 1936, conheceremos
mais detalhes a respeito deste desolado e malcheiroso vilarejo à beira mar, e
os segredos pavorosos escondidos por detrás das portas e janelas fechadas...
PROVIDENCE #4
Fechando
este primeiro encadernado nacional de Providence, Robert, no encalço das
pistas de sua investigação, conhece a família Whateley. A origem dos Whateley é
o conto “O Horror de Dunwich”, escrito em 1928 e publicado em 1929. A
bizarra família é composta pelo velho patriarca, sua filha albina, Lavinia (Na HQ
de Moore renomeada para “Leticia”), e seus dois filhos: Wilbur (na HQ é conhecido como Willard), um rapaz com
feições de bode e uma estranha avidez por conhecimento oculto, e seu irmão
gêmeo, que é invisível, e acreditem, talvez seja melhor não ver sua real
aparência. Algumas coisas não podem ser esquecidas depois de vistas...
BÔNUS:
Além
das óbvias referências e homenagens ao próprio Lovecraft, consegui pescar mais
algumas pequenas pérolas nessa primeira leitura de Providence, como uma menção
a outro mestre do suspense e horror na literatura: Edgar Allan Poe.
Também
há algumas menções ao Rei de Amarelo, livro de 1895, criação
de Robert Chambers, uma das influências do próprio Lovecraft como escritor. Quem
assistiu à primeira temporada de True Detective faz uma idéia do que vem a ser
essa obra de horror cósmico pré-Lovecraft.
Os apêndices entre as edições, com textos diversos relacionados à trama, como o diário do protagonista, ou um panfleto de igreja, ou um tratado de ocultismo ajudam a imergir o leitor ainda mais na história. Ou pelo menos deveriam: em Providence os apêndices podem ser um tanto cansativos em alguns momentos. Os conteúdos extras que Moore costuma produzir para suas histórias
Enfim,
isso é só um ponto de partida para vocês terem uma mínima idéia do que se passa
em Providence!
Nessas primeiras quatro edições do encadernado, Moore mal arranhou a superfície
do vasto cânone de Cthulhu e Cia, e estamos ansiosos por mais!
Quanto
mais você se dispuser a chafurdar na bibliografia de Lovecraft, e também de
seus colegas escritores, como Robert Bloch, Robert E. Howard, August Derleth e
outros, mais e mais referências serão captadas, porque acreditem, se Moore não
perdeu a mão, Providence está carregada
de referências em suas páginas! A partir daí é você quem decide se vai se
aventurar assim tão fundo nesses horrores inomináveis e blasfemos, ou se vai
ficar só boiando na superfície mesmo, onde é mais seguro... ou não?
P.S.: Para quem sabe inglês e quiser uma relação enorme das referências contidas na HQ, se aventure nesse site!
Obrigado pelo artigo! A minha edição chegou hoje, e vou procurar (re)ler todas essas histórias que foram mencionadas. <3
ResponderExcluirEu que agradeço a visita!
ExcluirExcelente artigo! Estou lendo uma coletânea de contos do Lovecraft antes de ler Providence e agora vai ficar mais fácil de identificar as referências... Valeu!
ResponderExcluirObrigado! Vai ficar mais fácil mesmo! Ler e sacar as referências é outro papo...
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